“1Naquele tempo, vieram algumas pessoas trazendo notícias a Jesus a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado, misturando seu sangue com o dos sacrifícios que ofereciam.
2Jesus lhes respondeu: “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? 3Eu vos digo que não. Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo.
4E aqueles dezoito que morreram, quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? 5Eu vos digo que não. Mas, se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”.
6E Jesus contou esta parábola: “Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou. 7Então disse ao vinhateiro: ‘Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Porque está ela inutilizando a terra?’
8Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. 9Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás’”.
A conversão constitui o apelo fundamental do Tempo da Quaresma, em preparação à Páscoa. A conversão não é algo de adquirido uma vez porto das. Trata-se de um processo fundamental: consiste fundamentalmente em deixar o mal e fazer o bem.
As leituras deste III Domingo mostram que, através da história, Deus faz apelos à conversão. A partir dela, Deus exerce a sua misericórdia.
O Deus presente na história do povo de Israel tem pena do seu povo e vai libertá-lo dos opressores (cf. 1ª leitura, Ex. 3, 1-8. 13-15). Paulo lembra que nem todos que foram objeto da ação misericordiosa de Deus na experiência do Êxodo corresponderam à Sua misericórdia. Servem de exemplo, de alerta, para que não façamos o mesmo (2ª leitura, 1Cor.10, 1-6. 10-12).
O Senhor espera frutos da figueira, espera frutos de nossa vida cristã. A parábola põe em relevo a paciência de Deus na espera desses frutos. Ele não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (Ez. 33, 11) e, como ensina São Pedro, “usa de paciência convosco, não querendo que alguns pereçam, mas que todos cheguem à conversão” (2Pd.3, 9). Esta paciência, ou essa clemência divina, não nos pode levar a descuidar os nossos deveres, assumindo uma posição de preguiça e comodidade que tornaria estéril a própria vida. Deus, ainda que seja misericordioso, também é justo, e castigará as faltas de correspondência à Sua graça.
Para ser um autêntico discípulo do Senhor, temos de seguir o seu conselho: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt. 16, 24). Não é possível seguir o Senhor sem a Cruz. Carregar a cruz – aceitar a dor e as contrariedades que Deus permite para nossa purificação, cumprir com esforço os deveres próprios, assumir voluntariamente a mortificação cristã – é condição indispensável para seguir o Mestre.
“Que seria de um Evangelho, de um cristianismo sem Cruz, sem dor,s em o sacrifício da dor?, perguntava-se Paulo VI. Seria um Evangelho,um cristianismo sem Redenção, sem Salvação, da qual – devemos reconhecê-lo com plena sinceridade – temos necessidade absoluta. O Senhor salvou-nos por meio da Cruz; com a Sua morte, devolveu-nos a esperança, o direito à Vida…” Seria um cristianismo desvirtuado que não serviria para alcançar o Céu, pois “o mundo não pode salvar-se senão por meio da Cruz de Cristo”.
O cristão que vive fugindo sistematicamente do sacrifício, que se revolta com a dor, afasta-se também da santidade e da felicidade, que se encontra muito perto da Cruz, muito perto de Cristo Redentor. “Senão te mortificas, nunca serás alma de oração” (Sã Josemaria Escrivá –Caminho, 172). E Santa Teresa ensina: “Pensar que (o Senhor) admite na Sua amizade gente regalada e sem trabalhos é disparate”.
Mons. José Maria Pereira