Formação

Ser paráclitos

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João 14, 15-21

No Evangelho Jesus fala aos discípulos sobre o Espírito usando o termo«Paráclito», que significa consolador, ou defensor, ou as duas coisas.No Antigo Testamento, Deus é o grande consolador de seu povo. Este«Deus da consolação» (Rm 15, 4) se «encarnou» em Jesus Cristo, que sedefine de fato como o primeiro consolador ou Paráclito (Jo 14, 15). OEspírito Santo, sendo aquele que continua a obra de Cristo e que leva acumprimento as obras comuns da Trindade, não podia deixar dedefinir-se, também Ele, Consolador, «o Consolador que estará convoscopara sempre», como Jesus o define. A Igreja inteira, depois da Páscoa,teve uma experiência viva e forte do Espírito como consolador,defensor, aliado, nas dificuldades externas e internas, nasperseguições, na vida de cada dia. Nos Atos dos Apóstolos lemos: «AIgreja se edificava e progredia no temor do Senhor e estava cheia daconsolação (paráclesis!) do Espírito Santo» (9, 31).

Devemos agora tirar disso uma conseqüência prática para a vida. Temosde nos converter em paráclitos! Ainda que é certo que o cristão deveser «outro Cristo», é igualmente certo que deve ser «outro Paráclito».O Espírito Santo não só nos consola, mas nos faz capazes de consolar osdemais. A consolação verdadeira vem de Deus, que é o «Pai de todaconsolação». Vem sobre quem está na aflição; mas não se detém aí; seuobjetivo último se alcança quando quem experimentou a consolação seserve dela para consolar por sua vez o próximo, com a mesma consolaçãocom a qual ele foi consolado por Deus. Não se conforma em repetirestéreis palavras de circunstância que deixam as coisas iguais («Ânimo,não te desalentes; verás que tudo sai bem!»), mas transmite o autêntico«consolo que dão as Escrituras», capaz de «manter viva nossa esperança»(Rm 15, 4). Assim se explicam os milagres que uma simples palavra ou umgesto, em clima de oração, são capazes de fazer à cabeceira de umenfermo. É Deus quem está consolando essa pessoa através de você!

Em certo sentido, o Espírito Santo precisa de nós para ser Paráclito.Ele quer consolar, defender, exortar; mas não tem boca, mãos, olhospara «dar corpo» a seu consolo. Ou melhor, tem nossas mãos,nossosolhos, nossa boca. A frase do Apóstolo aos cristãos deTessalônica: «Confortai-vos mutuamente» (1Ts 5, 11), literalmente sedeveria traduzir: «sede paráclitos uns dos outros». Se a consolação querecebemos do Espírito não passa de nós aos demais, se queremos retê-lade forma egoísta para nós, logo se corrompe. Daí o porquê de uma belaoração atribuída a São Francisco de Assis, que diz: «Que não busquetanto ser consolado como consolar, ser compreendido como compreender,ser amado como amar…».

À luz do que disse, não é difícil descobrir que existem hoje, ao nossoredor, paráclitos. São aqueles que se inclinam sobre os enfermosterminais, sobre os enfermos de aids, quem se preocupa em aliviar asolidão dos anciãos, os voluntários que dedicam seu tempo às visitasnos hospitais. Os que se dedicam às crianças vítimas de abuso de todotipo, dentro e fora de casa. Terminamos esta reflexão como os primeirosversos da Seqüência de Pentecostes, na qual o Espírito Santo é invocadocomo o «consolador supremo»:

«Vinde, ó Pai dos pobres, vinde, autor de todos os dons, vinde, Luz doscorações. Consolador supremo, doce hóspede da alma, suave refrigério.Repouso no trabalho, brandura no ardor, consolo no pranto».


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