Formação

carismática:Renovação carismática – Parte IV

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A partir de Pentecostes (At. 2) o primeiro fruto após o derramamento do Espírito Santo sobre os discípulos foi a Igreja, a comunidade cristã primitiva. “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão, e às orações (…) Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo a necessidade de cada um. (At 2, 42.44)

A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum (At 4,32).

Pelo derramamento do Espírito em Pentecostes, as rachaduras profundas de divisão que o pecado provocou entre o Homem e Deus, e entre o Homem e o próprio Homem, foram restauradas pela graça do Espírito de unidade, que brota do coração do Ressuscitado. Deus que possui uma só natureza divina em três pessoas, é uma perfeita comunhão de amor. Ele nos criou à Sua imagem e semelhança, ou seja, para sermos “perfeitos na unidade” (Jo 17, 23), e assim resplandecermos no mundo o reflexo da Santíssima Trindade, uma comunhão de amor.

Nada mais justificável dentro do plano bíblico e teológico que este Novo Pentecostes, que a Igreja vive, gere uma grande graça de vida comunitária. Por isto em todo o mundo estão surgindo como fruto da RCC, pessoas que, impulsionadas pelo Espírito, aderem ao apelo de se unirem no que chamamos de Comunidades de Aliança e/ou Comunidades de Vida as “Comunidades Novas”. São das mais variadas naturezas e formas. Formadas por leigos, celibatários, casais, algumas com carismas bem específicos e modelo de vida definido, outras com característica mais monástica ou de vida consagrada; surgem múltiplas formas, mas com um fundamento comum: servir à Igreja através dos seus carismas, nesta grande corrente espiritual que é a RCC.

Na Exortação Apostólica christiFidelex Laici, O Papa João Paulo II nos fala desta graça: “Antes de mais, é necessário reconhecer a liberdade associativa dos fiéis leigos na Igreja. Essa liberdade constitui um verdadeiro e próprio direito que não deriva de uma espécie de ‘concessão’ da autoridade, mas que promana do Batismo”. (29)

“Nestes tempos mais recentes, o fenômeno da agregação dos leigos entre si assumiu formas de particular variedade e vivacidade. (…) Pode falar-se de uma nova era agregativa dos fiéis leigos. (…) Estas agregações de leigos aparecem muitas vezes bastante diferentes uma das outras em vários aspectos, como a configuração exterior, os caminhos e métodos educativos e os campos operativos. Encontram, porém, as linhas de uma vasta e profunda convergência na finalidade que as anima: a de participar responsavelmente da missão da Igreja de levar o Evangelho de Cristo, qual fonte de esperança para o homem e de renovação para a sociedade” (29).

O mesmo documento também fala da liberdade dos fiéis em fundar e dirigir estas associações e que ela deve ser exercida na comunhão da Igreja (29); define os “claros e precisos critérios de discernimento e de reconhecimento” destas agregações laicais (30) e o papel que os pastores desempenham no acompanhamento, discernimento, orientação e encorajamento das mesmas. (31)

Estas comunidades dentro da RCC, quando autênticas e bem acompanhadas no seu carisma, têm produzido presença e fruto na vida eclesial, com uma fecundidade e criatividade próprias para estes novos tempos onde João Paulo II e os nossos Bispos em Santo Domingo, nos pedem uma Nova Evangelização. Através das suas formas de vida, seu culto litúrgico, seus serviços e novos ministérios e obras apostólicas, muitos têm voltado para a Igreja e têm encontrado o seu lugar para melhor ama-la e servi-la.

Elas também têm dado sinal de uma fértil e atuante presença no mundo, utilizando o testemunho pessoal dos seus membros e o surgimento de obras, fruto de seus esforços comunitários, que atuam na transformação, pelo poder do Espírito, em varias instâncias da sociedade, em especial no campo da família, juventude. meios de comunicação, política e na promoção humana.

RCC e Promoção Humana

Deus criou o homem e o colocou como administrador de todo o criado: “Façamos o homem à nossa imagem, como semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra.” (Gn 1,26).

“Deus abençoou e lhes disse: ‘Sede fecundos, multiplicai-vos, encher a terra e submetei-a” (Gen1,28). Entretanto, sabemos que o homem pecou, quebrando sua comunhão com Deus e com todo o criado. Apartado de Deus e da Sua vontade, o homem construiu um mundo onde as marcas do pecado se manifestam, como injustiça, fome, miséria, guerra uma cultura de morte.

O fruto do pecado é a morte e podemos constatar no mundo de hoje, ao lado das grandes conquistas no campo científico e tecnológico (fruto do esforço do homem para, de forma justa, desenvolver-se e crescer em todos os seus dons), grandes discrepâncias, não só no campo econômico, político e social, mas também no que diz respeito à vida e à moral, levando o homem a uma gravíssima crise espiritual, moral, ética e social, além de grande frustração. Pela fé constatamos que somente com a aceitação da pessoa e da verdade de Jesus Cristo é que o homem, e por conseqüência o mundo, pode encontrar resposta para a grave crise em que se encontra.

Ao olharmos para o nosso continente latino-americano, Podemos verificar grandes feridas que clamam às nossas consciências e exigem de nós, Igreja, respostas condizentes com a nossa fé.

Os nossos bispos, em Santo Domingo, nos alertam sobre a grave situação de nosso continente no que diz respeito aos pobres e ao trabalho, à economia e a política, a família e a vida, entre outros temas, apresentando uma realidade difícil e delicada, onde amplas camadas da população se encontram na pobreza e na marginalização.

“Quem nos libertará destes sinais de morte? A experiência do mundo contemporâneo tem mostrado, cada vez mais, que as ideologias são incapazes de derrotar aquele mal que escraviza o homem. O único que pode libertar deste mal é Cristo. (1.) A dolorosa situação de tantas irmãs e irmãos latino-americanos não nos leva ao desespero. Pelo contrario, torna mais urgente a tarefa que a Igreja tem diante de si: reavivar, no coração de cada batizado, a graça recebida. ‘Recomendo-te – escrevia São Paulo a Timóteo – que reanimes a graça de Deus, que está em ti.’ (II Tm 1.6)

Como da acolhida do Esptrito em Pentecostes nasceu o povo da Nova Aliança, somente esta acolhida fará surgir um povo capaz de gerar homens renovados e livres, conscientes de sua dignidade (1..) A Igreja, ‘despertando as consciências com o Evangelho’, contribui para despertar as energias adormecidas, a fim de as dispor a trabalhar na construção de uma nova civilização.” (Discurso Inaugural do Santo Padre na Conferência de Santo Domingo)

É de capital importância que nós, católicos, meditemos sobre esta palavra do Papa. Diante da injustiça e da dor de tantos irmãos, somos muitas vezes tentados a enveredar por soluções estranhas ao Evangelho de Cristo e à verdade da Igreja. Entretanto, as experiências do nosso mundo contemporâneo saltam às nossas vistas e comprovam a verdade da Palavra de Deus e da Igreja.

A nossa geração jamais imaginou vir a presenciar a derrocada do regime comunista, que influenciou durante décadas um grande número de homens de boa vontade, entre eles muitos cristãos. A influência do pensamento marxista fê-los acreditar na força da ideologia de Marx, sustentada por uma pseudo “análise científica” da situação social. Por força da própria analise, tal ideologia desembocou na praxis marxista (de maneira aberta ou maquiada de cristianismo), apresentada como solução para os problemas imediatos de nossa sociedade. O desmoronamento do regime comunista revelou toda a sua ineficácia e crueldade para com OS povos que lhe foram vítimas.

Por outro lado, OS modelos neo-liberalistas mostram-se incapazes de nos dar soluções para estes graves problemas. Ao contrário, a insensibilidade como muitas vezes estes problemas são tratados pelos que defendem o lucro desenfreado, o consumismo desordenado e o desprezo pelo homem em suas reais necessidades básicas só agravam a situação.

Diante deste quadro, fazemos coro com o Santo Padre e reafirmamos: “As ideologias são incapazes de derrotar aquele mal que aflige o homem. O único que pode libertar deste mal é Cristo.”

Por isso, a Igreja nos lembra:

“A verdadeira união social externa decorre da união dos espíritos e dos corações, isto é, da fé e da caridade. ” (GS 42)

“Com a mensagem evangélica, a Igreja oferece uma força libertadora e criadora do desenvolvimento, exatamente porque leva à conversão do coração e da mentalidade, faz reconhecer a dignidade de cada pessoa, predíspõe à solidariedade, ao compromisso e ao serviço dos irmãos. (RMi 59), mantendo sempre firme a prioridade das realidades transcendentais e espirituais, premissas da salvação escatológica.” (RMi 20)

Conduzidos pelos Espírito

A experiência da RCC passa por este caminho. A acolhida do Espírito de Pentecostes e a conversão dos corações foi e é a prioridade na RCC, não por opção nossa, mas como fruto da própria pedagogia divina na nossa história. E a partir da nossa intimidade e compromisso com Jesus Cristo e pela força do Espírito Santo que, com o amadurecimento de uma caminhada que não deseja queimar etapas (a obra de Deus com os homens não nasce pronta, nem é fruto de uma teologia de gabinete), foi desabrochando uma grande necessidade de servir aos irmãos e darmos de graça as imensas graças por nós recebidas. A dimensão missionária é do primeiro instante da Renovação que, de imediato, se sentiu impelida a um grande impulso evangelizador pois, como disse o Santo Padre em Santo Domingo, citando Puebla: “O melhor serviço ao irmão e a evangelização, que o dispõe a realizar-se como filho de Deus, o liberta das injustiças e o promove integralmente. (Puebla, 1145)

A Evangelização fundamental, seguida da formação catequética foi o primeiro fruto do impulso do Espírito em favor dos irmãos. O exercício dos carismas tem um forte componente social na medida em que está a serviço do outro e os carismas são instrumento do poder de Deus que socorre os aflitos nas necessidades mais profundas do ser humano. A seguir, foram desabrochando ministérios de compaixão no interior da RCC, em favor dos que sofriam enfermidades de toda sorte, espiritual, psicológica, física e moral. O amor e o acolhimento aos doentes, através do consolo e da oração de intercessão e fé expectante, tornou-se característica da RCC.

Não faltou também a presença da RCC no meio dos mais pobres. Esta presença se manifesta de várias formas, que vão desde os grupos de oração, passando pelo serviço aos mais pobres, na forma de evangelização, até as obras de socorro às realidades mais degradantes da nossa miséria social (em favor de prostitutas, menores abandonados, no campo da educação, aidéticos, drogados, etc…). Estas experiências, no início tímidas, foram florescendo, diversificando-se, tomando corpo e identificando-se, cada vez mais, corno autênticos carismas sociais (campo que ainda comporta muito crescimento a partir do que sabemos que o Espírito pode fazer). Os carismas sociais devem ser animados e alimentados pois isto é clara manifestação da vontade de Deus para nós.

Muitas vezes as obras no campo social da RCC não são aceitas por alguns setores porque não trazem o azedume da agressividade OU do ranço ideológico. Esta é nossa opção: promover o homem no amor, por amor, pelo amor e para o amor; o que não significa cair na “tentação de conivência com os responsáveis das causas da pobreza.” (João Paulo 11 – D.1. Sto. Domingo, 16), mas que também se recusa terminantemente a cair nos “perigosos desvios ideológicos, incompatíveis com a doutrina e a missão da Igreja. ” (João Paulo II – ibidem).


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