Formação

A Redenção de Jesus Cristo

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Introdução

Toda a vida de Cristo é mistério de Redenção. A Redenção nos vem antes de tudo pelo sangue da Cruz, mas este mistério está em ação em toda a vida de Cristo: já na sua Encarnação, pela qual, fazendo-se pobre, nos enriqueceu pela sua pobreza; na sua vida oculta, que, pela sua submissão, serve de reparação para a nossa insubmissão; na sua palavra que purifica seus ouvintes; nas suas curas e seus exorcismos, pelos quais "levou as nossas fraquezas e carregou as nossas doenças"(Mt 8,17); na sua Ressurreição, pela qual nos justifica.

Redenção é a recuperação de um objeto precioso mediante pagamento – o que supõe um regime de escravidão.

1. Redenção físico-mística

O fato mesmo de que Deus se fez homem e viveu as etapas da vida de um homem desde a conceição no seio materno até a morte, é obra de Redenção. Com efeito; pelo contato mesmo com a natureza e as etapas da vida humana, Deus divinizou ou deu novo sentido, recriou, tudo o que é do homem.

a. Pela Encarnação Cristo foi constituído substancialmente mediador

Isto quer dizer que, pela sua própria existência, Cristo exerce mediação. A união e a reconciliação entre Deus e os homens estão realizadas em raiz. A vida e as obras de Cristo descobriram o que estava contido nessa raiz. Pelo fato de estar unida a Deus como nenhuma outra criatura, a natureza humana de Cristo está no ápice das criaturas. Nenhuma criatura pode voltar a Deus senão por Cristo. Tudo neste mundo é avaliado em função de Cristo. Todo o universo converge para Cristo e se recapitula nele (Cl 1,16s)

b. Pela Encarnação todo o universo foi consagrado e teve início a edificação dos homens

No homem (mikrokósmos) resume-se todo o grande mundo (makrokósmos). Por conseguinte, se a criatura humana foi elevada à união hipostática, as demais criaturas também foram chamadas a nova forma de vida. Esta consagração é particularmente efetiva nos sacramentos e sacramentais, que são instrumentos materiais comunicadores da vida divina. Cristo mesmo quis, de certo modo, identificar-se com objetos materiais, ao dizer: "Eu sou o pão da vida (Jo 6,48), a luz do mundo (Jo 8,12), a porta( Jo 1,29), a verdadeira videira (Jo 15,1), o caminho (Jo 14,6)"; Ele é o Cordeiro (Jo 1,29), a Pedra angular (Ef 2,20). Estas expressões significam que todos estes objetos têm seu exemplar no Verbo Encarnado. A santíssima humanidade de Cristo contém em grau máximo as perfeições expressas por cada um desses objetos.

c. O Batismo de Jesus foi ato de obediência e humildade, em antítese à soberba do primeiro pecado.

A palavra grega baptízomai, significa "submergir ,ao qual se segue um emergir". Assim o Batismo de Jesus é um compêndio de toda a vida de Cristo, que foi humilhação e exaltação; é também a aceitação simbólica da morte redentora (Mc 10,38). Aceitando o Batismo, Jesus manifesta a intenção de sofrer a morte de cruz pelos homens.

O Batismo de Jesus foi também a santificação das águas para que estas se tornassem o sacramento da nossa regeneração; pelo contato com a carne de Cristo, a água recebeu o poder de vivificar o homem. Consequentemente o nosso Batismo também é a aceitação da morte por ascese; comprometemo-nos então a morrer com Cristo para o pecado.

d. A pregação de Cristo, predita nas Escrituras (Dt 18,18; Is 61,2), tornou-se plena comunicação da Palavra de Deus aos homens (Hb 1,1). Cristo é a Palavra (Jo 1,1) e a Imagem (Cl 1,15) do Pai, que por sua existência terrestre, nos revela o Pai.

O mundo anterior a Cristo estava sob o poder do demônio, que é o pai da mentira (Jo 8,44); 12,31). Por isto a manifestação da verdade realizada por Cristo já é certa vitória sobre o demônio ou início da nossa Redenção. A Escritura assinala muitas vezes que a Palavra de Jesus comunicava a vida (Jo 1,1-5; 1 Jo 1,1), e santificava os homens (1 Tim 4,5; Tg 1,18; 1 Pd 1,23). A sua eficácia é comparada à de uma espada (Ef 6,17; Hb 4,12s). Disto se segue a importância da pregação e da catequese. "A fé vem pela pregação, e a pregação é pela Palavra de Cristo"(Rm 10,18).

e. Os milagres de Jesus

A palavra milagre vem do latim miraculum. Geralmente se considera o milagre tão somente sob este aspecto. A Bíblia, porém, fala de seméion, sinal (Jo 6,26; 10,37s; 12,37; 15,24); ora o sinal é sempre algo que não tem sentido em si mesmo, mas é relativo; é uma mensagem dirigida a alguém.

O milagre é, pois, uma palavra…palavra de Deus mais forte e enfática do que os vocábulos habituais; Deus dirige aos homens esse tipo de linguagem sempre que o julga oportuno. Tenha-se em vista o episódio de Mc 2,5-12: Jesus perdoa os pecados ao paralítico; os escribas que o vêem, julgam que está blasfemando; então Jesus confirma as palavras anteriores mediante o sinal da cura do paralítico.

Por conseguinte, os milagres de Jesus nos Evangelhos não são meras demonstrações de poder. Mediante curas, exorcismos, domínio sobre a natureza…, Jesus quis significar que Ele vinha recriar o homem, restaurando na sua integridade a natureza vulnerada pelo pecado. Não basta, pois, admirar os milagres de Jesus; é preciso também saber lê-los ou reconhecer e seu significado transcendental. S. Agostinho diz que quem não atinge essa significação mais elevada, é semelhante ao analfabeto que vê belas letras de imprensa; admira o seu traçado, mas passa ao lado do principal, porque não sabe ler.

Assim entendemos por que os milagres de Jesus estavam profundamente inseridos dentro da pregação do Senhor; a ressurreição deveria ser o sinal por excelência ou o sinal de Jonas (Mt 12,38-40), que atenderia aos anseios dos fariseus.

2. A Redenção propciatória (Páscha Staurósimon – Páscoa da Paixão)

A obra salvífica de Cristo foi uma só desde o nascimento até a Ascensão. Por isto a Encarnação e as diversas fases da vida oculta como da vida pública de Jesus deviam culminar na morte e ressurreição. Principalmente estas duas etapas finais estavam intimamente associadas entre si, a tal ponto que os antigos gregos falavam de Páscha Staurósimon (Páscoa da Cruz) e Páscha anastásimon (Páscoa na ressurreição)

a. O sentido mais profundo da morte de Cristo é o de manifestação suma do amor de Deus aos homens

Com efeito. A morte de Cristo não foi apenas propiciação oferecida ao Pai pelos pecados. Foi algo cuja iniciativa se deve ao próprio Pai. Sim; foi Este quem nos predestinou em Cristo (Ef 1,3-6); iniciou a nossa salvação já no Antigo Testamento e deu ao Filho o mandamento de entregar a vida por nós (Jo 10,18; 14,31; Rm 5,8-10; 8,32). Trata-se de amor não motivado, mas de pura benevolência ( 1Jo 4,10; 2 Cor 5,18).

Ao amor do Pai corresponde o amor do Filho, que na cruz se exprime num sim ao Pai e na restauração da vida dos homens.

b. A morte de Cristo foi também sacrifício de propiciação e reconciliação oferecido ao Pai em favor dos homens

Cristo, Sacerdote desde o primeiro instante da sua Encarnação, ofereceu um sacrifício perfeito. Desde a sua estrada no mundo, Ele mesmo era vítima consagrada pela união com o Verbo (Hb 10,1-4; 7, 26-28; 9,25-28).

Eis o fato. Procuremos penetrar no âmago do mesmo.

b.1 Cristo exerceu um ato de livre entrega ao Pai. A sua morte não foi um fato inevitável, como a dos demais homens. Cristo não apenas aceitou e sofreu a morte necessária, mas voluntariamente entregou a vida em testemunho de sua obediência ao Pai e de seu amor aos homens. Assim a morte de Cristo é mesmo mais preciosa e grandiosa do que a dos mártires.

b.2 Toda a vida de Cristo é mistério de Recapitulação. Tudo o que Jesus fez, disse e sofreu, tinha por meta restabelecer o homem caído na sua vocação primeira:

Quando ele se encarnou e se fez homem, recapitulou em si mesmo a longa história dos homens e, em resumo, nos proporcionou a salvação, de sorte que aquilo que havíamos perdido e Adão, isto é, sermos à imagem e à semelhança de Deus, o recuperemos em Cristo Jesus. É, aliás, por isso que Cristo passou por todas as idades da vida, restituindo com isto a todos os homens a comunhão com Deus. (Cat 518)

c. A morte de Cristo foi vitória sobre o pecado, a morte e o diabo.

Conforme a Escritura, o pecado, a morte e o demônio eram os senhores deste mundo antes da vinda de Cristo (Rm 5,12-19; Jo 12,31; 14,30; 1 Jo 5,19; 2 Cor 4,3).

Toda a vida de Cristo foi luta contra o pecado e o demônio; isto se evidenciou principalmente nos exorcismos, que desmantelavam inicialmente o império do Maligno,…império que foi definitivamente destruído na cruz; ver Ap 12,10-12.

A vitória sobre o pecado

A carne foi o instrumento pelo qual o primeiro Adão pecou no início da história. Tornou-se sede da miséria humana. Ora precisamente Deus quis salvar os homens mediante carne, a fim de vencer o pecado através do instrumento mesmo do pecado. É o que se chama "recapitulação" ou a arte de fazer que os instrumentos do pecado e da morte se tornem recursos para a vida e a glória (Rm 8,3).

A carne do Messias representava a carne de todo gênero humano; sobre ela pesou a sentença que pairava sobra a humanidade pecadora ("no dia em que desobedeceres, morrerás" Gen 2,17); a carne inocente de Jesus, fezendo-se voluntariamente as vezes da humanidade pecadora, libertou do jugo do pecado todos os homens. A carne tornou-se assim instrumento do sumo amor de Deus, ela que fora objeto de condenação. Isto significa que a carne foi interiormente redimida e santificada, e não apenas salva por imputação extrínseca dos méritos de Cristo.

A vitória sobre a morte

Cristo inocente nada devia à morte (Jo 12,31; 14,30). Por isso ela não o pôde deter (Ap 1,18). Assim a morte só podia servir a à glorificação de Cristo. Ela ainda permanece no mundo e domina cada homem, mas servindo para a nossa glorificação ou passagem para o Pai. A morte é atualmente o inimigo que nos dá a ocasião da vitória definitiva. No dia da consumação final, ela será destruída (I Cor 15,26).

Vitória sobre o demônio

Este foi desejado do seu poder (Jo 12,31; Cl 2, 13-15). Desde a tentação no deserto até a cruz quis dominar Jesus (Lc 4,1′; Lc 22,3.53); instigou os homens pelos Padres da Igreja mediante a seguinte imagem: a santíssima humanidade de Cristo, em tudo semelhante à dos demais homens, exceto no pecado, foi apresentada ao demônio como isca. O Maligno abocanhou-a com avidez, julgando fazer mais uma presa, todavia não percebera nela o anzol da Divindade; a sua fisgada, aparentemente vitoriosa, tornou-se-lhe fatal. Era, de resto, justo que o Senhor Deus apresentasse ao demônio, como antagonista, uma carne humana semelhante àquela que ele suplantara no primeiro encontro da história ou no paraíso. Neste encontro com o segundo Adão, Satanás foi derrotado pelo adversário que ele havia derrotado.A tríplice vitória de Cristo sobre o pecado, a morte e o demônio trouxe ao mundo Paz (Rm 5,1). A mensagem de Cristo é essencialmente Paz (SHALOM) (EF 2,17; 6,15)


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