Formação

Construindo a civilização do amor

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Moysés Louro de Azevedo Filho

 

Na sociedade em que vivemos, grandes e graves desafios nosrodeiam e questionam. Poderíamos citar alguns: desigualdade social,concorrência desigual, busca de um lugar no mercado de trabalho, globalização,ética, prostituição infantil, terrorismo, guerra…

Às vezes, ficamos perplexos diante dessa realidade. Comonós, enquanto indivíduo e também sociedade, podemos nos portar diante dessesdesafios; sobretudo, como daremos uma resposta cristã a tudo isso?

É preocupante porque, diante de uma realidade tão comum,tendemos a ficar insensíveis. Lembro-me de quando o padre Daniel-Ange veiopregar no Fórum, aqui em Fortaleza. Depois do encontro, por volta das 22h30min, saímosde carro e quando paramos no sinal vieram aqueles meninos limpar o pára-brisas.Ele perguntou-me quem eram e eu disse: “São meninos de rua”. Ele perguntou:“Como, eles não têm casa?” Fui dizendo que alguns até tinham casa, mas nãopodem voltar para lá… E ele foi se apavorando e ficando chocado… Naquelanoite, não conseguiu jantar, andou no jardim de um lado para o outro até quaseuma hora da manhã, depois foi dormir. No dia seguinte, fez uma grande pregaçãosobre a caridade de Cristo.

Para ele, aquilo era como uma verdadeira bomba. Ele ficou emestado de choque com a situação das nossas crianças, enquanto eu, confesso avocês, não tinha uma reação além de um misto de compaixão e de medo. Issoacontece porque nós já nos tornamos insensíveis diante da tragédia dadesigualdade social que fere profundamente o nosso povo.

O valor da vida é uma questão também muito séria. Hoje, apessoa só tem valor na medida em que produz ou consome, isto é, tem umautilidade de lucro. Por isso, a eutanásia, o aborto e as manipulações genéticasestão aí. O homem começa a brincar com o dom sagrado da vida, não em vista dobem da vida, mas do egoísmo, dos projetos particulares e pessoais, não levandoem conta que a vida é muito maior do que ele, é de outro, é dom de Deus.

A família é atacada continuamente. Todas as novelas estão aípara bombardear o senso do matrimônio, do amor, da família. Estão tirando danossa mente, do nosso entendimento, que o homem foi feito por amor e para oamor.

Quanto à ética, infelizmente, vivemos numa dimensão da“ética de conveniência”, pautada não nos valores fundamentais da humanidade, naquiloque é justo, certo, verdadeiro. Falamos da falta de ética dos governantes – e épreciso olhá-la, mesmo –, mas muitas vezes nos esquecemos de olhar a nossaética: “Como estou lidando com os valores da verdade, da justiça, da igualdade,da honestidade. Será que tenho milhões de desculpas para ser suscetível diantedesses valores, para acomodá-los aos meus conceitos?” Se sou assim, não tenhodireito de questionar a ética de quem quer que seja.

A ética, os valores da justiça, da verdade, da honestidade,são universais, não são subjetivos nem de conveniência. E a construção do homeme de uma sociedade depende fundamentalmente desses valores.

 

Quem constrói o homem, constrói o mundo

Certa vez, o Cardeal D. Lucas Moreira Neves contou umahistorinha. Havia um homem que levara trabalho para casa e o filho delesolicitava sua atenção continuamente. Então, querendo se ver “livre”, parapoder se dedicar ao trabalho, o pai deu ao filho um quebra-cabeça de 200 peças,dizendo: “Monte, quando você terminar, brincarei com você”. O quebra-cabeçaformava o mapa do globo terrestre.

Muito contente com a perspectiva de logo brincar com o pai,o menino foi montar o quebra-cabeça. Depois de 15 minutos, voltou: “Pai,terminei”. Estupefato, o pai verificou que o mapa do mundo estava completo eperguntou como o filho conseguira montá-lo tão rápido. O menino respondeu: “Foisimples, esse quebra-cabeça forma duas figuras: de um lado, o mapa, do outro, ocorpo humano. Do lado do corpo foi mais fácil”. Moral da história: montando o homem,você monta o mundo; construindo o homem, você constrói o mundo.

Na maioria das vezes, queremos resolver os problemas domundo, mas nos esquecemos de quem faz o mundo ser como é. Então, se vocêresolver o problema da pessoa humana, fazendo com que ela tenha uma novamentalidade, uma nova vida, tudo o que ela realizar será diferente.

Portanto, as idéias, as filosofias, os planos são bons, masapenas eles não podem mudar o mundo. O caminho, o meio para transformar o mundoé o coração do homem. Mas existe algo pelo qual o coração do homem muda: a fé.

A fé coloca o homem no seu devido lugar, lhe dá aconsciência de que não é absoluto; é importante, é dom de Deus, é a criaturamais bela, é a plenitude da criação, mas não é o criador. O Criador, o absolutoé Deus.

Quando o homem nega Deus, perde o sentido de si mesmo, sedegrada, é capaz de fazer coisas que nem os animais fazem. Perdendo o senso dafé, perde também o senso da justiça, da verdade, da ética e realiza coisasinimagináveis, porque sai do eixo fundamental para o qual existe: existe porqueDeus o fez, e o fez à sua imagem e semelhança, portanto, para que ele sejahomem pleno, é fundamental que se relacione íntima e profundamente com seuCriador. Só em Deus o homem é homem e só nele pode ser feliz.

Sem Deus, não é capaz de pensar no outro, porque nãocompreende que faz parte de uma família: que Deus é Pai e todos são irmãos.Então acredita-se absoluto, acima de tudo e de todos.

Então, é indispensável ao homem a fé. E essa fé não pode serem qualquer coisa ou pessoa, importa é crer em Deus. Hoje, comovivemos num mundo consumista, parece que vamos a um supermercado onde há fépara todos os gostos.

A fé deve ser objetiva, clara, em Deus. Uma fé na verdade.E quem é a verdade? Jesus Cristo disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.Portanto, a verdade é uma pessoa: Jesus Cristo, o Filho de Deus que veio vivera vida dos homens e mostrar-lhes o que é a vida, o que é a verdade e qual ocaminho para essa verdade.

Em Jesus temos a resposta para todas as nossas questões epara reconstruir o coração de todos os homens, em todas as áreas: pessoal,profissional, familiar, moral. É preciso, pois, conhecer o pensamento de JesusCristo, amá-lo, deixar que Ele entre na minha vida, ilumine minha razão,faça-me compreender a verdade da vida e a verdade do homem.

Aproximando-se de Jesus Cristo e sabendo quem Ele é, sóassim o homem descobre quem é e para que foi criado e encontra soluções para asua vida. É preciso uma fé que me faça aderir a Ele e às suas exigências.Quando eu creio, apesar de toda a minha fraqueza, me aproximo dele e o sigo.

 

Uma fé comprometida com a vida

A medida da nossa fé é a medida da transformação da nossavida. Quanto mais cremos, mais nos aproximamos da graça de Jesus Cristo e maisEle nos transforma. Se a nossa vida é do mesmo jeito anos e anos a fio, algonão vai bem com nossa fé. A fé precisa transformar a nossa vida.

Jesus vai nos transformando, mas não nos retira do mundo,porque deseja que transformemos o mundo. Ele vai nos libertando do pecado e nosenviando para, com a sua graça, transformar o mundo.

Não é fácil, no mundo de hoje, ter fé e ser instrumento detransformação. Certa vez o Papa João Paulo II, reunido com os jovens em Tor Vergata, disse:“Queridos jovens, num mundo assim, é difícil acreditar? Sim, é difícil, nãovale a pena escondê-lo. É difícil, mas, com a ajuda da graça, é possível”.

Às vezes, para nós, a palavra difícil toma a cor doimpossível. Mas para Deus nada é impossível!

É a isto que Deus nos chama, : penetrar na área da educação,da saúde, da política, da economia… e transformá-las. Não vamos fazê-lo deuma maneira grandiosa nem da noite para o dia, mas pelo testemunho da nossavida, na medida em que vivemos de maneira coerente, uma vida iluminada pela fé em Jesus Cristo. Quandovocê for capaz de, se necessário, dizer “não” enquanto todos dizem “sim”.

O Papa diz na Christifidelis Laici: “Os fiéis leigos sãochamados por Deus para que aí, exercendo seu próprio ofício, inspirados peloespírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro,como fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros. Antes de mais nada,pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança ecaridade. É na sua situação intramundana que Deus manifesta o seu plano ecomunica a especial vocação de procurar o Reino de Deus tratando das realidadestemporais e ordenando-as segundo Deus”.

É, pois, na sua situação, médico, professor, mãe de família,empresária, político, técnico, operário… na situação em que você se encontra,deve viver sua fé, com os desafios que isso comporta.

Lembro-me de quando eu fazia o segundo ano do ensino médio.Estava começando meu processo de conversão e tentava evangelizar minha turma.Tinha grandes amizades com os professores, mas havia um professor – que tambémera o coordenador do colégio – que era um grande desafio para aquela tarefa deevangelizar. Certo dia, fiz uma prova de inglês, a média era cinco e eu tireiquatro. Quando veio o boletim, a nota que estava lá era um seis. Pensei: “Puxa,é a providência divina. Que maravilha!” Fiquei feliz. Mas naquele instante Deusfalou no meu coração: “Você não tirou seis, tirou quatro”. E eu respondi: “Sim,mas não tenho culpa de ter vindo essa nota, o erro não foi meu”. E eu sentiaainda no coração: “É, você não errou, mas pode estar errando agora”. Entãocomeçou a luta interior: “O que faço?”.

Passei o recreio inteiro naquela agonia. Até que decidi sercoerente. Fui dizer que minha nota estava errada para mais. O coordenador medisse: “Meu filho, estou estupefato! Há vinte anos trabalho nessa escola enunca vi alguém reclamar por uma coisa dessas. Fique com o seis mesmo, voufalar com seu professor”. Ele falou com o professor, que também ficouestupefato. E caiu a minha maior barreira para a evangelização, não pela minhavirtude, mas pela minha obediência. Eles viram a coerência da vida com a fé. Ea partir dali muitos começaram a se engajar.

 

A ótica de Cristo

O Papa João Paulo II identifica esse caminho com o martírio:“Também hoje, caríssimos amigos, crer em Jesus, seguir Jesus pelas pegadas dePedro, de Tomé, dos primeiros apóstolos e testemunhas, implica uma tomada deposição a favor dele. E não raro, quase um novo martírio, o martírio de quemhoje, como ontem, é chamado a ir contra a corrente para seguir o divino mestre,para seguir o Cordeiro, que é Jesus Cristo, por onde quer que Ele vá. Talveznão vos seja pedido o sangue, mas a fidelidade a Cristo, é certo que sim”.

O grande martírio dos cristãos de hoje é a fidelidade aJesus Cristo. Nas questões da vida, da justiça, da verdade. Olhar o mundo comos olhos de Jesus. Analisando as questões da nossa vida com os valores de JesusCristo. “Se Jesus estivesse no meu lugar, o que Ele faria? Como Ele vê essasituação? Como a Igreja, que é a mediadora de Cristo hoje, a vê?”

E os olhos de Jesus são os olhos da verdade, da justiça, dopensar no outro, não viver centrado em si mesmo são os olhos da partilha, dagenerosidade. “Há maior alegria em dar do que em receber”, diz o Evangelho.

Olhar com os olhos de Jesus é olhar sob a ótica do valor davida. O Santo Padre João Paulo II beatificou recentemente um casal que viveu nocomeço do século passado. Quando ela estava na quarta gravidez, o médicodiagnosticou um problema na placenta que era quase certo resultar em óbito, naépoca, e aconselhou o aborto. Mas ela e o marido decidiram não abortar. Nãofoi, vocês podem imaginar, uma decisão fácil. A filha mais velha conta como foia decisão: “Nós, os três filhos, estávamos com nosso pai na igreja, ondediariamente assistíamos à missa. Ele estava muito abatido, foi se confessar eficou longo tempo ali. Tínhamos os olhos vidrados nele porque sentíamos quealgo muito grave estava acontecendo. De repente, vimos nosso pai baixar acabeça e colocar as mãos no rosto. Chorava muito. Ao sair dali, levou-nos paracasa, nos reuniu, ele e a mamãe, que não foi à missa por já estarimpossibilitada de andar por conta do problema na gravidez, e nos disseramserenamente, vocês vão ter um novo irmãozinho ou irmãzinha”. E a mãe nãomorreu, mas poderia, como aconteceu a Santa Gianna Beretta Molla.

Tiveram quatro filhos: dois foram padres, uma religiosa euma leiga engajadíssima. Foram marcados profundamente pelo senso da vida e dafé, pelos valores da vida e da eternidade. Eles não decidiam simplesmente emfunção do momento que viviam, mas em vista da felicidade e da eternidade.

É necessário levar esse senso da vida, da verdade, dapartilha, do amor, da justiça, da eternidade, da pessoa de Jesus Cristo para ocoração do mundo, e levar pela nossa vida.

O mundo precisa de homens e mulheres que não vejam as coisascomo todos as vêem, mas que estejam dispostos a comprometer toda a sua vidapara levar essa nova visão, um olhar de eternidade. É preciso homens e mulheresque sejam profetas, tomando a posição de Deus, da vida. Que o Senhor nos dê agraça, coragem e fé para construirmos um mundo novo, a civilização do amor.

 

Pregação ministrada no Congresso do Projeto Mundo Novo daComunidade Shalom


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