Formação

Maria, figura modelar no seguimento de Cristo

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Alguémdisse a Jesus: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem te ver”. Jesusrespondeu: “Minha mãe e meus irmãos sãoaqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8, 20-21).

EnquantoJesus falava, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e lhe disse: “Felizo útero que te trouxe e os seios que te amamentaram”. Ele respondeu: “Muito mais felizes são aqueles que ouvem aPalavra de Deus e a põem em prática”(Lc 11, 27-28).

 

Serdiscípulo de Cristo

Sercristão é ser discípulo de Cristo. É seguir Cristo pobre, casto, obediente,servo, totalmente entregue ao Pai pelo bem dos irmãos e das irmãs, construindoseu Reino.

No iníciode sua pregação, Cristo anunciou: “Completou-se o tempo. O Reino de Deus estápróximo. convertei-vos, crede no Evangelho” (Mc 1, 15). Mais adiante, deixoubem claro: “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome sua cruz esiga-me” (Mt 16,24). Exigiu buscar o Reino de Deus e sua justiça em primeirolugar (Mt 6, 33). A quem lhe perguntou qual o maior dos mandamentos, respondeuque é amar a Deus e ao próximo. Como lhe perguntasse quem é o próximo,contou-lhe a história do samaritano que socorreu o ferido à beira da estrada emandou que fizesse o mesmo (Lc 10, 25-37). Declarou que o sinal distintivo dosseus discípulos é o amor (Jo 13, 35). Princípio fundamental é quem quiser ser oprimeiro seja o último e o servo de todos, a exemplo dele que veio para servire não para ser servido (Mc 10, 44-45).Quem quiser servi-lo, deverá segui-lo e estar onde ele estiver (Jo 12, 26).

Após aressurreição, Cristo enviou seus apóstolos pelo mundo a fazer discípulos entretodas as nações, batizando-os em nome da Trindade e ensinando-lhes tudo o queEle próprio lhes ordenara (Mt 28, 16-20).

Odiscípulo de Cristo nasce do encontro pessoal com Ele pelo anúncio doEvangelho, que o leva a uma adesão total e definitiva com sua pessoa, de talmodo que daí em diante investe tudo nele e no Reino que anuncia. Entrando noseguimento de Cristo e nele crescendo, o discípulo se torna ao mesmo tempoevangelizador, pois o Espírito Santo o impulsiona a anunciar a outros a felizexperiência do encontro com o Mestre.

 

Maria,figura inspiradora para o seguimento de Cristo

SantoAgostinho disse que Maria fez plenamente a vontade do Pai e por isso é maispara Maria ter sido discípula de Cristo do que Mãe de Cristo (Sermões, 5, 7).

Ela foiproclamada bem-aventurada porque acreditou e porque ouviu e praticou a Palavra.Ao recebê-la em sua casa, Isabel proclamou: “Bendita és tu que creste, pois sehão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!” (Lc 1, 45). Ébendita porque acreditou. Acreditou na promessa de Deus e no Deus da promessa.Acreditou na Palavra de Deus, a meditou em seu coração para transformá-la emvida.

Porqueacreditou que o Filho gerado em seu seio é Deus, seguiu-o com total entrega.Assim ela é a primeira na ordem da fé em Cristo, a primeira que o seguiu emtermos de tempo e, em termos de qualidade, é a que melhor o seguiu. Elaprecedeu e superou a todos no discipulado de Cristo.

Por isso,a afirmação de Cristo de que sua mãe, seus irmãos e suas irmãs ebem-aventurados são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática incluiem primeiro lugar sua própria Mãe. Ela é bem-aventurada porque mais e melhoracolheu e cumpriu a Palavra, prolongando seu “faça-se em mim” da anunciação (Lc1, 38).

Suagrandeza está não tanto na sua maternidade física de Cristo, mas na realizaçãodo desígnio de Deus encarnado em Jesus, no compromisso radical com o Reino. Suabem-aventurança maior não consiste tanto na ligação com Jesus por laços desangue, mas por sua incondicional acolhida e prática da Palavra divina. Daí queela se torna a figura exemplar, modelar de todo discípulo de Cristo. “Ela édiscípula perfeita que se abre à Palavra e se deixa penetrar por seu dinamismo”(DP 296). Nisso está a razão maior de sua bem-aventurança.

Apropósito, João Paulo II, na Encíclica sobre a Mãe do Redentor (20), diz: Mariacontinuava, pois, mediante a fé, a ouvir e a meditar aquela palavra, na qual setornava cada vez mais transparente, de um modo “que excede todo conhecimento” (Ef 3, 19), a auto-revelação de Deusvivo. E assim, Maria Mãe tornava-se, emcerto sentido, a primeira “discípula” do seu Filho, a primeira a quem eleparecia dizer: “Segue-me”, mesmo antes de dirigir este chamamento aos Apóstolosou a quaisquer outros (cf. Jo 1, 43).

Por suaunião com a missão do Filho, o Documento de Puebla (292-293) ressalta que Maria“foi a fiel companheira do Senhor em todos os caminhos. A maternidade divinalevou-a a uma entrega total. Foi doação generosa, cheia de lucidez epermanente, unida a uma história de amor a Cristo íntima e santa, uma históriaúnica que culmina na glória. Maria, levada ao máximo na participação comCristo, é íntima colaboradora de sua obra. … Ela não é apenas o frutoadmirável da redenção; é também sua cooperadora ativa. … Ela nos ensina que avirgindade é uma entrega exclusiva a Jesus Cristo, em que a fé, a pobreza e aobediência ao Senhor se tornam fecundas pela ação do Espírito.”

Por terassim acompanhado seu Filho, o Cardeal vietnamita François Xavier Nguyen VanThuan, que passou 14 anos na prisão pelo regime comunista, diz que “Mariaproferiu um ‘sim’ total, porque acreditou na Palavra, deixou-se plasmar pelamão de Deus e conduzir por ele por onde quer que ele a levou: no Egito, emNazaré, em Caná, no Gólgota, no Cenáculo à espera do Espírito Santo”((TESTEMUNHAS DA ESPERANÇA, quando o amor irrompe em situações de heroísmo e nodia-a-dia, Cidade Nova, p. 206)

Comodiscípula do Filho, no início da pregação de Jesus, em Caná da Galiléia (Jo 2,1-12), testemunhou sua fé absoluta nele. Pediu e alcançou o “sinal”, pelo qualEle “manifestou sua glória e seus discípulos creram nele”. A Mãe, fieldiscípula, de certa forma, gerou a fé dos novos discípulos do Filho.

EmPentecostes, esteve reunida com os mesmos discípulos, aguardando em oração, amanifestação do Espírito Santo. Com certeza, os acompanhou nos passos iniciaisda evangelização, como acompanhou seu Filho, amparando-os com seu carinhomaternal e seu testemunho fiel de discípula. Como em Caná, continuava a gerar afé de novos discípulos do Filho. Como em seu início, ela continua a ajudar aIgreja a avançar na missão. Ela continua a cuidar da qualidade de nossoseguimento, pois, segundo o Documento de Puebla (290), “enquanto peregrinamos,Maria será a mãe e a educadora da fé (LG 63). Ela cuida que o Evangelho nospenetre intimamente, plasme nossa vida de cada dia e produza em nós frutos desantidade.” “Todo serviço que Maria presta aos homens consiste em abri-los aoEvangelho e convidá-los a obedecer-lhe: ‘Fazei o que Ele vos disser’ (Jo 2, 5 –DP 300). Ou, no dizer de São Marcelino Champagnat, fundador dos maristas,“Maria nos conduz sempre a Jesus, porque o leva sempre nos braços ou nocoração”.

ODocumento de Santo Domingo (15) proclama-a, por isto, por ser mulher de fé,plenamente evangelizada, como a mais perfeita discípula e evangelizadora;modelo de todos os discípulos e evangelizadores por seu testemunho de oração,de escuta da Palavra de Deus e de pronta e fiel disponibilidade ao serviço doReino até a cruz. O Concílio Vaticano II, no documento sobre a Igreja (LG 65)diz que ela refulge para toda a comunidade como exemplo de virtudes.

Quatrocomparações ressaltam a missão de Maria de orientar-nos para Cristo. Antigatradição a invoca como “Estrela da manhã”: anuncia a chegada de um novo dia como despontar do sol, que para nós é Cristo. Outra a invocação é “Estrela domar”: Maria guia os navegantes em sua travessia perturbada por ventoscontrários e tempestades. O Papa Paulo VI a declarou “Estrela daEvangelização”: sua razão de ser é apontar para Cristo. A estrela indicou ocaminho aos sábios (reis magos) do Oriente para chegarem ao Menino em Belém.Maria é a estrela que ajuda as pessoas a se encontrarem com Ele. Algunsmísticos a compararam com a lua porque recebe a luz de Cristo, o Sol dajustiça, e a reflete para a humanidade.

Por suaatitude fundamental de abertura e acolhida ao chamado do Pai, por suafidelidade e colaboração com Cristo, Maria é figura inspiradora para o/adiscípulo/a de Jesus. Com ela, segundo o cardeal vietnamita François XavierNguyen Van Thuan (obra citada, p. 210), aprende a realizar com exatidão operfil que o Concílio Vaticano II dela elaborou:


– viverplenamente no Mistério: amor acolhido;
– sercomunhão em todos os aspectos de sua vida: amor correspondido;

-abrir-se ao mundo em missão: amor compartilhado.

Pe.Antonio Valentini Neto
Pároco daCatedral São José.


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