Diante da realidade, vejo que não existe só fanáticoreligioso ou de futebol. São muitos e mais graves os fanatismos que nosrodeiam, fazendo de nós objetos de joguetes nas mãos de alheios, escravos dasmáquinas. O nosso ser gente, pessoa, com coração e sentimentos humanos parahumanizar as relações, é substituído pela frieza da técnica cada vez mais ágile cheia de surpresas.
A civilização da máquina, dos computadores traz umingrediente tremendamente perigoso, chamado fanatismo. Os relacionamentos entrepessoas acabam acontecendo online. O Orkut, MSN, Twitter, blogs etc. vemsubstituindo o contato humano de coração a coração.
O fanatismo tecnológico acaba com a vida de pessoas quenecessitam de afeto, carinho, calor humano. Caminhamos para uma desumanizaçãocada vez maior. O ser humano cercado de botões e automatis mos perde o sentidoprofundo de ser gente; isso tem sabor de morte.
Outro fanatismo, não menos pior, é o fanatismo político. Ascomunidades marcadamente cristãs são levadas a viver, não só durante o pleitoeleitoral, mas depois e por muito tempo, as chagas da divisão, do ódio, dainimizade.
A luta por partidos, a defesa ferrenha de candidatos, porpuro fanatismo, como se fosse a única verdade, o único candidato verdadeiro ejusto na face da terra, cria e continua criando verdadeiro clima de guerra.
Pessoas amigas, parentes e vizinhos já não se conhecem maisdepois das eleições. Essa é a consequência mais forte e lamentável que fica nasociedade e na Igreja. Por mais cristão que seja, por mais abertura que setenha, por mais liberdade que se promova, sempre fica a marca diabólica dofanatismo político sem razão e muito menos coração.
Não de hoje e nem de amanhã, assistimos verdadeiras guerraspromovidas pe lo fanatismo religioso. Como entender que pelo fato de eu crer demodo diferente, de cultivar um sentido religioso que foge às convicções deoutros, ou até do que é mais sagrado para mim, eu tenha que ser exorcizado daface da terra?
Como entender hoje que, em nome de Deus, se deve matar oumorrer? No meu pobre entender, não tem outra explicação do que o fanatismocriado pela visão obtusa da verdade para mim. Com que direito, em base a queverdade se justifica a exclusão, o preconceito, o julgamento de quem se salvaou não, e até o direito de matar ou morrer só porque me fechei em uma única epura verdade para mim?
Certamente não existem parâmetros para justificar na nossacultura, que alguém seja tomado pelo poder do fanatismo religioso, e comece aestabelecer aqui na terra o julgamento dos homens e do mundo. Só tem um único eeterno Juiz. Aliás, Ele é a Justiça.
Diante deste quadro que poderia continuar a ladainha dosfanatismos, quero aqui recordar que fomos criados homens e mulheres à imagem esemelhança de Deus, para sermos livres, a fim de viver a vida na sua dimensãomais humana possível.
Podemos estabelecer critérios, normas, estilos de vida,jeitos de viver sem ignorar tudo o que existe de mais moderno e técnico.
Porém, o resgate cada vez mais urgente do valor da pessoa,do humanismo cristão, que tem sua raiz no amor humano, no afeto, no carinho, nosentir o outro como gente, fará com que, na força do amor gratuito e generoso,que vem daquele que é o Amor, se viva a verdadeira vida.
Assim teremos um mundo onde a cultura da vida triunfarásobre a cultura da morte. Sem fanatismos, com a mente e o coração abertos,podemos começar a amar de verdade.