Formação

O Reino de Deus vos será tirado

comshalom

Evangelho de Mateus 21, 33-43

O contexto imediato da parábola dos vinhateiros homicidas se refere àrelação entre Deus e o Povo de Israel. É para ele que historicamenteDeus enviou primeiro os profetas e depois seu próprio Filho. Mas comotodas as parábolas de Jesus, esta é uma «história aberta». Na relaçãoDeus-Israel se traça a relação entre Deus e a humanidade inteira.

Jesus retoma e continua o lamento de Deus em Isaías da primeiraleitura. É aí onde se deve buscar a chave de leitura e o tom daparábola. Por que Deus «plantou a vinha» e quais são os frutos queespera e que virá buscar? Aqui a parábola se afasta da realidade. Osvinhateiros humanos não plantam uma vinha nem lhe dão seus cuidados poramor à vinha, mas por seu benefício.

Deus não é assim. Ele cria o homem, entra em aliança com ele, não porseu interesse, mas para favorecer o homem, por puro amor. Os frutos queespera do homem são o amor a Ele e a justiça com os oprimidos: coisasque servem para o bem do homem, não o de Deus.

Esta parábola de Jesus é terrivelmente atual aplicada à nossa Europa e,em geral, ao mundo cristão. Também neste caso deve-se dizer que Jesusfoi «lançado fora da vinha», expulso por uma cultura que se proclamapós-cristã, ou inclusive anticristã. As palavras dos vinhateirosressoam, se não nas palavras, pelo menos nos fatos de nossa sociedadesecularizada: «Vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!».

Já não se quer ouvir falar mais de raízes cristãs da Europa, depatrimônio cristão; o homem secularizado quer ser o herdeiro, o dono.Sartre pôs na boca de um personagem seu estas terríveis declarações:«Já não há nada no céu, nem Bem, nem Mal, nem pessoa alguma que possadar-me ordens. (…) Sou um homem, e cada homem deve inventar seupróprio caminho».

Esta que indiquei é uma aplicação, por assim dizer, de «amplo alcance»,da parábola. Mas, quase sempre, as parábolas de Cristo têm também umaexplicação de curto alcance, ou no nível individual: aplicam-se a cadapessoa, não só à humanidade ou à cristandade em geral. Somos convidadosa perguntar-nos: que destino eu reservei para Cristo em minha vida?Como correspondo ao incompreensível amor de Deus por mim? Por acaso nãoo joguei para fora da minha casa, da minha vida… ou seja, eu oesqueci, ignorei?

Lembro que um dia eu estava escutando esta parábola durante uma Missa,enquanto estava bastante distraído. Chegado ao ponto em que se ouve odono da vinha dizer para si: «Ao meu filho eles vão respeitar», tive umsobressalto. Entendi que aquelas palavras estavam dirigidas a mim,naquele momento. Agora o Pai celeste estava a ponto de mandar-me seuFilho no sacramento de seu Corpo e de seu Sangue; será que eu haviacompreendido a grandeza do momento? Estava preparado para acolhê-lo comrespeito, como o Pai esperava? Aquelas palavras me tiraram bruscamentedos meus pensamentos…

Na parábola dos vinhateiros homicidas há um sentido de amargura, dedesilusão. Certamente não se trata de uma história com final feliz! Masao lê-la em profundidade, percebemos que ela fala do amor incrível deDeus por seu povo e por cada uma de suas criaturas. Um amor que nofinal, inclusive através dos diversos episódios de extravio e retorno,sairá sempre vitorioso e terá a última palavra.

As rejeições de Deus nunca são definitivas, são abandonos pedagógicos.Também a rejeição de Israel que ressoa veladamente nas palavras deCristo, «o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo queproduza frutos», pertence a este gênero, como o descrito por Isaías naprimeira leitura. Vimos, por outro lado, que este perigo afeta também acristandade, ou pelo menos muitas partes dela.

São Paulo escreve na Carta aos Romanos: «Pergunto, então: Acasorejeitou Deus o seu povo? De maneira alguma. Pois eu mesmo souisraelita, descendente de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus nãorepeliu o seu povo, que ele de antemão distinguiu! Desconheceis o quenarra a Escritura, no episódio de Elias, quando este se queixava deIsrael a Deus: Senhor, mataram vossos profetas, destruíram vossosaltares. Fiquei apenas eu, e ainda procuram tirar-me a vida?».

Na semana passada, em 29 de setembro, os irmãos judeus celebraram suafesta mais importante, o Fim de Ano, chamado por eles de Rosh Ha-shanà.Quero aproveitar esta ocasião para fazer-lhes chegar meu augúrio de paze de prosperidade. Com o apóstolo Paulo, eu também grito: «Que haja pazem todo o Israel de Deus».


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