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A Vocação das e nas Comunidades Novas

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Procuraremos traçaraqui umesboço (sim,nada maisque umesboço)da relação entre“Vocação” e “ComunidadesNovas”. Nãose pretende, portanto, exaurirum tematão rico e complexo como este. Trata-se muitomais de lançarum olhar sobre o mosaico do queDeus tem realizado na Igreja nestas últimas décadas– no que se refere a estas novas realidadeseclesiais –, sem quererentrar em seus detalhes.

Para isso,iremos utilizar algumas indicaçõesdos Papas João Paulo II e Bento XVI vendo primeiramentea questão da Vocaçãodas ComunidadesNovas, para depois passarmos à questãodas diversas vocações nelas existentes.

AVocação das Comunidades Novas

As Novas Comunidades (ouComunidades Novas)são realidadeseclesiais bastante “jovens”.Ainda existe, atémesmo, conflitono uso de suaterminologia. Algumas realidades novasda Igreja querem serchamadas de Movimento; outraspreferem Comunidade Nova;outras ainda, Caminho. De fato, é importanteperceber que nos documentos magisteriais aindanão é claríssima, porexemplo, uma distinçãoentre umMovimento eclesial e uma Comunidade Nova.E não é para menos: quando ainda era cardeal, PapaRatzinger afirmou: “Dever-se-ia também atentar a não se propor uma definição muito rigorosa[para os Movimentos,e assim, tambémpara as ComunidadesNovas], porqueo Espírito Santotem prontas surpresas em cada momento, e só retrospectivamente temos condiçõesde reconhecer quepor trásdas grandes diversidadesexiste uma essência comum”[1].Assim, segundoRatzinger, deve-se respeitar a naturezade mobilidade e novidadeprópria dos movimentoseclesiais e Comunidades Novas, sem querer chegar apressadamente a uma definiçãoprecisa. O queé claro, neste âmbito,é que tantoos Movimentos eclesiais quanto as ComunidadesNovas ououtras dessas novas realidadeseclesiais que vem surgindo aparecem como uma graça para a Igreja dos nossosdias, uma formade viver a féda Igreja radicada no hoje da humanidade,como respostado Espírito Santoaos desafios do nossotempo.

O termo Novas Comunidades– para indicar um novo tipo de associaçãode fiéis, predominantemente laical – nãoexistia até poucosanos atrás,quando foi usado nosdocumentos de preparaçãopara o Sínodosobre a VidaConsagrada (Lineamenta),de novembro de 1992 (cf. n. 24). Dois anos depois, em uma Audiência Geralde outubro de 1994 (talvezainda sema ambição de cunharuma expressão própriapara essa novidadeeclesial), o Papa João Paulo IImencionou o termo novas comunidadesquando se referia ao conjunto de novasformas de participação eclesial que estavam surgindo. De passagem,disse o Papa: “Algumas destas novas comunidadestêm uma linha propriamente monástica, com um notável desenvolvimento da oraçãolitúrgica”[2].No entanto, foi sódurante o sínodosobre a vidaconsagrada, e mais explicitamente, na exortação apostólica pós-sinodal Vita Consecrata[3], de 1996, queo termo Novas Comunidadesfoi, por assimdizer, “consagrado”, poisali essas novasrealidades eclesiais tiveram que ser tratadas mais de perto, pois já suscitavam grande interesse.

Mas qual seria a vocação, o chamado destas NovasComunidades na Igreja?Podemos procurar respondera essa questão partindo, dentreoutras, de algumas palavras de JoãoPaulo II aos membros dos Movimentos eclesiais e ComunidadesNovas durantea Vigília de Pentecostesde 1998. Dizia o Pontífice:

Que necessidadetem-se hoje de personalidadescristãs maduras, conscientes da própria identidadebatismal, da própria vocação e missãona Igreja e no mundo!Que necessidadede comunidades cristãs vivas! E eis, então, os movimentose as novas comunidadeseclesiais: estes sãoa resposta, suscitada peloEspírito Santo,a este dramáticodesafio de fimde milênio. Vocêssão esta respostaprovidencial.[4]

A vocação das novas comunidadeseclesiais seria, segundo o Papa, a de gerar, com o auxílio ea graça de Deus,personalidades cristãs maduras, conscientesda própria identidadebatismal, da própria vocação e missãona Igreja e no mundo!O Papa definiu estas novas realidadeseclesiais como resposta providencialde Deus paraos desafios deste tempo,indicando como motivodesta resposta do EspíritoSanto o surgirde uma personalidade cristã e batismal mais amadurecida e a forçade uma fé vivenciada com alegria e vigor na comunidadeeclesial. Não se trataaqui, obviamente, de exclusivismos; o Papanão se refere a uma única resposta de Deuspara a Igreja,mas de uma respostaprovidencial.Trata-se de um fortereconhecimento dos donse dos carismas quesão própriosdos Movimentos eclesiais e Comunidades Novas.

Também Bento XVI pôde expressar,durante o II Semináriode estudo paraos bispos, em2008, a sua ideia de Comunidades Novas:

A nós Pastoresé pedido queacompanhemos de perto, com paterna solicitude, de modocordial e sapiente,os movimentos e as novascomunidades paraque possam, generosamente,colocar a serviçoda utilidade comum,de modo ordenadoe fecundo, os tantosdons de quesão portadorese que temos aprendido a conhecere apreciar: o impulso missionário, os eficazesitinerários de formaçãocristã, o testemunho de fidelidade e obediênciaà Igreja, a sensibilidadeàs necessidades dos maispobres, a riquezade vocações.[5]

Assim, BentoXVI vai além de uma descriçãogenérica dessas novasrealidades eclesiais. Aponta o impulso missionário, a capacidadede formação cristã, o testemunho de fidelidadee obediência à Igreja,a sensibilidade às necessidadesdos mais pobres,a riqueza de vocações.Esse é o âmbitoque encerrao chamado dessas novas comunidades: estar junto à Igreja,formando cristãos maduros,sensíveis às necessidadesdos mais fracose pobres, agindo atravésda riqueza de seusdons e vocações. E é a partir daqui quepodemos entrar na segundaparte de nossareflexão.

AVocação nas Comunidades Novas

Papa BentoXVI falava da riqueza de vocaçõesque os Movimentoseclesiais e as Comunidades Novas proporcionam à Igreja.Nas palavras de BentoXVI, essa riqueza de vocaçõespoderia dizerrespeito às vocaçõesdos Movimentose Comunidades Novas– com os diversoscarismas quecada uma delas possui –, que embelezam a Igrejados mais diferentesmodos, mastambém poderiam referir-se às vocações nasComunidades Novase Movimentos eclesiais, que aliamadurecem, se formam. De fato, este espaçoeclesial onde se esperaque ocorra o amadurecimento da consciência, da identidade,da vocação e missãodos cristãos na Igreja,traz uma extraordinária novidade vocacional. Sãovocações diversas quesão geradas ali.As Comunidades Novassão berçosde novas vocaçõesao matrimônio, ao sacerdócioe à vida consagrada. O Papa João Paulo II expressou essa novidadeainda em1996, apontando nela a originalidade própriadas Comunidades Novas:

A originalidade destas novas comunidadesconsiste frequentemente no fato de se tratar de grupos compostos de homense mulheres, de clérigose leigos, de casadose solteiros, queseguem um estiloparticular de vida,inspirado às vezes numa ou noutra forma tradicionalou adaptado às exigênciasda sociedade atual.Também o seucompromisso de vidaevangélica se exprime em formasdiversas, manifestando-se, como tendência geral,uma intensa aspiraçãoà vida comunitária,à pobreza e à oração.[6]

Assim, as ComunidadesNovas – graçaque traz comovocação própriaa formação de verdadeiros cristãos, comovimos – têm dentro delas uma enorme diversidadede vocações. Essa realidadevem ao encontro do queafirma o documento Apostolicam Actuosiatatem, do ConcílioVaticano II, quetrata do apostoladodos leigos na Igreja.Diz o AA: “A partirdo fato de terrecebido estes carismas,mesmo os maissimples, surge paracada fielo direito e o deverde exercê-los para o bemdos homens e a edificaçãoda Igreja”[7]. Direito e dever! É, sem dúvida, umaexortação feitapelo Concílioaos fiéis leigos paraque façam bomuso dos donse carismas recebidos de Deus para o bemde toda a Igreja.Independentemente de um pedido da hierarquia da Igreja,o apostolado é direitoe dever de todosenquanto cristãos.Como afirmou tambémPe. Arturo Cattaneo, noto eclesiólogosuíço: “O apostolado não é mais visto só como cooperaçãocom a hierarquia,mas comoespecífica missãode levar o Espíritode Cristo a todas as realidades temporais,uma missão queestá aberta a inumeráveisiniciativas sejam pessoais,sejam comunitárias”[8]. As Comunidades Novas,com suadiversidade de vocações(delas e dentro delas), são chamadas aassumirem como suaa missão evangelizadora da Igreja.

Conclusão

A Igrejarecebeu do Ressuscitado a tarefa de evangelizar o mundo sob o influxodo Espírito Santodoado por Ele(cf. Mc 16,15; Jo 20,21-23); é a sua missão. O Papa João Paulo II freqüentementese referia à evangelização ligando-a fortementeao termo missão. Ele afirmava queé necessário quea “iniciativa de amor vivificante, que parte do Pai Celeste e culmina em Jesus Cristo, seestenda e quase se espraie em dimensão universal, para envolvertoda a humanidadeem uma novacriação”[9].Missão e evangelização guardam, portanto,uma relação muitopróxima. Paulo VI jádizia que “Evangelizar é a graça e a vocaçãoda própria Igreja,a sua identidademais profunda.Esta existe para evangelizar”[10].

A vocação das e nas Comunidades Novas tem por finalidade a colaboraçãonesta missão da Igreja:a evangelização dos povos.Os carismas das ComunidadesNovas, bem como as vocaçõespessoais de cadaum de seusmembros, sãoconcedidos por Deuspara o serviçodos demais irmãose irmãs, para o serviçoda Igreja e do mundo.É na evangelização queconvergem as vocações das ComunidadesNovas e as vocaçõesnas ComunidadesNovas. A afirmação de Papa Bento XVIaos membros dos Movimentoseclesiais e Comunidades Novas reunidos comele, na Praçade São Pedro, paraviver o Pentecostes2006, é bastante reveladora: “Caros amigos, vospeço que sejais aindamais, muitomais, colaboradores no ministério apostólico universaldo Papa, abrindo as portasa Cristo”[11]. As Comunidades Novase seus membrosa isso sãochamados: à missão da evangelização. Essa é a suamaior vocação.


*Renato da Silveira Borges Neto é licenciadoem Filosofiae Teologia, mestreem Teologia Dogmática pelaPontificia Università di San Tommasod’Aquino – Roma/Itália – e está na fase final de seu trabalho de doutoradopela mesmauniversidade romana.É professor universitárioe conferencista. É autorde O RENASCERDA ESPERANÇA: Movimentoseclesiais contemporâneos e Comunidades Novasno pensamento de João Paulo II e Bento XVI. Agbook: Riode Janeiro, 2010.

[1] Ratzinger, J. I Movimenti ecclesiali e la loro collocazione teologica.In: Pontificium Consilium pro Laicis.I Movimenti nella Chiesa – Atti del Congresso Mondiale dei Movimenti Ecclesiali (Roma,27 – 29 maggio 1998), p. 47.

[2] JoãoPaulo II. Audiência Geral, n. 5. In: Observatório Romano, quarta-feira,5-6 de outubro de 1994.

[3] Idem. Exortação apostólica pós-sinodal Vita Consecrata (VC) sobre a vida consagrada e a suamissão na Igrejae no mundo (25 de marçode 1996), n. 62.

[4] Idem. Agli appartenenti aiMovimenti Ecclesiali e alle Nuove Comunità nella vigilia di Pentecoste (27maggio 1998), n. 7, p. 1123. In: InsGP-II, vol. XXI, 1 (1998), pp.1119-1126.

[5] Bento XVI. Discorso di Sua Santità Benedetto XVI ai partecipanti al Seminarioper i vescovi ricevuti in udienza nella Sala del Concistoro del Palazzo apostolico (Roma,17 maggio 2008). In: PontificiumConsilium pro Laicis. Pastori eMovimenti Ecclesiali. Seminario di studio peri vescovi (Rocca di Papa, 15 – 17maggio 2008). Città del Vaticano: LEV, 2009,pp. 13-16, p. 15.

[6] João Paulo II. Exortaçãoapostólica pós-sinodal Vita Consecrata (VC)sobre a vidaconsagrada e a sua missãona Igreja e no mundo (25 de marçode 1996), n. 62.

[7] Apostolicam Actuosiatatem, 3c.

[8] Cattaneo, A. IMovimenti Ecclesiali: Aspetti Ecclesiologici. In: «Annalestheologici» 11/II (1997), pp. 401-427, p. 404.

[9] Giovanni Paolo II. Ai partecipanti al convegno internazionaledel “Movimento Umanità Nuova” (20 marzo 1983), n. 1. In: InsGP-II, vol. VI, 1 (1983), p. 775.

[10] EN 14.

[11] Bento XVI. Omelia del Santo Padre durantela solenne Veglia di Pentecoste (03 di giugno 2006). In: Pontificium Consilium pro Laicis. La bellezza di essere cristiani. I movimentinella Chiesa. – Atti del II CongressoMondiale dei Movimenti Ecclesiali e delle Nuove Comunità (Roma, 31 maggio – 2giugno 2006). Città del Vaticano: LEV, 2007,pp. 187-195, p. 194.

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Renato da SilveiraBorges Neto


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