Formação

Viver com sentido

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Viver com sentido significa, de maneira bem simples, realizar a tarefa que surge num dado momento. A tarefa pode consistir em nada fazer numa determinada hora, descansar, ouvir música, saborear uma boa refeição. No momento seguinte, a tarefa pode ser a de dar assistência alguém ou realizar um trabalho. Viver com sentido significa descobrir o melhor valor possível dentro de uma situação e realizá-lo.

Não se trata de qualquer valor, escolhido ao acaso, mas aquele que, nesta situação, é considerado, pelo meu conhecimento e minha consciência, como sendo o melhor valor. O sentido é então sempre aquilo que especificamente deveríamos fazer agora. Ao invés de falar em sentido, também poderíamos dizer “aquilo que, em um dado momento, deveria ser feito”. Algo que ainda não existe, mas que justamente agora deveria ser realizado. A possibilidade de sentido é sempre uma oferta ou um apelo daquele momento. É aquele “programa de ação” mais adequado à realidade num dado momento.

O sentido não pode ser dado. Os pais não podem prescrever ao filho o que é sentido, nem o chefe ao seu empregado, nem o médico ao paciente. O sentido não pode ser dado nem prescrito — ceve ser reconhecido e encontrado. Tudo referente ao sentido deve passar pelo “olho da agulha” da compreensão pessoal, cada pessoa por si deve compreendê-lo e percebê-lo quanto ao seu valor, sua necessidade e seu fascínio ou atratividade.

O que acontece, porém quando eu, por mim mesmo, não consigo dizer “Sim, fazer isto seria bom”? Ou quando meus chefes, ou meus pais, exigem que eu faça algo? Aquilo que possa ter se revelado como tendo sentido para outra pessoa, torna-se para mim uma incumbência alheia, uma ordem ou uma coação. O sentido, porém, nunca é coação. O sentido verdadeiro nunca significa “Tu deves!” O sentido é fruto da liberdade. Não posso ser forçado para que veja o sentido de algo. Se eu o tiver reconhecido, no entanto, não pode mais ser anulado, mesmo que me posicione contra ele e não o realize; continua sendo um sentido (reconhecido).

Aquilo que pode ser reconhecido pela percepção e encontrado pela busca, deve já existir anteriormente. E, realmente as ofertas de sentido encontram-se no mundo, colocando em minhas mãos as possibilidades, o “material” (sob a forma de situações, tarefas, valores) para que deles faça alguma coisa (cf. Langle, 1985, p. 82 e seguintes). Aquilo que é percebido como sentido no mundo é uma possibilidade nas entrelinhas da realidade. É o que sinto, por exemplo ao contemplar um pôr-do-sol na serra ou examinar um tecido ao microscópio.

O valor criativo que se encontra “nas entrelinhas” dos objetos é “aquele ato necessário”, é aquela tarefa para a qual, neste momento, sou necessário. Através dos meus atos, posso tornar realidade uma possibilidade preciosa que estava latente numa determinada situação.

Questionemos por mais um instante o que estaria “escondido”, o que poderia ser descoberto por detrás de situações dolorosas. O sentido que podemos, laboriosamente, extrair de situações irremediáveis consiste em como lidamos com elas, e em um objetivo para que as suportamos. Também no sofrimento trata-se de encontrar algo: uma atitude que possa reduzir a influência do destino.

Não se trata, porém, somente de atitudes, existe ainda um para quê a ser descoberto através do sofrimento. Pode referi-se a uma outra pessoa, a um Deus, mas, ao menos, serve para preservar a liberdade da atitude e a dignidade da própria pessoa diante da influência destrutiva do destino.
Quanto mais difíceis as circunstâncias de vida, mais profundamente está o sentido escondido nelas.

E mais ainda deve arder em nós a questão do “para quê”, a fim de que possamos destilar esta informação ao menos sob a forma de uma idéia vaga, como o minério que é separado por fusão do mineral sem valor. O sentido é sempre um “chamamento” chamando-nos e exigindo. Através da respectiva resposta ao chamamento, mais uma peça da vida é inserida na textura da personalidade.

Fonte: Arquivo Shalom


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