“Usai o dinheiro injusto para fazer amigos”. Assim nos diz o Senhor Jesus no evangelho deste domingo. Após ter contado a parábola do administrador, que roubou do patrão para cativar a simpatia dos devedores favorecendo-os, Jesus diz que o dono elogiou o ladrão. Simplesmente porque foi esperto: conseguiu o favor dos devedores à custa do dinheiro do chefe.
Hoje, com mensalões, propinas, “oncinhas” e demais gorjetas, tudo isso tornou-se a coisa mais costumeira do mundo. Há uma sede desenfreada de ganhar algo “por fora”, tudo em nome da “amizade”, claro. Parece que todos querem seguir à risca o conselho de Jesus.
Não era bem isso o que Ele queria nos ensinar. Jesus não fala de favores ou de corrupção. Basta ler um pouco mais a página do evangelho para entender quem são os amigos a ser conquistados com o dinheiro injusto. Não são os nossos pares e colegas, muito menos os mestres da maquiagem das contas. Os amigos que precisamos conquistar, agora, são aqueles que nos receberão quando o dinheiro acabar, quando não tiver mais valor.
Também não pensemos que o dinheiro desaparecerá só no outro mundo, onde ninguém conseguiu levá-lo até hoje. Pode acabar, já, nesta vida. Acabou para o filho pródigo da parábola de domingo passado, porque esbanjou os bens. Pode acabar para todos, numa reviravolta da sorte, da saúde, dos mercados financeiros ou das situações da vida.
Nestas condições, de contas “zero”, iguais para todos, aparecerão os que ajudamos e soubemos conquistar a amizade com o dinheiro que tivemos, com a responsabilidade de administrar deste mundo. Quem serão estes “amigos”?
Os pobres. Eles nunca puderam nos devolver nada, nem dinheiro e nem favores, porque não tinham nada na vida. Puderam somente agradecer.
Convém lembrar que a amizade comprada com o dinheiro é falsa. É só de fachada, é interesseira. Sem dinheiro, ela desaparece também. O dinheiro injusto pode “fazer” amigos verdadeiros se for um gesto de autêntica generosidade, de gratuidade e de amor. Nos outros casos é negócio, trambique, unidade de quadrilha, amizade de cúmplices, acordo de cúpula.
Quando não tiver mais dinheiro, quando não existir mais nada para dar em troca da amizade, restaremos só nós mesmos, com a nossa pobreza material, mas também com a grandeza do nosso coração, o nosso tesouro de amor. Isso acontecerá se tivermos aprendido a amar sem interesse, sem querer tirar vantagem. Se tivermos aprendido a usar do dinheiro para fazer o bem e não o mal. O bem de todos, não somente de alguns privilegiados, os chamados de “amigos”. Principalmente o bem dos pobres para libertá-los da sua condição de sofrimento, para devolver-lhes a dignidade pisada e os direitos silenciados. Talvez para devolver-lhes, ao menos, uma parte do que era deles também.
Não existe outro caminho para revirar o mundo da esperteza e da disputa humana a não ser o caminho da gratuidade, o gesto de doar pela alegria de ver o outro feliz.
Nenhum dinheiro pode “comprar” o amor, somente pode nos ajudar a aprender a ser generosos, como o nosso Pai do céu. Ele é o dono, nós, apenas os administradores. Ele nos deixa administrar as riquezas para fazer o bem. Disso teremos que prestar conta um dia. Como e a quem o fizemos. Se o fizemos, claro.
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá