Mundo

Presentes ausentes

comshalom

11h

Lembro-me vivamente do dia em que decidi não mais dar presentes de Natal. Estava no centro da cidade – em 1976 não existiam shoppings em Fortaleza – e trazia na bolsa uma boa quantia em dinheiro – também não se usava cartões de crédito na época – o suficiente para comprar cerca de 60 presentes, porque era obrigatório dar-se presentes para tooooodo mundo. Era a maior preocupação do Natal. Não esquecer ninguém.

Estava na Quatro e Quatrocentos, uma das duas lojas de departamento da cidade, uma espécie de Lojas Americanas. De repente, lista de presentes nas mãos, dei-me conta do quanto era absurdo tudo o que via. Filas, gente disputando lugar junto aos balcões, suando por todos os poros – não, não havia ar-condicionado na loja – esbravejando com os vendedores, com os caixas, uns com os outros. Não pareciam cristãos, na verdade, não pareciam muito … gente, filho de Deus, entende?

Hoje vejo que foi obra do Espírito Santo eu ver as cenas como que pelo avesso, as detestáveis músicas que tocavam em todas as lojas em todos os natais – não, não havia a variedade musical de hoje – o vazio, a angústia, a disputa pelos artigos disfarçando a competição por impressionar bem os outros. Foi também obra do Espírito eu começar a me sentir mal, muito mal, do estômago, com zonzeira na cabeça, fraqueza nas pernas, horror diante das cenas absurdas, náusea da música torturante. Pasmo diante do contraste entre a Realidade da Encarnação e a fantasia do comércio.

E, como em um estalar de dedos, percebi que não pertencia mais àquele mundo. Não! Definitivamente, era como uma alienígena ali. A graça da Efusão do Espírito Santo, recebida há 6 meses, parecia voltar com todo o seu poder e Jesus Vivo, Ele mesmo – não aquelas imagens frias e mudas que jamais traduzirão a beleza do Menino – Ele, pessoalmente, próximo, amigo, confidente, me retirou daquele mundo escravizado pelo consumismo e me fez sair como fugitiva, deixando para trás os poucos itens escolhidos, caídos, tal correntes, em algum balcão milagrosamente vazio.

Aliviada, curti nova liberdade em meio às ruas entupidas de gente. Quase dançava com o corpo a música nova da alma. Mas… e agora? O que fazer na Noite de Natal? O que dizer?, angustiou-se leve e brevemente meu coração. Ora, agora era dizer “Feliz Natal”, dar oração como presente e comunicar, com tranquilidade, que, a partir daquele ano, meu presente seria… Jesus!

 

Maria Emmir Oquendo Nogueira

Cofundadora da Comunidade Católica Shalom

TT @emmiroquendo

FB facebook.com\mariaemmirnogueira

 

 

Leia também:

Como é que a gente pode invalidar a Graça de Deus?!?

 

 


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.