Emfevereiro de 1979, a 3ª Conferência Geral do Episcopado da AméricaLatina, em Puebla, no México, profeticamente assumia, como IgrejaCatólica, a opção preferencial pelos jovens. Este desafio, posto trintaanos atrás, não contava com a complexidade e com as radicais mudançasdestas três últimas décadas: uma virada antropológico-cultural,política e religiosa de incidências incalculáveis e de problemasgravíssimos, que estão desafiando o pensamento e a gerência degovernos, de igrejas, de instituições e de toda a sociedade.
Osjovens estão clamando por uma atenção mais adequada e uma coragemaudaciosa e inteligente no enfrentamento deste desafio, que guarda noseu bojo o absurdo da dizimação das juventudes pela violência, peladependência química e pela falta de sentido autêntico para viver avida. Trinta anos atrás, talvez na complexidade da realidade daquelaépoca, sobressaía, particularmente, a sensibilidade aos problemassociais e aquela rebeldia e rejeição dos jovens – reveladas por gestosproféticos e de alcance políticocultural – a uma sociedade invadida porhipocrisias e contravalores. Naquele tempo, focalizava-sea falta de abertura e de diálogo dos adultos, impedindo que o dinamismocriador da juventude se tornasse força no desenvolvimento do corposocial.
Osdesdobramentos sócio-antropológicos e culturais têm levado a situaçãodos jovens a patamares preocupantes. Não se pode deixar de avaliarpermanentemente a complexidade das juventudes como vítimas de umadizimação precoce, que deixa um passivo terrível para o futuro dasociedade. Apesar das indiferenças, dificuldades e interesses queestreitam sua capacidade dinamizadora, os jovens continuam a ser umaenorme força renovadora.
Mesmoreconhecendo a evolução no tratamento da realidade das juventudes porparte dos governos, não é injusto dizer que ela aconteceu tardiamente ecom incidência pífia frente à gravidade desta questão. É significativoo que se tem feito e o que está projetado. Contudo, ainda é poucodiante das urgências e do que se faz necessário para mudar este quadrodesolador, comprovado por estatísticas de mortes causadas por todos ostipos de violências. E também pela morte lenta imposta pela dependênciaquímica, que está corroendo a vida das juventudes desde a mais tenraidade. Os jovens devem ser uma opção de todos: da Igreja Católica, deoutras instituições não governamentais e também das famílias. Isto devesignificar a inclusão da realidade e da causa da juventude na pautapermanente de discussões, de preocupações e, sobretudo, de açõesconcretas.
A5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe,realizada no ano de 2007, em Aparecida, renovou, em estreita união coma família, a opção preferencial pelos jovens, com o compromisso de darum novo impulso à pastoral das juventudes nas comunidades, buscando umaatuação mais determinante para reverter as feições graves de suarealidade. A exclusão dos jovens, vítimas das sequelas da pobreza, éuma questão séria da socialização, cuja transmissão de valores já nãoacontece primariamente nas instituições tradicionais, mas em ambientescom forte carga de alienação. Não menos preocupante é a permeabilidadeda juventude a novas formas de expressões culturais, produto daglobalização, afetando sua identidade pessoal e cultural. As crisesfamiliares têm acarretado profundas carências afetivas e sériosconflitos emocionais. É preciso reverter a educação de baixa qualidade,os enfoques antropológicos reducionistas, sua ausência das discussões edas políticas públicas, os abusos na comunicação virtual.
Gravetambém é a dependência química, que no Documento de Aparecida, nº 422,é “como uma mancha de óleo que invade tudo. Não reconhece fronteiras,nem geográficas, nem humanas. Ataca igualmente a países ricos e pobres,a crianças, jovens, adultos e idosos, a homens e mulheres”. A sociedadenão pode apenas informar-se sobre as estatísticas deste flagelo. Épreciso trabalhar com afinco e inteligência na prevenção e também noacompanhamento, com redobrado e decisivo apoio das políticasgovernamentais para reprimir esta pandemia. É urgente falar mais doassunto, iluminar estas sombras, prevenir e pensar o quanto énecessário conduzir as novas gerações a experiências mais fortes eradicais do valor da vida e do amor. Jovens, esta é uma opção de todos.