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Perdida a unidade da Igreja?

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No Credo professamos: Credo unam sanctam catholicam et apostolicamEcclesiam. Sim, a Igreja de Cristo é una, santa, católica e apostólica,e os grandes tratados de eclesiologia têm procurado comentar essasquatro notas, uma a uma. Na verdade, não pode faltar à Igreja nenhumadessas notas sem que sua essência mesma seja destruída.

Mas a Igreja, conforme a promessa do Senhor (cf. Mt 16), não podeser destruída , o que significa que as notas que a constituem hão depermanecer para sempre. Infelizmente, porém, aparecem, aqui e ali,certos teólogos que se prontificam a deturpar ou mesmo negar uma oumais das referidas notas, o que os coloca fora do âmbito da fé divina ecatólica.

As heresias sempre existiram ao longo da história da Igreja, e jános tempos apostólicos temos testemunhos de que não estiveram ausentes.Entretanto, guiada pelo Espírito prometido por Jesus, a Igreja asvenceu todas, iluminando com a luz da Verdade as mentes de todos os quese submetem ao doce domínio de Cristo e condenando com clareza osimpiedosos erros a respeito do desígnio salvífico de Deus.Nos últimostempos, contudo, criou-se um novo clima na vida da Igreja, ninguémpoderá negá-lo.

Após o Concílio do Vaticano II, muitos na Igreja já não mostram ozelo necessário no combate ao erro e na promoção da Verdade. Talmudança de postura facilitou enormemente a difusão de heresias entre osfiéis.Nesse sentido, deparei-me recentemente com um texto de umconhecido teólogo brasileiro , texto que nega abertamente uma das notasessenciais da Igreja, a sua unidade e conseqüente unicidade.

Quando professamos Credo unam Ecclesiam, estamos afirmando que aIgreja de Cristo não está dividida em várias igrejas ou denominaçõescristãs, e que, portanto, ela é una e única. Mas vamos ao texto. Eis oque está dito expressamente: “A Igreja de Cristo aparece na históriacomo um espelho quebrado em muitos pedaços. Em cada um deles se refletealgo do mistério da Igreja.
Mas não conseguimos em cada pedaço divisar, no tempo da peregrinação, omistério na sua totalidade. Esse passo é graça de Deus que nãomerecemos, mas que devemos buscar a cada dia, na fidelidade ao Espíritodo Senhor, para retomar o caminho da unidade perdida”(o negrito é meu).E ainda: “O importante é que todos nos disponhamos a aprender o caminhodas ‘realizações deficientes’ da Igreja de Cristo em cada uma de nossasigrejas em direção ao projeto de Deus, para que o Espírito Santo, emsua ação eficaz, possa recompor o ‘espelho quebrado’ numa unidadearticulada” (o negrito é meu).

Vejamos bem o teor dessas afirmações. Está dito que:

a) a Igreja una de Cristo não existe no tempo presente;

b) as diversas igrejas refletem, cada qual a seu modo, algo domistério da Igreja una, mas nunca mostram a Igreja em sua integralidade;

c) a Igreja una, que ainda não existe, deve ser, sob a ação do Espírito, objeto de nossa busca.

Ora, todas e cada uma dessas afirmações estão em contradição aberta com o autorizado ensinamento da Igreja católica.

É de fé divina e católica a doutrina segundo a qual a Igreja deCristo já existe neste mundo em sua integralidade (enriquecida de todosos meios necessários à salvação), e que ela se identifica com a Igrejacatólica entregue a Pedro e a seus sucessores, embora fora de seusquadros visíveis haja elementa Ecclesiae, de modo que resulta absurda aafirmação de que a Igreja de Cristo é ainda um sonho a se realizar nofuturo através de uma espécie de articulação de todas as igrejas hojeexistentes. Pio XI, em 1928, já condenava a absurda opinião apresentadapor nosso teólogo.

Veja as palavras pontifícias sobre os hereges de antanho, queparecem ter sido mesmo escritas justamente para combater as descabidasidéias acima referidas:

Pois opinam:

a unidade de fé e de regime, distintivo da verdadeira e única Igreja de Cristo, quase nunca existiu até hoje e nem hoje existe;

que ela pode, sem dúvida, ser desejada e talvez realizar-se alguma vez, por uma inclinação comum das vontades;

mas que, entrementes, deve existir apenas uma fictícia unidade.

Acrescentam que a Igreja é, por si mesma, por natureza, dividida empartes, isto é, que ela consta de muitas igreja ou comunidadesparticulares, as quais, ainda separadas, embora possuam algunscapítulos comuns de doutrina, discordam todavia nos demais.

Que cada uma delas possui os mesmos direitos, que, no máximo, aIgreja foi única e una, da época apostólica até os primeiros concíliosecumênicos.

Assim, dizem, é necessários colocar de lado e afastar ascontrovérsias e as antiqüíssimas variedade de sentenças que até hojeimpedem a unidade do nome cristão e, quanto às outras doutrinas,elaborar e propor uma certa lei comum de crer, em cuja profissão de fétodos se conheçam e se sintam como irmãos, pois, se as múltiplasigrejas e comunidades forem unidas por um certo pacto, existiria já acondição para que os progressos da impiedade fossem futuramenteimpedidos de modo sólido e frutuoso.

Ora, é fato que, ao longo de 2000 anos de história do Cristianismo,houve inúmeras divisões. Muitos grupos se separaram da Igreja católica,constituindo comunidades permanentes, que, inclusive, reclamam para sia autêntica herança de Cristo.

O caso mais patente de divisão, tanto pelo fato de estar maispróximo de nós como pelas suas conseqüências de maior amplitude eatualidade, foi a Reforma Protestante, ocorrida no séc. XVI.

Entretanto cabe-nos uma pergunta: Com as divisões, a Igreja perdeu sua unidade, ficou também dividida?

Muitos pretendem que sim; a Igreja teria, depois das divisões,perdido sua unidade. Essa é a tese defendida pelo texto acima citado.

A Igreja una ter-se-ia quebrado em muitas partes como um espelho, demodo que cada parte do espelho – cada denominação cristã, inclusive aIgreja católica – já não poderia sozinho refletir a totalidade daimagem, isto é, do mistério da Igreja.A Igreja católica, a bom título,não concorda com essa posição.

A doutrina católica sempre sustentou que a unidade, da qual a Igrejafoi dotada por vontade divina, tem subsistido e subsistirá para sempre.Mesmo as divisões ocorridas ao longo da história do Cristianismo não adestruíram e jamais poderão fazê-lo.

A unidade, com todas e cada uma das notas essenciais da Igreja,permanece para sempre, pois é o Senhor que guia e sustenta a sua obra.OConcílio do Vaticano II reafirmou a doutrina tradicional segundo a quala Igreja de Cristo perdura ao longo da história e realiza, já nestemundo, a nota da unidade.

A Constituição Lumem gentium, ao falar sobre a Igreja de Cristo,ensina: Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo comosociedade, subsiste na Igreja católica, governada pelo sucessor dePedro e pelos Bispos em união com ele, embora, fora da sua comunidade,se encontrem muitos elementos de santificação e de verdade, os quais,por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo, impelem para a unidadecatólica.

Esse texto, ao declarar que a Igreja de Cristo existe neste mundocomo sociedade visível, afirma que unidade e unicidade da Igreja tambémexistem atualmente, pois que a Igreja de Cristo é una e única. O textoconciliar rejeita toda afirmação que pretenda sustentar que a Igrejauma e única é uma realidade ainda a ser construída no futuro, ou que sedará somente na escatologia.

A Igreja de Cristo já existe atualmente provida de todos oselementos necessários à salvação.Verdade é que o concílio não usou overbo ser (est) para falar da identificação da Igreja de Cristo com aIgreja católica, mas preferiu a expressão subsistir em (subsistit in).

Muitos, a partir disso, pretenderam que o concílio tivesse abridomão da identificação da Igreja de Cristo com a católica, e atésustentaram que a Igreja de Cristo pudesse subsistir também emcomunidades eclesiais não-católicas. Mas assim se interpreta mal oconcílio.

O Concílio não mudou a doutrina sobre a Igreja, nem poderia fazê-lo,mas tão somente a aprofundou, realçando-lhe certos aspectos. Se usou aexpressão subsistit in (subsiste em) em vez do verbo est (é) para falarda relação entre a noção de Igreja de Cristo e de Igreja católicaconfiada a Pedro, não foi com a intenção de negar a identificação entreambas, mas de, professando firmemente a doutrina tradicional, abrir-seao reconhecimento de que fora dos quadros visíveis da mesma Igrejacatólica há verdadeiros elementos eclesiais, embora não em suaplenitude.

Em outras palavras, há uma única subsistência da verdadeira Igrejade Cristo. A unicidade da Igreja o exige. Mas fora dessa únicasubsistência visível não há o vazio eclesial; há elementos daverdadeira Igreja fora da Igreja católica, em maior ou menor númeroconforme a Comunidade eclesial, elementos esses que, por pertencerem àIgreja de Cristo subsistente na Igreja católica, impelem à unidadecatólica (cf. LG 8).

Desse modo, fica evidenciado que o ensinamento autorizado da Igreja,sustentado pela Tradição, é o de que a Igreja de Cristo, malgrado todasas divisões que se deram no interior do Cristianismo, não está divididaneste mundo em muitos pedaços, como sugere o texto do teólogo quecitamos, mas subsiste (perdura integralmente, em sua unidade eunicidade) na Igreja católica governada pelo sucessor do ApóstoloPedro, o Papa.

A permanência da Igreja neste mundo em sua integralidade é dom doSenhor, que devemos humildemente reconhecer. Isso não significa, porém,que não devamos trabalhar para que os batizados em sua totalidade,atualmente divididos, estejam um dia em plena comunhão pela mesma fé,mesmos sacramentos e mesmo governo.

Pe. Elílio de Faria Matos Júnior
Vigário Paroquial da Paróquia Bom Pastor – Juiz de Fora, MG


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