Formação

Estamos nas mãos de Deus

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Entrevista com Dom José Luís Azcona Hermoso, OAR
Bispo Prelado de Marajó
Por Marcelo Correia Dourado

Fale um pouco sobre suas origens.
Filho de Martin Azcona e Esperança Hermoso, nasci no dia 28 de março de 1940, em Pamplona, Navarra (Espanha).

Como aconteceu seu chamado ao sacerdócio?
Aos sete anos de idade, como coroinha, sentia-me atraído pelas cerimônias eclesiásticas (Missas, procissões etc…). Esta experiência era misteriosa, forte e desconhecida. Além disso, a vida religiosa impregnava a vida social, civil, familiar, escolar e inclusive as sociedades organizadas (associações de camponeses). A guerra civil espanhola (1936-1939) e a Grande Guerra (1940) marcaram muito as famílias e principalmente minha vida.

Conte-nos um pouco da sua trajetória no seguimento da vocação.
Em 1950, aos 10 anos de idade, fui para o Seminário Menor na cidade de S. Sebastião (ESP). Uma vez por ano visitava os familiares. Vivia num regime severo de disciplina, estudo e oração.
Fiz a profissão simples em 1958 e a solene em 1961. Em 1964 terminei a formação teológica e fui para Roma, especializar-me e doutorar-me em teologia moral no Instituto Alfonsiano (Redentoristas).
Fui ordenado no dia 21 de dezembro de 1963, na catedral de São João de Latrão, por D. Giovanni Canestre, então arcebispo, cardeal de Gênova (Itália), durante o Concílio Vaticano II.
De 1966 a 1970, trabalhei na Alemanha como capelão de imigrantes espanhóis. Foi uma experiência rica e positiva, pois vivi uma realidade pastoral com a imigração de operários e com uma cultura avançada, focalizando a alta formação intelectual dos sacerdotes alemães e a piedade dos que viveram a guerra.
Trabalhei em alguns países, como Espanha, Alemanha e Colômbia até que no dia 01 de junho de 1985 cheguei ao Brasil. Dois anos depois fui nomeado Bispo por João Paulo II. A Sagração Episcopal se deu no dia 05 de abril de 1987, na Paróquia de São José de Queloz – Belém, por D. Alberto Gaudêncio Ramos e todos os Bispos da R.N. II. Minha tomada de posse em Soure, na Ilha de Marajó, aconteceu no dia 12 seguinte.

Partilhe conosco uma experiência que tenha marcado sua vida.
No retiro espiritual para sacerdotes pelos Dominicanos na ESPN, em 24 de abril de 1981, Deus abriu-me a mente, o entendimento para meus pecados e para toda a graça que Ele poderia e queria realizar em minha vida e em meu coração.
O que mais chamou-me a atenção e atraiu foi a experiência com a graça e a Misericórdia de Cristo; viver e compreender a redenção, a salvação do mundo por Cristo Jesus, a missão salvadora da Igreja, a vida eterna; associar a dimensão social à conversão, afinal uma completa a outra.

O que o senhor tem a dizer sobre as Comunidades Novas?
As Comunidades Novas devem ser enquadradas na profunda renovação da Igreja e do mundo que o Espírito Santo está realizando, pois, pelo Espírito e pelas Novas Comunidades, os sinais da fé cristã e da vivência do Evangelho são mais evidentes. Através das Comunidades Novas, o povo de Deus tem de detectar a presença do Reino bem atual e presente; Deus deve ser glorificado, e elas – as Comunidades Novas – devem ser estimuladas, ajudadas a se integrarem na Comunidade Eclesial e no serviço no mundo. A Igreja particular vai ter de acreditar e estruturar melhor também o relacionamento com elas.
Vale ainda convocar as Comunidades Novas à vivência concreta da espiritualidade, da identidade carismática e à inserção eclesial com suas características próprias nas características da Igreja.
Cabe também um alerta para que as Comunidades Novas não caiam no elitismo por não terem a identidade de uma evangelização libertadora. Que se faça uma opção, a exemplo de Jesus, pelos pobres e doentes. Compreendam abertamente as outras realizações espirituais e eclesiais suscitadas pelo Espírito Santo. Não vivam da improvisação, mas tenham uma aceleração sistemática para que não falte uma formação consistente. Que domine amplamente o otimismo, como reflexo do dom de Deus e da presença do Reino na Igreja.

Como o senhor vê o testemunho de vida de João Paulo II?
Ele é a abertura missionária do novo Pentecostes para a pregação do Evangelho a todas as nações. Doutor e mestre não só da Igreja, mas do mundo inteiro. Em todas as nações – e para elas – é um oráculo. Ele evangelizou as comunicações e aproximou diretamente todas as pessoas (movimentos filosóficos, culturais, sociais) como o perfeito e valioso interlocutor. Teve a capacidade de dirigir os destinos da Igreja no pós-Concílio Vaticano II, após o governo de Paulo VI, em questões de pontificado e do próprio Concílio. Fez excelente abordagem da família como célula da vida e da sociedade; celebrou os sínodos; elaborou e aprovou o Código de Direito Canônico; não tem uma metafísica débil, sem definições, mas é convicto e consistente.

Que leituras o senhor sugere aos nossos internautas?
As Encíclicas Redemptoris Homini; Redemptoris Missio; Fides et Ratio, verdadeiro diálogo com a cultura moderna, é necessário para a Igreja abrir-se para a metafísica e as novas tendências; Sollicitudo Rei Sociali, aborda as causas teológicas diante de questões sócio-econômicas apontando a salvação do homem do pecado que gera tais conflitos.

Que mensagem o senhor deixaria, como um rhema aos nosso internautas?
“Estamos nas mãos de Deus… O amor é mais forte que a morte” (João Paulo II).

Comundade Católica Shalom


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