Formação

Desafio da Nova Evangelização

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Cardeal Geraldo Majella Agnelo

Oanúncio do Evangelho, por dois mil anos, ofereceu à Europa e muitosoutros paises a mais profunda possibilidade de transformação, enquantoinfluenciou suas culturas com a sua novidade. Hoje, porém, essaevangelização não pode ser considerada como conquista definitiva.

Tantoscristãos identificam a fé com uma série de práticas devotas, mas nãocomo plena adesão a Cristo. Outros foram colocados em crise peladifundida cultura secularizada e niilista e assumiram modelos éticoslonge do Evangelho. O secularismo é o abandono da fé, da religião e daIgreja: uma vida sem Deus. O relativismo é o abandono das leis, dosmandamentos e da verdade: cada um decide como quer. Outros ainda sãoatraídos por experiências de espiritualidades que não têm raízes nohúmus cristão. O próprio diálogo inter-religioso, que é um valor a sercultivado convictamente, suscita, em muitos, dúvidas sobre a própriafé: por que crer à maneira cristã, e não à maneira dos muçulmanos oudos budistas ou dos hinduístas?

A5ª Conferência dos Bispos da América Latina e Caribe, em Aparecida,apontou também, como desafio à evangelização, a iniqüidade social. NaBíblia, o mistério da iniqüidade é o anti-Cristo, anti-reino, é o malorganizado, uma realidade diabólica. O continente latino americano temo maior número de católicos e também a maior iniqüidade social. Aglobalização é um processo promotor de iniqüidades: criando estruturasque favorecem sistema econômico iníquo, onde a exploração dos maispobres, a opressão e a exclusão geram o desprezo aos consideradosdescartáveis por não produzirem, pesados à previdência de saúde eaposentadoria.

Põe-sehoje o problema de uma fé consciente, que nos faça crer e anunciar comforça quanto recebemos da Palavra de Deus: “Ao nome de Jesus dobre-setodo joelho nos céus, na terra e nos abismos; e toda língua proclame:Jesus Cristo é o Senhor!” (Filipenses 2, 10-11).

Aoinício do terceiro milênio, João Paulo II convidou a Igreja para“partir de novo de Cristo” e indicou as linhas fundamentais de umapastoral animada pela contemplação do Rosto de Cristo. Assim os bisposdo Brasil apontaram o objetivo do plano de pastoral: Queremos verJesus, Caminho, Verdade e Vida, para sermos discípulos de Jesus emissionários do Evangelho.

BentoXVI quis caracterizar o ano pastoral corrente como “Ano Paulino”,justamente quando transcorrem dois milênios de seu nascimento. “Oapóstolo Paulo, figura excelsa e quase inimitável, mas de qualquermaneira estimulante, está diante de nós como exemplo de total dedicaçãoao Senhor e à sua Igreja, bem como de grande abertura à humanidade e àssuas culturas. Portanto, é justo que lhe reservemos lugar especial, nãosó na nossa veneração, mas também no esforço de compreender aquilo queele tem para nos dizer, a nós cristãos de hoje.”

Qualserá o anúncio da Missão a que somos chamados a executar? É o kerigmade Cristo nosso Deus e Salvador, morto e ressuscitado por nós. Pode sersintetizado na Palavra de Deus escrita por João 3, 17: “Deus não mandouo Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo se salve pormeio dele”. É oferta e não imposição de Deus para nossa aceitação. Ogesto de amor espera resposta de amor à iniciativa de amor de Deus. Notexto evangélico estão sintetizados os elementos que estruturam a nossafé em Jesus. De um lado, nós o proclamamos Filho de Deus, “gerado, nãocriado, da mesma substância do Pai”; de outro lado, anunciamos que elese fez homem para nossa salvação. O nome de Jesus significa “Deussalva”.

Esteanúncio vai ao coração das expectativas, esperanças do homem. Como nãoestar interessados na salvação? Muitas vezes, na verdade,contentamo-nos de referi-la a aspectos parciais de nossa esperança: asaúde, o trabalho, a economia, a família, o ambiente… A salvaçãotrazida por Jesus não exclui a vida terrena, mas nos traz outrasexpectativas: o dom do infinito de que ele nos faz participantes da suavida. O cristianismo é a notícia de que aquele infinito, ao qual aspirao coração humano, nos veio ao encontro com o rosto e o coração deCristo, vivido e testemunhado pelos cristãos que se fizeram verdadeirosdiscípulos e enviados de Cristo.


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