Formação

Vida no louvor da glória da Santíssima Trindade

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História
Nascida de cepa militar, Elisabete ou Isabel tem uma adolescência impetuosa e voluntariosa, com caráter de ferro diante do qual, todos têm de ceder. Chegará a “vencer-se por amor”, num progressivo abandono, humilde e generoso, a Jesus. Alma de artista, encontrou na música um meio para se elevar e elevar a Deus.
O diploma de pianista conseguido com mais de um prêmio no conservatório de Dijon, foi para ela um empenho novo de atenção às mais pequeninas vozes do Amor. Desde criança ansiara por ser uma artista de teatro, para que ao menos um coração ali palpitasse por Deus. O amadurecer da feliz adolescência abri-la-á sempre mais ao Senhor com graças maravilhosas de intimidade que tornam transparente o olhar puro para o encontro da fé com Aquele que ama e, ao mesmo tempo, a tornam irmã feliz dos pequeninos e dos pobres, disponível ao dom de si na Paróquia, especialmente na catequese, onde ela queria comunicar o desejo que já a abrasava, de fazer conhecer e amar a Jesus.
Já a partir de 1894, quando, fiel a um convite interior, tinha feito voto de virgindade perpétua, ela tinha sentido no fundo da sua consciência o chamado ao Carmelo, mas revelando à sua mãe, encontrou nela mais viva oposição. Só mais tarde, em 1899, a senhora Catez Rolland, viúva desde 1887, deu seu consentimento, mas com a cláusula claríssima de que Elisabete só poderia entrar no Mosteiro Teresiano da Rua Carnot de Dijon, com os 21 anos completos. Elisabete não se revoltou. Embora com o mais profundo sentimento, aceitou a decisão transformando a espera numa longa vigília de amor. Deu-se uma vida de oração mais intensa; procurou caminhar com mais fé na presença do Senhor, recolhendo se na “pequena cela da alma”.
Entrou no Carmelo de Dijon no dia 2 de agosto de 1991, tomando o Hábito no dia 8 de dezembro seguinte, Festa da Imaculada. A 11 de janeiro de 1903 fez os votos. Foi à consagração que Elisabete da Trindade viveu humildemente e silenciosamente, na mais simples e incolor vida comum. Nenhum ofício de relevo na sua breve vida religiosa toda projetada sobre a Trindade, amando e servindo a Deus com uma fidelidade extraordinária nas coisas mais pequenas e humildes. A vida monótona do mosteiro irradiava-se da comunhão com Deus na fé, uma experiência em que até as pequenas contrariedades, as provações interiores, os embates inevitáveis, se transformavam em momentos de alegria profunda.
Escrevia ela a uma grande amiga “A vida no Carmelo é uma comunhão com Deus de manhã a noite, da noite a manhã. Se não fosse Ele a encher as nossas celas e os nossos claustros, como tudo seria vazio! Mas nós descobrimo-Lo em tudo, porque O levamos conosco, e a nossa vida é um Céu antecipado.
No contato vital com a palavra de Deus, acima de tudo. Como a virgem Maria, seu ideal, Elisabete escuta, contempla, segue, vive a Palavra É uma enamorada da Sagrada Escritura, especialmente do Evangelho e de São Paulo.
Elisabete é, entre os grandes contemplativos, um dos que mais aprofundou a Palavra, “na escola do Espírito”: Na sua Elevação a Trindade escreveu: “Ó Verbo Eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a escutar-Te”.
Esta Palavra que é luz, força e vida, ajudou a realizar aquilo que a partir de 1904, se tornara o seu “nome novo” e sua “vocação”: “louvor de glória”.
Nos seus últimos instantes, quando a hora do martírio se agravava, murmurará a sua Priora: “Sou feliz por completar na minha carne o que falta a paixão de Cristo pelo seu Corpo que é a Igreja. Sim, sou feliz por ser associada à Obra da Redenção. O que sofro é como uma extensão da Paixão”. Ela repetirá nas horas de grande sofrimento físico: “Ó Amor, Amor… Tu sabes que Te amo; Tu sabes também quanto sofro. Mais trinta, quarenta anos ainda? Como queiras. Estou pronta. Consuma minha substância pela tua glória; que ela se destile, gota a gota, pela tua Igreja”.
Elisabete consumou seu martírio, a 09 de Novembro de 1906, festa da Dedicação da Basílica de Latrão, dia particularmente significativo para seu ingresso na Casa do Pai, já que seu nome significa Casa de Deus.
As últimas palavras que se puderam ouvir dos seus lábios, foram: “vou para a luz, para o amor, para a vida”.
E é desta região de luz, amor, vida, que Elisabete repete a mensagem transmitida, poucos dias antes de morrer: “Parece-me que no Céu a minha missão será atrair as almas, ajudando-as sair de si mesmas para aderir a Deus num movimento todo espontâneo e pleno de amor, e guardá-las naquele grande silencio interior que permite a Deus imprimir-Se nelas e transformá-las em Si”. Elisabete da Trindade repete a nós hoje o que consideramos o seu testamento espiritual, deixado a sua Priora, cerca de uma semana antes da morte: “Ao partir, deixo-vos em herança aquela vocação que foi a minha:Ser um Louvor de Glória a Santíssima Trindade”.

Elevação à Santíssima Trindade (21 de novembro de 1904)

Ó meu Deus, Trindade que adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente de mim mesma para fixar-me em vós, imóvel e pacífica, como se minha alma já estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar-me a paz nem me fazer sair de vós, ó meu Imutável, mas que em cada minuto eu me adentre mais na profundidade de vosso Mistério. Pacificai minha alma, fazei dela o vosso céu, vossa morada preferida e o lugar de vosso repouso. Que eu jamais vos deixe só, mas que aí esteja toda inteira, totalmente desperta em minha fé, toda em adoração, entregue inteiramente à vossa Ação criadora.

Ó meu Cristo amado, crucificado por amor; quisera ser uma esposa para vosso Coração, quisera cobrir-vos de glória, amar-vos… até morrer de amor! Sinto, porém, minha impotência e peço-vos revestir-me de vós mesmo, identificar a minha alma com todos os movimentos da vossa, submergir-me, invadir-me, substituir-vos a mim, para que minha vida seja uma verdadeira irradiação da vossa. Vinde a mim como Adorador, como Reparador e como Salvador. Ó Verbo eterno, Palavra de meu Deus, quero passar minha vida a escutar-vos, quero ser de uma docilidade absoluta para tudo aprender de vós. Depois, através de todas as noites, de todos os vazios, de todas as impotências, quero ter sempre os olhos fixos em vós e ficar sob vossa grande luz; ó meu astro Amado, fascinai-me a fim de que não me seja possível sair de vossa irradiação.

Ó Fogo devorador, Espírito de amor, “vinde a mim” para que se opere em minha alma como que uma encarnação do Verbo: que eu seja para ele uma humanidade de acréscimo na qual ele renove todo o seu Mistério. E vós, ó Pai, inclinai-vos sobre vossa pobre e pequena criatura, cobri-a com vossa sombra vendo nela só o Bem-Amado, no qual pusestes todas as vossas complacências.

Ó meu Três, meu Tudo, minha Beatitude, Solidão infinita, Imensidade onde me perco, entrego-me a vá qual uma presa. Sepultai-vos em mim para que eu me sepulte em vós, até que vá contemplar em vossa luz o abismo de vossas grandezas.

Beata Elizabeth da Trindade


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