Miguel Beccar Varela
É lícito eliminar uma vida para salvar outra? A moral opõe-se ao progresso científico?
No mundo pós-moderno, a realidade objetiva é manipulada e profundamente deformada pelos meios de comunicação. Estes ‘informam’ as pessoas sobre uma realidade que já não é mais a verdadeira, mas aquilo que os estudiosos chamam ‘hiper-realidade’, artificialmente criada pela tecnologia da comunicação. A propaganda da TV, por exemplo, simula imagens que intensificam a realidade, fabricam um ‘hiper-real’ espetacular, um ‘real’ mais real e mais interessante que a própria realidade.
As pessoas, num estado que se poderia chamar de hipnótico, sofrem indefesas essas influências que subvertem sua visão das coisas, e conseqüentemente, sua atitude perante elas. Tal “hiper-realidade” as submerge num mundo de sonhos de uma realidade que não existe. Sonhos de uma felicidade consistente no gozo da vida, longe de toda a esperança do Céu. A Lei natural, e a moral católica sobretudo, são deixadas de lado ou atacadas de frente por essa indústria do sonho.
Não encontrando no ambiente familiar — cada vez mais evanecido — o apoio à voz da própria consciência, suas certezas morais vão se apagando, e cada vez mais as pessoas se sentem sós. É essa a situação. Cada um é uma ilha no meio da multidão.
A Lei natural, e sobretudo a moral católica são deixadas de lado ou atacadas de frente por essa indústria do sonho.
As ciências relacionadas com a vida — como a Medicina, a Biologia, etc. — são objeto de especial interesse nessa manipulação avassaladoramente hedonista e narcisista da realidade, na linha de alimentar o sonho de uma vida sem dor, sem enfermidades, e talvez sem morte. O terrível é que, como sempre acontece, tal sonho é apresentado como sendo realizável ao preço do crime, ao preço do atentado contra a vida. É expressão da mentalidade pagã, que dizia: “Meu bem-estar ao preço de tua desgraça, de tua morte”.
Há tempos já, a ciência da propaganda se ocupa das “células-tronco”, terreno onde a verdadeira ciência tem realizado notáveis avanços, e que os técnicos da “hiper-realidade” têm deformado até transformá-lo numa peça a mais do sonho de um mundo sem dor; ainda que contra Deus.
Fonte: Formação Católica