Formação

O Espírito Santo na Criação

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Reciclagem Shalom 1998 – Formação Doutrinária – Parte II
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Deus criou todos os seres com um ato livre e amoroso de sua vontade. E criou tudo o que existe por meio da Sua Palavra (Verbo), e no poder do Espírito. No Credo confessamos: “creio no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida”. E no Hino ao Espírito Santo cantamos: “En-viai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da terra”. O Espírito é a pes-soa divina por meio da qual Deus Pai infunde a vida, conserva, renova e conduz à realização.
– No Antigo Testamento, Deus cria por meio da Sua Palavra (O Verbo, o Cristo), mas o seu “Sopro”(Espírito Santo) será o protagonista da criação. Veja Gn 1.7.16.25.26: O espí-rito santo é a Pessoa divina por meio da qual Deus Pai infunde em nós a vida.

-Os cristãos dos primeiros séculos foram particularmente sensíveis a esta verdade. Sto Ambrósio afirma que a Escritura “não somente ensinou que sem o Espírito nenhuma criatura pode perdurar, mas também que o Espírito é o criador de toda criatura. E quem poderia negar que seja obra do Espírito Santo a criação da terra, se é obra do Espírito a sua renovação?”. E Santo Atanásio diz que “todo o bem desce do Pai, por meio do Filho, e chega até nós no Espírito Santo”.

– E o Catecismo da Igreja Católica sintetiza esse ensinamento da seguinte maneira: “A Palavra de Deus e o seu Sopro estão na origem do ser e da vida de toda criatura”(CIC, 703)
A afirmação de que tudo foi criado no Espírito significa que toda a criação está mar-cada pela bondade divina. Geralmente se afirma que Deus criou todos os seres com um ato livre e amoroso de Sua vontade. A Criação é o transbordamento livre e gratuito da eterna dinâmica de Amor entre o Pai e o Filho, cujo laço é o Espírito Santo. Assim, como não poderia ser o Espírito Santo, o doador da Vida, se é Ele mesmo esta vida?

O Espírito Santo não é somente a testemunha direta do recíproco amor entre o Pai e o Filho, do qual deriva toda a obra da Criação, mas é Ele próprio esse Amor. Sto Ambrósio afirma que não somente o Espírito colabora com o Pai e o Filho na criação do mundo, mas é Aquele que, como um artista divino, põe ordem no mundo, tornando-o belo. Os Santos Padres, primeiros exegetas e escritores da Igreja, viam o mundo como um sacramento, sinal vivo e que remete À-quele que o criou e sustenta. S. Basílio afirma: “Quero despertar em ti uma profunda admiração pela criação, a fim de que em todo lugar, contemplando as plantas e as flores, sejas tomado por uma viva lembrança do Criador. Assim é que, para a tradição da Igreja, devemos contemplar o mundo com os sentidos espirituais, superando a exterioridade das coisas para aí se descobrir Deus, e o Seu desígnio de amor para nós. É necessário readquirir o coração puro, para vislumbrar na natureza a providência divina feita de amor e sabedoria.

E o Deus trino, não somente criou o mundo, mas o conserva contínuamente. S. Paulo pregou sobre esta ação divina aos pagão reunidos em Atenas: “Nele somos, nos movemos e exis-timos”( At 17,28). A bondade do mundo consiste em existir no Espírito. Se o movimento de Deus em direção a nós, que é descendente, acontece deste modo, o nosso movimento em direção a Deus, que é descendente, acontece de modo inverso, ou seja, vivendo no Espírito, passamos por Cristo em direção ao Pai. Impulsionados pelo Espírito, seguimos a Cristo, atraídos pelo Pai. Assim é que todo ser humano criado é chamado à comunhão com cada uma das Pessoas divinas, e levar todos os seres criados para realizar a finalidade da sua existência. O sentido da narrativa da Criação em Gn 2,15 nos dá a consciência da nossa responsabilidade não só na guarda e con-servação do mundo criado, mas a dar através do mundo criado uma resposta consciente ao amor de Deus.

Contudo o mundo, sinal da benevolência de Deus, é também expressão de uma cria-ção decaída, que somente a nova criação em Cristo pode resgatar. O homem, para quem tudo foi criado, e a quem cabe consentir ativamente neste movimento de retorno, é continuamente tentado a curvar-se sobre si mesmo, e fechando-se à ação do Espírito Santo, coloca a criação continua-mente em perigo.

Veja Colossenses 1,15. A doutrina do Espírito Santo na obra da criação vale antes de tudo para o ser humano, que foi criado à imagem e semelhança de Deus. Ensina o Catecismo da Igreja Católica: “Por ser criado à imagem de Deus, o ser humano tem a dignidade de Pessoa: ele não é apenas alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se li-vremente, e entrar em comunhão com outras pessoas; e é chamado, por graça, a uma aliança com Seu Criador, a oferecer-se como uma resposta de fé e de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar”(CIA, 357).

Essa imagem, saída pura das mãos de Deus, foi alterada pelo pecado, mas restaurada por Cristo com sua morte e Ressurreição. de fato, redenção significa restauração da imagem di-vina no homem. A tradição da Igreja é unânime ao afirmar que aquele que imprime no homem a imagem de Deus é o Espírito Santo. O homem é imagem de Deus porque desde a sua criação já é chamado à comunhão com Deus, e o Espírito Santo é Aquele que o coloca em comunhão com Deus, não numa comunhão meramente afetiva ou psicológica, feita de boa-vontade, mas numa comunhão real. Toda a realidade cristã, de Igreja, Sacramentos, oração e ascese, tem com finali-dade restaurar a obra da nossa Criação, em Cristo, pelo poder do Espírito.

E uma vez que o mesmo Espírito, que realizou a criação do homem, realiza a sua re-criação, no poder do Espírito, o homem tem a missão de resgatar o mundo criado para Deus. Tendo recebido a vida como dom, a obra da Criação, e a relação com Deus como dom, receben-do a nova vida, é novamente chamado ao dom de si mesmo. Mas a vida que o Espírito dá não é um processo mágico, mas um evento livre feito de aceitação e de resposta. O Evangelho sublinha que “viver no Espírito Santo”é acolher a vida como um dom e tornar-se dom, instrumentos para que outros tenham a a vida, como bem o traduzem as palavras da IV oração Eucarística: “E para que não vivamos mais para nós, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por nós, enviastes, ó Pai, o Espírito Santo, primeiro dom aos vossos fiéis, para aperfeiçoar a sua obra no mundo e completar toda a santificação.

Seqüencia desta formação:

Parte I – DOM QUE NOS IMPULSIONA AO DOM
Parte III – VIDA NO ESPÍRITO


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