Estamos no início de um novo ano e faço votos que os leitores estejam bem dispostos a fazer o caminho que temos pela frente. Quando termina um ano e inicia um novo, as preocupações e atitudes das pessoas são muito diversificadas: consulta de cartomantes, adivinhos ou videntes, amuletos para espantar os males, uso de roupas “para atrair a sorte”, certos tipos de comida ligados a bons presságios… Sem falar do espocar de champanhes e foguetes, para “acordar as forças cósmicas e atrair bons fluidos”, mesmo se, depois, é mesmo a ressaca que vem e o ar fica poluído, de tanto enxofre liberado em forma de som e luzes coloridas… Isso tudo adianta alguma coisa?
Há, certamente, um incentivo difuso e insistente na opinião pública, e já incrustado na cultura, para confiar a não sei quê tipo de forças ocultas a condução dos destinos de um ano que começa. Será o medo de encarar a responsabilidade sobre a própria vida? Será pouca fé em Deus? Mesmo assim, será a necessidade de crer e de confiar em “alguma coisa”, que seja mais poderosa que nós mesmos e nos ajude a enfrentar o desconhecido que se abre diante de nós a cada início de ano? São Paulo já chamava a atenção dos Colossenses, também eles ainda sujeitados ao medo do acaso e de forças cósmicas desconhecidas, dando atenção a “teorias e conversas sem fundamento…. segundo os elementos do cosmo, e não segundo Cristo: que ninguém vos engane!” (cf Cl 2,8).
Um dia sucede a outro e não é a virada da última folhinha do calendário que vai trazer, magicamente, alguma mudança na vida; nem será ela capaz de desencadear forças ocultas, que tragam o bem ou o mal… Cada ano, cada mês, cada dia, hora e minuto são um presente de Deus para nós. “Quem, com suas preocupações, é capaz de acrescentar um só dia à duração de sua vida?” – perguntava Jesus (cf. Mt 6,27). É Deus o senhor do tempo e da história; foi Ele que nos tirou do nosso nada e nos fez entrar no tempo (quem, por si mesmo, decidiu nascer?); a cada manhã, acorda-nos novamente para a vida e nos chama a sermos construtores da nossa história, a colaborar na sua obra, livre e generosamente. Mostra-nos o caminho e nos convida a seguir por ele; ilumina nossos passos, se queremos andar na sua luz; quer ser nosso companheiro de caminho no peregrinar pelo tempo, se aceitamos sua companhia…
O início de um novo ano, portanto, é tempo para renovar nossa fé em Deus, aderindo com confiança aos seus desígnios sobre nós e o mundo. Com o salmista, peçamos também nós cada dia: “ensinai-nos a bem contar nossos dias e dai ao nosso coração sabedoria!” (Sl 90,12). Sim, boa sabedoria é conhecer os caminhos de Deus e tomar a decisão de seguir por eles. São seguros e nos permite mandar com liberdade na direção boa, dando sentido à vida: “Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos para que eu caminhe na vossa verdade” (Sl86,11). O novo ano será tão bom quanto nós o fizermos acontecer, com a ajuda de Deus. Não será bom, se nós, ou outros, agirmos fora dos planos de Deus; nossas ações pessoais têm repercussões, não apenas sobre nós mesmos, mas também sobre os outros e sobre o mundo; para que o ano seja bom, é fundamental viver e agir de forma responsável cada dia, pensando no nosso bem, mas também no dos outros.
Não é o início do ano que faz o ano todo ser bom: o ano novo abre-se diante de nós como um projeto a ser realizado cada dia, com esforço e perseverança; por isso, a cada novo dia renovemos nossos bons propósitos e disposições. Por outro lado, iniciemos confiantes cada novo dia; Jesus ensinou que, “cada dia, bastam os próprios cuidados” (Mt 6,34). Se queremos passar bem o ano todo, elevemos cada dia nossa prece de confiança na vontade de Deus; e façamos o constante e honesto discernimento sobre aquilo que se passa ao nosso redor, para interpretar bem os “sinais dos tempos”; deixemo-nos conduzir pela mão de Deus: nos seus mandamentos e na sua Palavra Ele nos indica o caminho a seguir.
No início do ano, a Igreja invoca sobre nós a bênção de Aarão, que S. Francisco adotou como sua também: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti; o Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz” (cf Nm 6,24-26). Ter Deus na vida, dá serenidade e paz ao coração. Nada pode abalar a quem segura firme na mão de Deus! Portanto, só me resta desejar a todos um feliz e abençoado ano novo! Com a graça deDeus e nosso esforço diário!
Dom Odilo Pedro Scherer