Quando começamos a pensar na nossa vida missionária, várias coisas vêm à lembrança. Neste momento penso: como começar a falar da minha experiência com Deus?
Aos dezenove anos, tive a grande oportunidade de fazer faculdade em Natal (RN), uma cidade abençoada, onde o Carisma Shalom já tinha forte presença, mas ainda não havia me alcançado. Em um semestre em que as aulas já tinham começado, uma pessoa despretensiosamente falou-me do Shalom, dizendo-me onde ficava. Resolvi ir à missa, mas não consegui encontrar o lugar. Cerca de um mês depois, indo pra faculdade, entrou no ônibus uma moça, que olhou diretamente para mim. Senti que ela viria sentar ao meu lado, mas não tinha ideia que ela me faria um convite tão certeiro e que, finalmente, eu encontraria o caminho da felicidade! Ela começou a me evangelizar e me perguntou se eu conhecia o Shalom. Respondi que já havia procurado e que há algum tempo queria conhecer, mas não sabia onde ficava. Para minha sorte, obrigatoriamente meu ônibus passava todos os dias em frente à casa mas, como não havia nenhuma placa informando que era ali, não conseguia identificar. Ela me chamou para ir ao grupo de oração e eu fui. Desde então, não parei de ir ao Shalom.
No mês seguinte, ainda em 2002, aconteceu o Renascer, retiro de carnaval promovido pela Comunidade em várias cidades do Brasil. Ali, tive minha primeira grande experiência com Deus. O mundo mudou completamente para mim, depois do Renascer. Tudo era novidade. Como poderia ter vivido tanto tempo sem aquela experiência maravilhosa? Passaram-se dois anos até que resolvi fazer o Vocacional. Fiz por dois anos. Foi um tempo em que o desafio de deixar para sempre a família atormentava meus pensamentos, mas eu não queria passar o resto da minha vida pensando: “e ‘se’ eu tivesse mandado carta? ‘Se’ eu tivesse entrado na comunidade?” Precisava tomar uma firme decisão e a graça de Deus me alcançou bravamente. Em 2006, fui em missão para Recife. Tempo de cura e de “apaixonamento” ainda maior pelo Carisma. Meus pais sofriam com a minha decisão e eu sofria por não me sentir compreendida por eles, mas posso afirmar com toda convicção: eu estava muito feliz! Sabia que apesar de todas as renúncias, estava fazendo a vontade de Deus e aquilo era o que mais importava para mim.
Segui a caminhada e fui para o Discipulado da Comunidade de Vida em Quixadá. Foi um ano muito intenso, cheio de grandes descobertas, tempo de autoconhecimento, de prova das decisões. Ao final do ano, fui enviada para São Paulo. Lá pude conhecer pessoas que marcaram minha vida para sempre. Quando cheguei, me senti como um filhote de águia que é empurrado pela mãe do ninho para voar. Ou voa ou morre! Decidi voar. Em São Paulo tive a oportunidade de evangelizar em uma penitenciária de segurança máxima, junto a outras comunidades novas, às vésperas do Natal. Tornei-me amiga de um morador de rua.Conheci pessoas do mundo das artes e do futebol. Conheci pessoas que desacreditaram da religião e que afirmavam agora ter uma “relação pessoal” com Deus, sem vincular-se a nada mais, e que, no entanto, permaneciam infelizes.
Coordenei várias vezes grupo de oração com apenas um participante, que perseverava e era grato por perceber na minha vida a determinação e o cuidado de Deus por sua vida. Descobri que verdadeiramente há mais alegria em dar que em receber. Pude sair de mim de várias formas, superar meus medos e minhas limitações. Não me tornei uma “super missionária”, mas uma mulher mais decidida pela vontade de Deus.
Saindo de São Paulo, fui enviada para Aquiraz. Hoje moro na Diaconia Geral, sede da Comunidade Shalom. Conviver com Moysés, nosso fundador, ser olhada por ele nos olhos, ouvir a voz de nossa cofundadora, Emmir, e por ela ser orientada em momentos difíceis, ver e ouvir ao vivo pregações e discernimentos para o rumo da Comunidade são bênçãos que temos na “terra da Paz”. Aqui nesta terra, abracei o celibato, estado de vida que Deus escolheu para mim, e a cada momento vou entendendo o significado de ser mãe espiritual, com suas graças e desafios, ser responsável pela vida de muitos, amá-los e por eles sofrer, com eles se alegrar e deixá-los partir como eu, para a vontade de Deus.
Hoje caminho para os votos definitivos no Carisma Shalom. A cada dia, descubro que o caminho se faz caminhando. Desistir, jamais! Perseverar sempre e dizer junto aos meus irmãos: “Sim Pai, não é fácil, mas eu desejo, eu quero, eu vou. Amém!”
Carolini Albuquerque
missionária da Comunidade de Vida Shalom