Para onde aponta a Igreja? Primeiramente, para Jesus Cristo, convidando todos os batizados para um renovado encontro pessoal com Ele, de quem são discípulos e discípulas. Nossa fé, antes de ser a aceitação de uma doutrina,.vem de uma relação com a pessoa de Jesus Cristo e, por ele, com Deus. Somente quando compreendermos a vida cristã como “discipulado”, no caminho de Jesus Cristo, é que poderemos renovar a vida eclesial e ser uma presença cristã dinâmica no mundo. Foi assim que aconteceu com os apóstolos, Zaqueu, São Paulo, os grandes convertidos e santos ao longo da história.
As Diretrizes indicam que a Igreja está a serviço da missão do próprio Jesus Cristo, que a chama e envia para prolongar no tempo e estender a sua ação a todos; ela o faz através dos três grandes serviços de Jesus Cristo à humanidade: anúncio da Palavra de Deus, de muitas maneiras; celebração dos “mistérios de Deus” na Liturgia e na oração, para a santificação do povo; vivência e promoção da caridade pastoral, nas suas múltiplas expressões. E a CNBB indica três âmbitos que deverão merecer nossa atenção especial: a pessoa, a comunidade e a grande sociedade. Aspectos inseparáveis desse agir evangelizador da Igreja deverão ser o diálogo, o anúncio , o serviço da caridade e o testemunho de comunhão.
Esta, na verdade, é a razão permanente da existência da Igreja. Mas as Diretrizes da CNBB apontam para uma urgência, que vem sendo sentida fortemente no nosso tempo: a ação missionária. A situação religiosa do Brasil mudou e continua mudando; não podemos mais partir do pressuposto que todos são católicos, transmitem a fé aos filhos e seguem as orientações da Igreja. Oxalá fosse assim, mas não é. Além disso, vários desafios novos, determinados por um mundo mudado, requerem da Igreja e de cada um de seus filhos postura e atuação novas; o fechamento em nossos “redutos” seria uma escolha errada; Jesus enviou seus discípulos para o meio do mundo.
Diante disso, para onde aponta a CNBB? Com o Papa e com o Episcopado da América Latina, em Aparecida, ela dá esta diretriz: valorizemos mais nossa fé e a vida eclesial, que são preciosa herança apostólica; e não deixemos de compartilhar o dom recebido com a comunidade humana do nosso tempo, com coragem e alegria; é a nossa contribuição para que o povo viva bem e a cidade dos homens seja melhor. Sempre respeitando e apreciando contribuições de outros grupos, conheçamos e valorizemos nossa própria; temos a certeza de que o Evangelho do Reino de Deus é um bem e faz bem a todos.
E mais: precisamos recuperar a dimensão missionária, tão própria à nossa Igreja; a missão não acabou nem perdeu seu sentido e atualidade. As Diretrizes nos orientam para sermos “uma Igreja em estado permanente de missão”. Isso vale para todas as organizações da Igreja, como as dioceses, paróquias e comunidades, as pastorais, movimentos e grupos, as famílias e cada membro da Igreja; mas vale também para a Vida Consagrada, para as instituições e organizações ligadas à Igreja, como as escolas, colégios, universidades e meios de comunicação.
O pastor bom, sem descuidar as ovelhas dóceis e bem nutridas, convida-as para buscarem, junto com ele, aquelas que estão longe do redil, vivendo entre ameaças e perigos; e também aquelas ainda não ouviram a voz do Pastor, que deu a vida por todas e quer que vivam.
D. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
Fonte: Site Arquidiocese de São Paulo