Jesus não anula a Lei da Antiga Aliança dada ao povo, mas a torna plena. No Antigo Testamento, a relação que o povo judeu tinha com a Lei era de legalismo, de “obediência pela obediência”. Era uma relação que de certa forma gerava orgulho, porque aqueles que conseguiam se aproximar da obediência perfeita da Lei, no fundo, achavam-se melhores que os outros. São Paulo mesmo diz, em uma de suas cartas, que ele era quase que irrepreensível na obediência da Lei, mas que aquilo, diante da graça trazida por Jesus Cristo, não tinha valor.
Não há dúvida de que, no Novo Testamento, a relação do fiel com a obediência, com o cumprimento dos mandamentos e da Lei, mudou de tom. Se no Antigo Testamento a obediência estava ligada ao cumprimento de uma Lei para tornar o homem justo diante de Deus, no Novo Testamento Jesus veio falar da obediência a Deus como sinal de amor a Ele. Jesus diz no Evangelho de João: “aqueles que me amam me obedecem”. Jesus associa o amor à obediência. Na Antiga Aliança, obedecia-se para cumprir a Lei. Na Nova Aliança, Jesus dá um sentido novo: eu obedeço como sinal de Amor, porque me identifico com Aquele que manda, eu obedeço porque eu amo aquele que manda, porque o Espírito Santo que em mim habita me faz entender o sentido de obedecer àquilo que Deus está mandando que eu faça.
Então, embora a obediência seja a mesma na Nova e na Antiga Aliança, mudou radicalmente a motivação pela qual se obedece. De fato, nós entendemos a obediência hoje como expressão de amor. Nós não obedecemos aos mandamentos de Deus para sermos mais amados por Ele. Não se compra o amor de Deus, como se na medida em que eu fizer o que Ele quer, mais Ele me amará, e se eu deixar de fazer aquilo que Ele quer, Ele deixará de me amar. Isso não é verdade. O Amor de Deus não está condicionado à nossa obediência.
O Pai nos ama gratuitamente. Se Ele nos pede para fazer algo, é para o nosso bem, para a nossa felicidade. O Senhor nos pede sempre para fazer o bem e o devemos fazer por amor. Obedecer, na verdade, significa amar.
Ouça o comentário feito por Carmadélio Souza, membro da Comunidade de Aliança Shalom, sobre o Evangelho de hoje (Mt 5, 17-19):