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carismática:Renovação carismática – Parte III

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A vida de oração daqueles que recebem o batismo no Espírito muda de maneira substancial. O dom da piedade se manifesta de uma maneira concreta, dando grande ânimo para buscar e desfrutar das coisas de Deus. Um novo e experiencial relacionamento com Deus que é Pai “Abba! Papai” (Gl 6,11-19) e com Jesus, a quem proclamamos Senhor! (I Cor 12,3). A própria oração particular ou pública tomam novo sentido, pois se toma consciência espiritual de com quem se fala, de que se é ouvido, e de que se pode ouví-Lo no Espírito Santo. Uma nova linguagem de oração, perfeitamente embasada na linguagem bíblica dos salmos e neotestamentária, surge com espontaneidade: é o louvor e ação de graças, que substitui a oração centrada em si, para centrá-la em Deus. A disposição decidida de caminhar em uma vida espiritual e de enfrentar os desafios próprios dela (como a aridez e as purificações), através da sede de conhecer estas vias por meio da vida espiritual da Igreja e dos Santos. Os dons de adoração, louvor e oração aprofundam a dimensão contemplativa da fé cristã.

Gera um carismático impulso

O batismo no Espírito inicia os que o recebem em uma experiência de comunidade cristã que transcende tudo que já conheciam. Além disso, a investidura carismática em comunidade dá à Igreja, em todo o mundo, grande número de evangelistas dedicados e eficientes, com uma multiplicidade de novos meios e novos ministérios. Nota-se no meio destas comunidades um urgente desejo missionário de cumprir o mandato de Jesus e ir e evangelizar com poder e sinais (Mc 16,16), além do grande número daqueles que, a partir do Batismo no Espírito, se sentem chamados a viver e servir na Igreja como sacerdotes e religiosos, dando novo alento no campo das vocações.

A graça do Batismo no Espírito é crescente e renovável

O dom do Espírito Santo que é o infinito amor de Deus (Rm 5,5) nunca pode ser possuído por completo e, por essa razão deve ser buscado repetidas vezes através da oração (At 4,23-31). Muitas vezes precisa ser reanimado ou reacendido (II Tm 1,6-7) em especial para aqueles que foram batizados na infância. Entretanto, também para aqueles que já tiveram experiência do Batismo no Espírito Santo, devem sempre estar renovando esta graça, que é sem medidas para o crescimento na vida e no poder do Espírito, na caminhada de santidade e de vida apostólica eficaz.

O Batismo no Espírito Santo é uma herança cristã, para toda a Igreja

O Batismo no Espírito Santo, não é uma graça de propriedade da RCC, pois cremos, tanto pela experiência pastoral como pelos constantes estudos de reflexão teológica, que esta graça destina-se a toda a Igreja.

“O batismo no Espírito Santo não se prende a nenhum movimento, quer liberal, quer conservador. Também não se identifica com um único movimento, culto, ou comunidade. Ao contrário, acreditamos que este dom do batismo no Espírito Santo faz parte da herança cristã de todos os que receberam os sacramentos da Igreja.” (Kilian McDonnell e George Montague)

O batismo no Espírito Santo na Igreja Primitiva pós-bíblica

Após sérios estudos de Patrística por parte de Teólogos especialistas no tema, se chegou a conclusão que o Batismo no Espírito Santo era, na Igreja primitiva, sinônimo de iniciação cristã. Entre os Padres da Igreja que fazem tais afirmações encontramos: Justino Mártir, Orígenes, Dídimo o Cego, Cirilo de Jerusalém, Tertuliano, Hilário de Poiters, João Crisóstomo, João de Apaméia, Filoxeno de Mabugo, Severo de Antioquia e José Hazaia. Estes homens, arautos da Igreja Primitiva pós-bíblica, deixam-nos escritos onde consideram claramente o recebimento dos carismas como parte integrante da iniciação cristã.

Estes depoimentos trazem uma validade mais decisiva, quando consideramos que Hilário, Cirilo e João Crisóstomo receberam o título de doutores da Igreja e seu testemunho é competente para identificar a vida e a fé da Igreja. “Seu testemunho demonstra que o Batismo no Espírito Santo não é uma questão de devoção particular, mas da liturgia oficial e da vida pública da Igreja. Historicamente, o Batismo no Espírito Santo integra os sacramentos de iniciação, essenciais à Igreja, a saber: Batismo, Confirmação e Eucaristia. Neste sentido, o Batismo no Espírito Santo é normativo.”

Tendo consciência de que o batismo no Espírito Santo não é propriedade da RCC, e sim da Igreja, não podemos negar a nossa missão (como RCC) no interior da Igreja de vivencia-lo, divulgá-lo e transmitir-Lo para que o maior número de fiéis, possam, através do nosso apostolado, desfrutar desta grande graça de Deus. Seria uma traição aos propósitos divinos nos omitirmos de enriquecer a Igreja daquilo que lhe é próprio e que talvez contigências históricas e pastorais relegaram a um segundo plano, ou até ao desconhecimento.

Carismas

É o próprio Jesus, quando é ungido pelo Espírito Santo e inicia sua vida apostólica (Lc 3,21-22 e Lc 4,18-19 ), que faz uso dos carismas do Espírito Santo que na unidade da Trindade opera com Ele prodígios e sinais que são concretização do Reino de Deus. Ele cura os cegos (Mt 9,27-31), faz os paralíticos andarem, ressuscita os mortos (Lc 7,11-17), liberta os oprimidos do demônio (Lc 8,26-39), cura todo o tipo de enfermidades (Mt 4, 23-25) e proclama a Palavra de Deus com autoridade, admirando-se d´Ele os que o ouviam (Mc 1,22).

É Ele quem promete aos seus discípulos que aquele que nele crê fará as obras que Ele faz e ainda maiores do que elas (Jo 14,12). Ele dá a Igreja a sua grande missão e lhe promete os sinais (cura, línguas e prodígios) que confirmarão a sua pregação e a sua presença no meio dela (Mc 16,15-18).

A partir da realidade da Igreja Primitiva neo-testamentária e da Igreja Primitiva Pós-Apóstolos, como vimos nos itens anteriores, é irrefutável a presença e a necessidade dos carismas do Espírito Santo dentro da Igreja. Como fruto de uma efusão do Espírito, eles são colocados para o serviço da Igreja, já que seu significado consiste em serem dons gratuitos concedidos pelo Espírito para a edificação da Igreja.

Quando S. Paulo escreve aos coríntios sobre o reto uso dos carismas, em nehuma hipótese censura o uso dos dons. Pelo contrário, ele os reafirma: “A propósito dos dons espirituais, irmãos não quero que estejais na ignorância” (I Cor 12,1). O Apóstolo deseja que usem os dons e em abundância! (I Cor 14,12) apenas pede a devida ordem no culto, como é apropriado para com as coisas de Deus. Em nenhum momento proíbe o dom de línguas, apenas orienta o seu uso; incentiva o fiel a pedir o carisma da profecia (I Cor 14,1) e ele, que dá graças a Deus que fala em línguas mais que todos (I Cor 14,18), ainda diz: “não impeçais que alguém fale em línguas. Mas tudo se faça em decoro e com ordem.” (I Cor 14,39-40)

Quanto a questão do capítulo 13 (caridade) entre 12 e 14, na primeira carta aos Coríntios, o apostolo deseja relembrar aos coríntios que os carismas são uma manifestação do amor de Deus e só podem ser usados por amor e pelo amor. Pois os carismas como todas as outras realidades cristãs, devem estar ordenados no amor. Sem a caridade (amor de Deus que invade o coração do homem e trasborda para todos os homens), os carismas não terão sua utilidade, como meio de construção da Santidade de Cristo na Igreja. Ao mesmo tempo revela que o seu uso não está restrito a um grupo de perfeitos. Seu uso está ao alcance de todo fiel comum que, inclusive necessita de orientação sobre como usá-los dentro da caridade e da ordem, como aconteceu em Corinto. Ou seja, os carismas não são reservados para as pessoas em elevado grau de santidade, mas instrumentos, ferramentas eficazes que o espírito dá à Igreja através de cristãos comuns para libertar, curar, transformar os homens para que – sem temor, libertos da mão dos nossos inimigos – nós sirvamos a Deus com santidade e justiça, em sua presença, todos os dias (Lc 1, 74-75).

Carismas e Magistério

Será baseado no Concílio Vaticano II, fundamento deste Novo Pentecostes na Igreja, e pródigo na doutrina a respeito dos carismas do Espírito Santo, que começaremos a citar os pontos e que nos interessam mais diretamente, apesar de nos penalizar citar alguns em deferência de outros:
“Não é apenas através dos sacramentos e dos ministérios que o Espírito Santo santifica e conduz o Povo de Deus e o orna de virtudes, mas, repartindo seus dons ‘a cada um como lhe apraz (1 Cor 12,11), distribui entre os fiéis de qualquer classe mesmo graças especiais. Por elas os torna aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios, que contribuem para renovação e maior incremento da Igreja, segundo estas palavras ‘A cada um é dada a manifestação do Espírito para a utilidade comum’ (1 Cor 12,7). Estes carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois que são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja. Os dons extraordinários todavia, não devem ser temerariamente pedidos, nem deles devem, presunçosamente, ser esperados frutos de obras apostólicas. O juízo sobre sua autenticidade e seu ordenado exercício compete aos que governam a Igreja. A eles em especial cabe não extinguir o Espírito, mas provar e ficar com o que é bom (1, Tess 5,12 e 19,21).” (LG33) (7)

É interessante notar alguns pontos desta magnífica página:
Os carismas derramados pelo Espírito sobre a Igreja, em fiéis de qualquer classe (não só OS religiosos, mas aos leigos também; não só aos místicos e santos, mas aos que lutam no dia-a-dia com suas limitações e fragilidades) são instrumentos com que Cristo torna os fiéis aptos para contribuir para o apostolado e renovação da Igreja. Os carismas devem ser recebidos com gratidão e consolação. Não como um problema, ou com rejeição, nem tratados com desconfiança, como se fora melhor não os termos, pois eles acarretam aumento da necessidade do trabalho pastoral e cuidado das almas. Eles não podem ser desprezados porque são de Deus (e as coisas de Deus não podem ser desprezadas) e necessários à Igreja.

“Os carismas são instrumentos com que Cristo torna os fiéis aptos para contribuir para o apostolado e renovação da Igreja.”

Diz-nos o documento que os dons extraordinários não devem ser pedidos temerariamente. Para muitos, de maneira errónea, isto significa nunca pedi-los. Ora, devemos sim pedir OS dons como o faz 5. Paulo (1 Cor 14,1), mas no temor de Deus, isto é, não buscando a glória humana para aquele que pede, ou o seu proveito pessoal, mas para a glória de Deus, o serviço aos irmãos e o bem da Igreja. Assim fizeram 05 Apóstolos quando unanimemente, no temor do Senhor, suplicaram a Deus que se multiplicassem as curas, sinais e prodígios para o seu apostolado em Jerusalém, diante da hostilidade dos que OS perseguiam (At 4,30). Assim pediu João XXIII na convocação do Concílio Vaticano II: ‘Renova em nossos dias os prodígios como um novo Pentecostes…

O juízo dos dons cabe às autoridades da hierarquia da Igreja (os pastores), que têm o dever de discernir com o devido cuidado que se deve às coisas de Deus, para que não se extinga o Espírito e se fique com o que é bom. Lembrando da grave responsabilidade que lhes compete, os pastores devem, de bom proposito, procurar conhecer mais a fundo a RCC, suas inspirações e vivências, não de uma maneira te6rica, mas também experimental como nos fala o Papa João Paulo II: ” O sacerdote , por sua parte, não pode levar a cabo seu serviço em favor da Renovação enquanto não adotar uma atitude de acolhida diante da mesma, baseada no desejo de crescer nos dons do Espírito Santo, desejo que compartilha com todo cristão pelo fato. de seu batismo.” (8)

Os fiéis tem “o direito e o dever de exercê-los (os carismas), para o bem dos homens e a edificação da Igreja e do mundo, na liberdade do Espírito Santo, que ‘sopra onde quer’ (Jo 3,8), e ao mesmo tempo em comunhão com seus irmãos em Cristo, sobretudo com seus pastores. . .

Do Concílio Vaticano II, partamos para a explanação que o Catecismo Universal da Igreja Católica nos faz a respeito da Igreja e dos carismas:

A Igreja, Comunhão viva na fé dos apóstolos que ela transmite, é o lugar do nosso conhecimento do Espírito Santo:

– nas Escrituras que Ele inspirou

– na Tradição, da qual OS Padres da Igreja são as testemunhas sempre atuais;

– no Magistério da Igreja, qual Ele assiste;
– na Liturgia sacramental através das suas palavras e dos seus símbolos, onde o Espírito Santo os coloca em Comunhão com Cristo;

– nos carismas e nos ministérios, pelos quais a Igreja é edificada;

– nos sinais de vida apostólica e missionária;

– no testemunho dos santos, onde Ele manifesta Sua santidade e continua a obra da salvação. “

Assim definida a Igreja, percebemos que a sua dimensão carismática não é acidental como muitos dizem, mas é essencial; ou seja, faz parte da sua estrutura de ser Igreja, e sem sua dimensão carismática (em toda a sua plenitude), a Igreja não é plenamente aquilo que é chamada a ser.

Quanto aos carismas, o Catecismo cita alguns, que para nós é importante ressaltar, comprovando a sua presença na Igreja hoje, e não somente no passado como pensam alguns: ‘São além disso as graças especiais, designadas também ‘carismas’, segundo a palavra grega empregada por S. Paulo, e que significa favor, dom gratuito, benefício. Seja qual for o seu caráter, às vezes extraordinário. Como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas se ordenam à graça santificante, e tem como meta o bem comum da Igreja. Acham-se a serviço da caridade, que edifica a Igreja” (2003).

O Catecismo também muito nos esclarece no que diz respeito ao carisma da cura. Ele apresenta Jesus Cristo como aquele que vem curar o homem inteiro, alma e corpo, mencionando sua compaixão pelos doentes (1503).

Relembra o Catecismo a ordem de Jesus para que todos os discípulos participem do seu ministério de compaixão e cura (1506). Reconhece que o Espírito Santo da á algumas pessoas um carisma especial de curar para manifestar a graça do ressuscitado (1508). E apresenta um rito próprio em favor dos doentes que a Tradição reconheceu como um sacramento: a Unção dos enfermos (1510,).

Na Exortação Apostólica de João Paulo II, Christifideles Laici, após o sínodo sobre os leigos, o Papa fala da presença, utilidade, necessidade e discernimento dos carismas no meio dos leigos, citando inclusive todo o texto da primeira carta aos Coríntios (Cor 12, 7-10).

Isto tudo nos assegura que os carismas do Espírito Santo são reais na Igreja hoje, não são obras fictícias da fantasia de alguns. São milhões de homens e mulheres, jovens e adultos, padres, religiosas, bispos e cardeais, que sob a acolhida do Santo Padre e na Igreja têm experimentado esta grande graça que vivemos nestes tempos tão especiais de um Novo Pentecostes.


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