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Ana Carla Bessa
Missionária da Comunidade Shalom
Alguns de nós ficamos verdadeiramente escandalizados dianteda notícia do quanto ainda existem nas sociedades os preconceitos de cor, raça,classe social, condição econômica ou cultural. No entanto, sem que percebamos,podemos estar agindo preconceituosamente em nossas relações com Deus, com opróximo e até conosco mesmos. Este artigo não pretende relatar nem fundamentaras divergências correntes a respeito dos diversos preconceitos sociais, mas noslevar a seguir melhor a Jesus, que venceu todo preconceito humano com o únicoobjetivo de acolher e salvar a humanidade, sem distinção.
Podemos começar refletindo um pouco sobre o que significa opreconceito. Como o termo diz, trata-se de um conceito antecipado a respeito deuma pessoa, coisa ou situação. O preconceito está intimamente ligado àsinformações que trazemos em nossa memória, de fatos vividos ou conhecidos.Assim, ao nos encontrarmos em uma situação parecida, associamos àquelaexperiência anterior como se fosse a mesma. O preconceito também está muitoligado à aparência exterior da situação, coisa ou pessoa. Baseados no queparece, podemos julgar algo que não corresponde à verdade. Portanto, opreconceito pode ser em nossa vida um grande engano, uma grande ignorânciafantasiada de “saber”. E pode aprisionar a nós e aos outros.
Nas relações interpessoais os preconceitos podem serimpedidores de grandes amizades e verdadeiras prisões que encerram as pessoasem rótulos, a partir de atos que cometeram no passado, ou que ainda estãocometendo, mas que nos impedem de vê-la em profundidade, para além do rótulo,ou perceber que são capazes de mudar. Desse modo, agimos nos arvorando depretensos deuses, quando na realidade nem Deus é preconceituoso com nenhum denós. Imagine se Deus, que desde o princípio tudo vê, que conhece o nosso pecadoe as nossas fraquezas em profundidade, fosse preconceituoso conosco, já hámuito teríamos perdido todas as chances de existir. No entanto Ele, que criou omundo do nada, está sempre investindo em nós, esperando a nossa conversão até oúltimo instante de nossa vida.
Se fosse possível humanizar a imagem de Deus aeste ponto, eu diria que Deus tem muito mais fé em nós do que nós nele. Sim,porque no fundo de nosso preconceito está a falta de fé em Deus, que a tudo e atodos pode transformar.
A triste conseqüência de nossos preconceitos pessoais é opreconceito social, que tanto nos escandaliza. O preconceito individual podeser propagado pelas nossas más palavras de tal forma que não seremos maiscapazes de deter esta espécie de bomba que às vezes levianamente lançamos unscontra os outros. Tudo pode começar com um comentário, uma antipatia, umarejeição confidenciada, e a nossa opinião pessoal tão mutável terá sido lançadacomo um rótulo no outro. E o outro, na sua fraqueza, poderá acabar assumindoeste rótulo durante toda a vida enquanto sua verdadeira imagem estará parasempre escondida no coração de Deus. Então seus talentos e tudo o que Deustinha para fazer através dele fica sepultado como uma semente que nãodesabrochou.
Jesus e as pessoas socialmente desprezadas e moralmentereprovadas
Ao contrário dos fariseus de sua época, sempre fechados nopequeno mundo dos seus conceitos, Jesus não classificava as pessoas, ninguémera indigno de se relacionar com Ele, por pior que fosse seu passado. Eleconseguia compreender e valorizar o ser humano independentemente de seus erros,da sua história. Isso não significava que compactuasse com o pecado, mas queacolhia o pecador, fosse qual fosse o seu pecado. Foi assim que agiu com amulher samaritana, com Zaqueu, com Levi, com a pecadora pública e com todos ospecadores que encontrou. E foi justamente seu amor incondicional que gerouneles a transformação que os fariseus não puderam ver.
Intelectualmente encarcerados, fechados nas suas própriasidéias e na sua falsa moral, muitos deles não conseguiram aceitar alguém comoCristo, que veio para abrir o coração humano e nele introduzir a Lei interior,a Lei do Amor, com o poder de Deus, e não com a espada da condenação. Por issonão lhes era possível compreender por que Jesus “andava com os pecadores”, e“fazia refeições com eles”. E sua indignação gerou a inveja, que como uma bolade neve levou Jesus a um julgamento injusto. Porém na Cruz, também por elesJesus pediu ao Pai, porque não “sabem o que fazem”.
Assim como aconteceu aos algozes de Cristo, pode estaracontecendo conosco, que tantas vezes nos consideramos “bons cristãos”. Opreconceito que nos impede de ir até os mais “mal afamados” para lhes dizer queJesus os ama com atos, muitas vezes esconde a nossa inconsistência interior,porque no fundo sabemos que somos tão vulneráveis como eles, e é apenas ummistério da graça divina que nos impediu de agir como eles.
No entanto, somos continuamente alvo do amor incondicionalde Deus, e por isto o mistério da misericórdia e da caridade que acolheincondicionalmente o outro será sempre um chamado feito a cada um de nós. Emuma de suas parábolas, o Senhor disse que deixará crescer juntos o joio e otrigo até o dia da colheita (Mt 13,24-30). Assim como pobres sempre existirãono meio de nós, porque de alguma forma todos nós somos pobres; pecadores sempreexistirão no meio de nós, porque todos somos pecadores, e nenhum de nós sairádos próprios pecados sem que antes encontremos uma mão que nos acolha comoestamos.
O preconceito é um veneno capaz de roer as relações entrefamílias, comunidades religiosas, irmãos, amigos, conhecidos e desconhecidos, etudo pode começar com um único olhar de julgamento de nossa própria parte. Queo Senhor nos conceda a graça da purificação do nosso olhar, dos nossosraciocínios e sobretudo da nossa memória, para que, escandalizados com ashistórias de preconceitos que observamos nos jornais, não estejamos nós a fazero mesmo.