“Somos vencedores em Cristo, na medida em que O deixamos falar. Jesus não veio trazer milagres, mas seus sinais, e o maior deles é a cruz. A grande vitória é a da cruz!” Assim o arcebispo de Curitiba, dom José Antônio Peruzzo, relacionou o Evangelho de João com o tema do Retiro de Semana Santa da Comunidade Shalom “Somos vencedores em Cristo que nos amou”.
Na pregação na manhã da Sexta-Feira Santa, no Centro de Evangelização do Shalom Curitiba, dom Peruzzo motivou uma reflexão dos capítulos 2 e 4 de João, em que o evangelista narra os dois primeiros sinais de Jesus: as bodas de Caná e a cura do filho do oficial do rei.
Recordando que casamento remete, também, ao relacionamento do povo com Deus, o arcebispo ressaltou que um casamento sem vinho é semelhante a celebrar uma aliança sem amor. “O amor do povo por seu Deus está carente de vinho. Maria ali está agindo em favor de um povo que não consegue amar seu Deus. Quem está em intimidade com Deus, percebe a necessidade do outro, quem não está não consegue perceber nem as próprias.”
Por isso, as palavras de Jesus em resposta parecem duras, porque essa falta de vinho não atinge a esponsalidade de Maria. “É como se Ele dissesse ‘isso não atinge a ti e a Mim, mulher’. E aqui, a palavra ‘mulher’, remete a esposa”, explica.
As talhas da purificação estavam cheias, lembrou ele, o que demonstra que não faltava rito e religiosidade ao povo, mas faltava amor. “É no interior e não no exterior que o vinho novo irá agir. Essa ainda não é a salvação, mas um sinal de que o Salvador chegou. Não se trata de procurar milagres, mas de fazer o que Ele diz. Jesus manifestou sua glória, manifestou o quanto amava aqueles carentes de vinho, o povo que festejava a aliança, mas não conseguia amar o seu Deus.”
Para que nós, povo de hoje, não corramos o risco de uma religião apenas de exterioridade, dom Peruzzo convidou os participantes do retiro a se fazerem carentes de vinho, olhando para dentro de si. “Cada um sabe onde está amando de menos. E o que o Senhor nos diria? É preciso ler e reler sua Palavra. A leitura orante da Palavra é uma condição, para não corrermos o risco de querer buscar o Senhor sem ouvi-lO. Se falta oração contemplativa, não ouvimos sua voz. Sem o silêncio, até o louvor fica comprometido. Hoje, no mundo, há barulho demais e reflexão de menos.”
Passando para o capítulo 4 de João, que narra o segundo sinal de Jesus, o arcebispo de Curitiba explicou que a necessidade daquele homem poderoso não era um sinal, um milagre para seu filho que estava doente, mas a fé. “Na hora em que ele creu na Palavra de Jesus, ‘Vai, teu filho vive’, e se pôs a caminho, ele foi um vencedor em Cristo. Ele não tinha nenhuma segurança, não tinha telefone ou whatsapp para confirmar se o filho estava bem, apenas creu. Quem crê e se põe a caminho passa por um processo de transformação interior impressionante.”