Um famoso sociólogo fez uma pesquisa sobre as condições de trabalho em uma região onde existiam grandes pedreiras. Os operários cortavam as pedras com martelo e escalpelo. Um trabalho exaustivo e insalubre. De alguns operários, cobertos de poeira, enxergava-se somente os olhos, o resto estava da mesma cor da pedra branca que quebravam.
O professor perguntou ao primeiro trabalhador o que achava daquele trabalho. Revoltado, o homem respondeu estar cansado de tanto esforço. Quem ganhava mesmo com aquilo era o patrão. À mesma pergunta, o segundo operário respondeu que não havia outra opção para colocar comida na mesa da sua família todos os dias. Enfim um terceiro trabalhador acenou um sorriso e disse: – Estou preparando as pedras para construir uma catedral.
O pesquisador confirmou o que já sabia. Todos os três suavam e batiam do mesmo jeito, porém as motivações eram diferentes. O esforço não era menor e nem o salário era maior, mas existiam, e sempre existem, formas diferentes de encarar a vida, com seus desafios e dificuldades.
Dedicação é a consagração especial de uma Igreja
Já contei essa história muitas vezes. Pode servir para várias reflexões. Lembrei-me dela porque hoje seremos convidados a celebrar a Dedicação da Basílica do Latrão. Nem todos sabem o que é. Dedicação é a consagração especial de uma Igreja. É uma forma solene de dizer que aquele espaço, aquela construção, é inteiramente dedicado ao culto do Senhor.
Deve servir somente para ensinar a Fé e celebrar a sagrada Liturgia e não para outras atividades. O nome Latrão vem da localidade onde foi construída a primeira Catedral de Roma. Com efeito, São João em Latrão é a Catedral do Papa, como bispo de Roma, também se depois os Papas foram morar na Cidade do Vaticano e hoje celebram as solenes festividades na Basílica ou na Praça de São Pedro.
De certa forma, festejar a Basílica do Latrão é lembrá-la como Igreja-mãe, da qual derivaram as demais espalhadas pelo mundo. O mesmo se pode dizer da Catedral de uma Diocese, como Igreja-mãe das igrejas paroquiais. Essa reflexão explica a solenidade e o sentido profundo de unidade de todas as igrejas catedrais com a Igreja-mãe do Papa, como das paróquias com a Catedral diocesana do Bispo.
Mais uma vez o visível, isto é as catedrais e todas as Igrejas, antigas ou modernas, grandes ou pequenas, construídas pelo esforço e as artes humanas nos querem conduzir a algo que não é sempre tão fácil perceber. Falo da Igreja viva que somos todos nós os batizados.
Monumento vazio é só monumento
A estrutura externa é necessária para nos reunir, para nos lembrar a realidade concreta da nossa fé, contudo essas obras de arte correm o perigo de se tornarem monumentos para serem visitados pelos turistas. Algo do passado.
Muito bonitos e de valor inestimável, mas do passado. Isso pode acontecer quando falta a participação dos fiéis naquelas Igrejas, porque é lá que eles devem reunir-se e, assim, manifestar também publicamente a própria fé. Monumento vazio é só monumento.
Da mesma forma seria um erro localizar apenas naquele lugar sagrado a presença de Deus. Como se Ele não agisse na vida e na história das pessoas e da humanidade. Um agir misterioso que é, ao mesmo tempo, totalmente livre e necessitado de nossa colaboração.
Toda ação de bondade e justiça é obra de Deus e de quem a pratica e em qualquer lugar, onde dois ou mais se reunirem Jesus prometeu estar no meio deles.
Quando acaba a Missa, começa a missão
Além de sua presença nos templos, nas Igrejas, enfim, nos monumentos históricos, artísticos, ou não. Construir Igrejas serve para nos encontrarmos e celebrarmos publicamente a nossa fé.
É um direito e um anúncio ao mesmo tempo, no entanto não pode ser uma prisão e nem um círculo fechado. Quando acaba a Missa, começa a missão. Esta, por sua vez, reconduz-nos à alegria da presença do Senhor Jesus no meio de nós, quando nos reunimos para celebrar a fé, mantendo sempre viva a sua memória.
É um ir e voltar sem fim, como a própria história da humanidade que não pára, aguardando a volta do Senhor. Uma grande caminhada da qual conhecemos a meta: o Reino de Deus. Assim devem ser os cristãos: pedras vivas de uma Igreja sempre em construção,ou se preferem, pedreiros generosos colaborando com o projeto do Pai.
Todos nós podemos quebrar pedras para construir uma Catedral ou ficar resmungando a vida inteira, insatisfeitos com a missão que o Senhor,com tanta confiança, entregou-nos.
Dom Pedro José Conti