Formação

Nazaré

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Paulo Roberto de Alencar A. Furtado
Consagrado na Comunidade de Aliança Shalom

O cristão é peregrino. É próprio do cristão peregrinar, pois ajuda-o a tomar consciência de que, nesta vida passada aqui na terra, tudo passa, tudo é transitório, tudo é temporário.

A peregrinação nos arranca de nossa instalação, de nosso comodismo e nos leva novamente a colocar os olhos em nossa Pátria verdadeira – o Céu – onde nós somos, desde já, concidadãos dos santos. Mergulha nossa mentalidade mundana na mentalidade celeste que é vivida de maneira mais forte no lugar para onde fomos em peregrinação e nos permite, com isso, viver nosso dia a dia mais próximos de Deus.

Por isso, o peregrinar é salutar para a alma. Buscamos conhecer, visitar, orar em lugares em que os santos viveram e oraram, para neles refletir sobre a vida, a espiritualidade e o exemplo que aquele santo nos deu, pedindo ao Senhor que essa meditação possa produzir, em nossa vida, os frutos desejados pelo Senhor – 100, 60 ou 30 – conforme a abertura de nosso coração.

Isso acontece de maneira especial quando visitamos a terra onde nasceu, viveu, morreu e ressuscitou o Santo por excelência, o Santo desde toda a eternidade, que se encarnou para nos salvar: Jesus de Nazaré – o Santo de Deus.

Peregrinar à Terra Santa, ir encontrar o Santo da Terra em sua terra natal é uma experiência absolutamente indescritível e incansável – enquanto algumas pessoas amigas estavam reclamando porque iriam, em peregrinação, visitar alguns lugares, na Europa, pela terceira vez, afirmando que não agüentavam mais tanta repetição, tive notícia de um peregrino que esteve na Terra Santa nada menos que sessenta vezes, sempre encontrando muita alegria por poder retornar à pátria terrena de Jesus – que não pode ser esgotada nos estreitíssimos limites de um artigo para a Revista Shalom Maná.

Há muitos lugares em Israel onde se pode fazer excelente peregrinação e que poderiam ser abordados neste artigo mas, por estarmos vivendo o Jubileu da Encarnação, façamos uma visita espiritual ao lugar onde o Verbo de Deus se fez carne: Nazaré.

Antes de mais nada é preciso que nós cheguemos a ir, nem que seja espiritualmente, a Nazaré. Explico. Quando Filipe, chamado por Jesus para segui-lo vai até Natanael para dizer-lhe que haviam encontrado o Messias, e que este Messias era Jesus, o filho de José, de Nazaré, Natanael responde: “De Nazaré será que pode sair alguma coisa boa?” (Jo 1,46). Aquilo que poderia ser um comentário maledicente transformou-se numa realidade: de Nazaré não sai nada de bom. Tudo que é verdadeiramente bom fica lá, não sai. Então, se queremos ver o que Nazaré tem de bom, deveremos ir até lá. Não só fisicamente, mas também e principalmente espiritualmente.

Narra o Santo Evangelho (Lc 2,26-38): “No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré, a uma jovem, prometida em casamento a um homem chamado José, da família de David, e essa jovem se chamava Maria. O anjo veio à presença dela e lhe disse: ‘Alegra-te, ó tu que tens o favor de Deus, o Senhor está contigo.’ A estas palavras, ela ficou grandemente perturbada, e se perguntava o que podia significar esta saudação. O anjo lhe disse: ‘Não temas, Maria, pois encontraste graça junto a Deus.

Eis que engravidarás e darás à luz um filho e lhe darás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de David, seu pai; ele reinará para sempre sobre a família de Jacó, e seu reino não terá fim’. Maria disse ao anjo: ‘Como se dará isso, visto que não tenho relações conjugais?’ O anjo lhe respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; e por isso aquele que vai nascer será santo e será chamado Filho de Deus. E eis que Elisabete, tua parenta, está também para dar à luz um filho em sua velhice e já está em seu sexto mês, ela que era chamada estéril, pois nada é impossível a Deus. Maria disse então: ‘ Eu sou a serva do Senhor. Aconteça-me segundo a tua palavra!’ E o anjo a deixou.”

Na época da anunciação do anjo, moravam em Nazaré, Maria, com sua família – Joaquim e Ana, pais de Maria, e suas irmãs – e José, seu noivo, que era da casa e da família de David. Maria teria aproximadamente 15 anos – que era a idade em que as moças se casavam, em Israel, naquela época, e estava em oração quando o anjo do Senhor chegou em sua presença e lhe anunciou que havia sido escolhida para gerar o Messias, o Filho de Deus.

José era carpinteiro e vivia de seu ofício. Nazaré está situada sobre uma colina na Galiléia, e havia por ali muitas cavernas, que eram utilizadas para integrar as residências e as oficinas de seus habitantes. Assim, a casa em que Maria morava, então, era construída a partir de uma caverna, do mesmo modo que a casa e a oficina de José, que eram conjugadas, foram construídas também em uma das cavernas existentes em Nazaré.

Quando a Sagrada Família retornou do Egito, porque haviam morrido aqueles que queriam tirar a vida do menino (cf. Mt 2, 19-23), como era Arquelau que reinava na Judéia, José, avisado em sonho, retirou-se para a região da Galiléia. E foi morar numa cidade chamada Nazaré, possível e provavelmente naquela gruta onde ficavam a casa e a oficina de José.
Bem no início de sua vida pública, logo depois do batismo de João e do retiro quarentenal no deserto, onde fora tentado por Satanás, Jesus “veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Num sábado, entrou na sinagoga como era de seu costume e se levantou para fazer a leitura. Foi-lhe apresentado o livro do profeta Isaías, que ele abriu, dando com a passagem onde está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim; porque ele me consagrou com o óleo, para levar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar aos prisioneiros a libertação e aos cegos a recuperação da vista; dar liberdade aos oprimidos, e proclamar o ano de graça do Senhor.

Enrolou o volume, que entregou ao ajudante e se sentou. Na sinagoga todos olhavam atentamente para ele. Jesus começou a lhes falar: “Hoje se cumpre esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”. E todos davam testemunho dele, maravilhados com a mensagem de graça que saía de sua boca. Perguntavam: “Não é este o filho de José?” Então ele lhes respondeu: “Sem dúvida, me citareis o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo! Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze igualmente em sua terra”. Depois acrescentou: “Eu vos declaro: nenhum profeta é bem recebido na sua terra.

Sem dúvida, eu vos afirmo que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu ficou fechado durante três anos e seis meses e grande fome devastou todo o país. No entanto, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas, sim, a uma viúva de Sarepta, na região de Sidon. Havia também muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; e nenhum deles foi curado, a não ser o sírio Naaman”. Ouvindo estas palavras, os que estavam na sinagoga ficaram com muita cólera, se levantaram e o levaram para fora da cidade, até o alto do morro sobre o qual ela estava construída, para o jogarem dali abaixo. Mas Jesus passou pelo meio deles e seguiu seu caminho.” (Lc 4,16-30).

Quando se vai a Nazaré, vindo pelo vale do rio Jordão, há uma subida bem íngreme… e se passa pelo paredão de pedra, chamado Monte da Precipitação, de onde os nazarenos, revoltados, queriam atirar Jesus.

Hoje a cidade é habitada por muçulmanos, judeus e cristãos, estes sendo Ortodoxos, Católicos Romanos, Católicos Gregos, Maronitas, Anglicanos, Coptas, Armênios, Batistas e outras confissões protestantes, com ampla maioria muçulmana…

Na gruta onde moravam Nossa Senhora e sua família, em que o anjo apareceu e lhe anunciou que geraria o Messias, foi construída a Basílica da Anunciação. A Basílica atual, projetada pelo Arquiteto Italiano Giovanni Muzio, foi concluída em 1969 e é a quinta Igreja construída no local. A primeira igreja teria sido construída por Santa Helena, a segunda no período bizantino, a terceira no início do século XII e a quarta terminada em 1877. Uma coluna marca o local da aparição do anjo e foi localizada uma inscrição: “Alegra-te Maria”.

Ao lado da Basílica da Anunciação, está construída a Igreja de São José, que está situada sobre a gruta onde se encontrava a casa e a oficina de São José. Tanto a Basílica da Anunciação como a Igreja de São José encontram-se nas mãos dos frades franciscanos.

Os ortodoxos construíram a Basílica de São Gabriel, junto da Fonte de Nazaré, que ainda hoje abastece a cidade, afirmando que o anjo teria aparecido a Maria quando esta teria ido apanhar água na fonte.

Fonte: Arquivo Shalom


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