Cardeal Geraldo Majella Agnelo
Celebramos a festa da Ascensão do Senhor, sabendo que Jesus voltou ao Pai,como havia dito, “para preparar-vos um lugar”. Nisso podemos ler aorientação da nossa vida: movemo-nos nesta terra, mas sabemosencaminhados para Deus. Ao final está Ele a nos esperar.
Quandoo primeiro astronauta Yuri Gagarin em 1961 realizou o primeiro vôoespacial, retornando à terra fez declaração surpreendente; “Fui até océu, mas Deus não encontrei”. Ao invés, nós hoje, em todas as igrejasda cristandade, celebramos a festa da Ascensão ao céu do Senhor Jesus.
Narecitação do credo ao menos em cada domingo dizemos: “Creio em um sóSenhor, Jesus Cristo que foi crucificado, ressuscitou dos mortos, esubiu ao céu, onde está sentado à direita do Pai”.
Exprimimosassim nossa fé quanto aos últimos acontecimentos terrenos do Filho deDeus entre os homens. Uma fé que se apóia sobre o testemunho dosapóstolos, da Igreja das origens, dos Evangelhos.
Osevangelistas narram o fato de maneiras bem diversas. Mateus nos conta ofato, o dá como conhecido e bem sabido por todos os cristãos. Marcosdiz: “O Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, subiu ao céu eestá sentado à direita de Deus”. Lucas ao invés explica que Jesus “foielevado ao alto sob seus olhos, e uma nuvem o cobriu a seus olhos”.
Essasexpressões podem pôr alguma dificuldade à sensibilidade moderna. Nãosomente a Yuri Gagarin que no espaço não encontrou Deus. Se fosse sópor isso, outros astronautas voltaram dos vôos espaciais com o estuporno semblante, entusiastas pelo que tinham visto. Tinham encontrado novôo espacial sinais da presença misteriosa de Deus. Já o salmistaexclamara: “Os céus narram as maravilhas de Deus”.
Conta-seque um ateu falando em confidências com amigos, acreditou terencontrado a prova de seu ateísmo: “Se Deus existe, por que não escreveo seu nome bem grande no céu, de modo que todos possam ler?” Parecia umpedido sensato. Houve certo embaraço. Mas alguém, com certaimpertinência, disse: “Desculpe-me, senhor. Em que língua Deus deveriaescrever o seu nome no céu?” Na verdade, o céu azul ou com nuvens, nadatem a ver com o céu da fé, com o céu de Deus. Com a ascensão ao céu,Jesus não entra num lugar, mas em uma dimensão nova, onde não têm maissentido nossas expressões sobre, sob, diante, atrás. Ir ao céu,significa ir a Deus.
Sabemosque Jesus, Verbo encarnado, tendo voltado ao Pai, lá prepara um lugartambém para nós. E mesmo se tudo permanece misterioso, nós cremos emJesus que nos fala, e cremos na Igreja que nos anuncia Cristo subido aocéu. E nos ensina a esperar igual destino na eternidade.
Hojese olha pouco para o céu. O céu de Deus. O céu que é Deus mesmo. Tem-sea impressão que uma das três virtudes teologais: fé, esperança ecaridade esteja em crise. Não é tanto crise de fé. Existe muita genteque crê. Também não é tanto crise de caridade, de gente que faz o bem etem cuidado com os outros. Parece ao invés que entrou em crise avirtude teologal da esperança.
Oevangelho de Marcos 16, 15-20 nos descreve os apóstolos olhando para oalto, o Senhor que subia ao céu. Nós de tal modo tomados por tantascoisas a fazer aqui em baixo não encontramos mais tempo para olhar oSenhor lá em cima.
Esquecemo-nosde nossa destinação última, a nossa estação final de chegada. A figurados apóstolos olhando para o alto deveria fazer-nos recordar que tudonão termina aqui em baixo mas somente começa, a realização e aplenitude da vida nos serão dadas depois. A virtude da esperança nosempurra a caminhar na direção daquele lugar que Jesus nos prepara.
Devemoscaminhar até o fim, como a criança que começa a caminhar amparada pelamãe e depois adquire confiança. É a história dos apóstolos, amparadospor Jesus. No dia da Ascensão o Senhor os deixa andar sozinhos, e sãoencaminhados para a sua esperança. E depois deles, o pequeno rebanho, aIgreja que nascia. Quanto caminho percorreu.
Somoscristãos, descendentes dos primeiros discípulos, olhamos o Senhor, namedida em que vivemos a esperança, anunciando o Senhor, passando poreste mundo fazendo o bem como o Senhor. Rezamos na Missa: “Corações aoalto. Os nossos corações estão voltados para o Senhor!”