Nas Sagradas Escrituras,encontramos uma passagem que descreve com clareza o mais profundo desejo docoração de todos os homens: “Minha almatem sede de Deus, do Deus Vivo: quando voltarei a ver a face de Deus?” (Sl42/43).
Nunca a alma do homemgritou, gemeu e chorou tanto de fome e sede de Deus como nos tempospós-modernos. Isto porque a sociedade nunca esteve tão paganizada e o homem nuncaesteve tão agitado pelos ventos de doutrina que sopram nas mais diversasdireções. Nunca o desejo de encontrar o Absoluto lançou com tanta violência ohomem nas garras de seus próprios conceitos e ideologias. Jamais vimos tão bemmontado, no seio da sociedade, o tenebroso cenário que Bento XVI chama deditadura do relativismo, que nada reconhece como definitivo.
Perdida nestasmisturas, sufocada por uma infinidade de meias verdades, a alma humana seguecom fome e sede da Verdade, do Absoluto, da Paz. Nenhuma realidade humana,entretanto, escapa ao amoroso olhar de Deus, por isso está escrito: “Eis que virão dias em que enviarei fome à Terra,não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a Palavra do Senhor” (Am 8,11).
A vida dos homens,mesmo os que se afirmam mais independentes de Deus, traduz-se em uma procura angustiadapor algo que os arranque da insegurança do que é passageiro, que lhes dissipeas trevas do subjetivismo, que lhes ilumine o tortuoso caminho do pecado e damorte e lhes mostre o Caminho da estreita porta da salvação. A natureza humana anseiapelo definitivo, pois somente o que é eterno pode lhe saciar a sede da alma. DiziasantoAmbrósio que “nadapode manter a alma humana viva exceto a Palavra de Deus”.
Portanto, não se trataaqui de algo acidental, relativo ou opcional para o homem, mas da única coisa quelhe é Essencial, capaz de lhe garantir a salvação eterna. É justamente estecaráter de eternidade presente na Palavra de Deus, que faz de seu CONHECIMENTOe seu ANÚNCIO duas urgências inseparáveis.
A primeira urgênciaestá bem estabelecida no coração dos “Tomés” pós-modernos: urgência estampadana crescente crise de fé e moral do homem, urgência revelada pela apologia àsconcupiscências, que ditam os valores da sociedade, urgência evidenciada pelacultura de morte que invade as linhas de pesquisa, as famílias e a política. Urgêncialógica de quem desconhece o poder performativo da Palavra de Deus, revelada nasEscrituras e transmitida pelos apóstolos através da Viva Tradição da Igreja. Somentea Palavra de Deus pode penetrar as profundezas da alma destes “Tomés” e aí acendera luz da Verdade e fazer soprar o Vento Impetuoso da vida nova.
Mas existe uma segunda urgência, que constitui-seum fruto concreto da primeira. Urgência inseparável do Corpo Místico de Cristo desdeo dia de Pentecostes. Como todo Corpo, a Igreja tem o alimento que a mantémViva, e que ao ser ingerido inicia um processo irreversível de digerir paraabsorver, absorver para nutrir, nutrir para formar, formar para renovar,renovar para desenvolver, desenvolver para novamente buscar o que ingerir. Omovimento de busca pelo alimento aquece o Corpo, que é incapaz de reter ocalor! Se a Palavra de Deus é o alimento da Igreja, o calor da busca mantém oCorpo aquecido e queima com o Fogo da Palavra os que Nele tocam.
Quem vive da Palavra, ainda que deseje, não podeprivar-se de anunciá-la, de transmiti-la, pois Esta já deixou de ser meroalimento para transformar-se em músculos, sangue e vísceras, em calor do corpo,torna-se a própria vida. Não há mais separação, é a mesma substância. Por issoSão Paulo diz que “Anunciar o Evangelhonão é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu nãoanunciar o Evangelho” (1Cor 9,16).
Neste ponto, o anúncio da Palavra ganha caráter de urgência,quando já não pode ser vivido como algo externo, como uma atividade solidáriaqualquer, mas sim como vontade de Deus, como vocação, como identidade pessoal, comovia autêntica e segura de santidade.
Portanto, podemos afirmar que conhecimento eanúncio da Palavra unem-se como duas urgências vitais. Negar a qualquer serhumano a urgência do conhecimento da Palavra é condená-lo à morte, dando-lhe pedrasabendo quem tem fome de Pão. Por outro lado, quem conhece a Palavra e nega aurgência do seu anúncio, este decreta sua própria morte de fome, pois mesmotendo Pão, come a pedra por não saber a diferença entre os dois.