Formação

Paulo, participante dos sofrimentos de Cristo

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Josefa Alves
Missionária da Com. Católica Shalom

A experiência a caminho de Damasco, que mudou radicalmente avida de Paulo, tornou-se o centro de onde emanava toda a força para arealização da sua missão. Evangelizar, testemunhar aquele amor, tornou-se a suameta, e a grandeza dessa missão recompensava qualquer luta, perseguição,sofrimento.

 Porque associado aCristo, seu sofrimento era enraizado na alegria (2Cor 7,4). A possibilidade dealegrar-se em meio às tribulações, não é estranha àqueles que vivem umamisteriosa participação aos sofrimentos e glórias de Cristo. Existe aqui, umaíntima união entre tribulação e consolação: “Na verdade, assim como ossofrimentos de Cristo são copiosos para nós, assim também por Cristo é copiosanossa consolação” (1Cor 1,5). Paulo compreendeu que, o mistério da Paixão estácontido no mistério Pascal; que as testemunhas da Paixão de Cristo são,necessariamente, testemunhas da Sua Ressurreição. Esta foi a sua experiência,este foi o seu testemunho vivido, pregado e escrito; ele compreendeu que osofrer não é um absurdo, nem uma crueldade de Deus, mas um grande dom de amor.

Como o Bom Pastor (Jo 10) que dá a vida por suas ovelhas,Paulo expôs a própria vida pela salvação daqueles que o Senhor lhe haviaconfiado; ele sabe que ser pastor significa também guardar o rebanho de todoperigo e não subtrair nada do plano de Deus.

No livro dos Atos dos Apóstolos, encontramos um emocionantediscurso de Paulo aos anciãos de Éfeso, onde, em meio à dor da separação eledeclara: “Eu servi ao Senhor com toda a humildade, com lágrimas, e no meio dasprovações que me sobrevieram pelas ciladas dos judeus” (At 20,19). Lendo estaspalavras recordamos de súbito tantas das expressões com as quais Paulo descrevenas suas cartas, as fadigas suportadas para anunciar o Evangelho. Aqui elerecorda aos presbíteros que a grande característica do seu ministério foi este“servir o Senhor ”, “com humildade ”, “entre as lágrimas ” e “provas ”. Seusopositores eram principalmente os judeus, seus correligionários de um tempo,que o consideravam um renegado e um traidor. Não faltavam hostilidades tambémpor parte dos pagãos. As lágrimas de Paulo são o oposto da alegria do pastorque reconduz ao redil a ovelha perdida, a alegria do pai misericordioso queencontrou o filho perdido. Isso quer dizer que as suas lágrimas expressam a dor,a inquietude, a angústia e a preocupação diante do perigo ao qual estãoexpostos alguns cristãos, podendo perder a salvação, ou seja, a vida eterna.

Na segunda carta aos Coríntios temos o testemunho de umverdadeiro apóstolo, de alguém que ofertou-se livremente por amor a Cristo eaos seus filhos espirituais: “Aquilo que os outros ousam apresentar – falo comoinsensato – ouso-o também eu … Muito mais, pelas fadigas; muito mais, pelasprisões; infinitamente mais, pelos açoites. Muitas vezes, vi-me em perigo demorte. Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Três vezesfui flagelado. Uma vez, apedrejado. Três vezes naufraguei. Passei um dia e umanoite em alto-mar. Fiz numerosas viagens. Sofri perigos nos rios, perigos porparte dos ladrões, perigos por parte dos meus irmãos de estirpe, perigos porparte dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar,perigos por parte dos falsos irmãos! Mais ainda: fadigas e duros trabalhos,numerosas vigílias, fome e sede, múltiplos jejuns, frio e nudez! E isto semcontar o mais: a minha preocupação cotidiana, a solicitude que tenho por todasas Igrejas!”

Somente quem sabe manter acesa a chama do amor de Cristopode vencer as mais duras e humilhantes provas! Os pseudo-apóstolos rapidamentecedem as armas ao verem despontar os primeiros obstáculos e perigos.

Após ter sido conquistado por Cristo (Ef 3,12) toda a suavida encontrou sentido somente naqueles que por amor se entregou: “Já não soueu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu avivo pela fé no Filho de Deus, que amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gal2,20).

Sua experiência, embora muito pessoal, tornou-se testemunhoe modelo para aqueles que, conquistados por Cristo, sentiam o apelo de participarplenamente da Sua vida. Ele “comunica a sua própria descoberta e alegra-se portodos aqueles a quem ela pode servir de ajuda – como o ajudou a ele – parapenetrar no sentido salvífico do sofrimento” .

São profundas e inesgotáveis as riquezas e os benefícios domistério de Cristo – da sua kenosis, da sua vida terrena, da sua Paixão, Mortee Ressurreição – por isso o apóstolo é feliz por ser inserido em tal mistério:“Agora eu me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e completo, na minha carne,o que falta das tribulações de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja” (Col1,24). Com esta frase, Paulo não quer dizer que a Paixão de Cristo foiincompleta; seria absurda tal afirmação. Ele afirma que apesar na eficácia dosacrifício de Cristo, ainda são necessárias fadigas e sofrimentos para difundiro Reino de Deus até os extremos confins da terra. Essa missão é confiada aosapóstolos de todos os tempos. Mas tais sofrimentos não têm um valor em simesmos, somente enquanto unidos a Cristo e inseridos no poder redentor da Suacruz.

Em todos os seus escritos, Paulo testemunha uma claraconsciência do valor salvífico do sofrimento de Cristo, por isso pode afirmar,com autoridade: “que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com aglória que deverá revelar-se em nós. Pois a criação anseia pela revelação dosfilhos de Deus” (Rm 8,18).


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