Institucional

Como a singela luz de Deus derrubou as bases sólidas do meu ateísmo

comshalom

materiaBom, entre meus dias, nada mais me surpreendia; estava fechada em mim mesma de tal forma que o mundo não andava por aqui, minha rotina parecia ter parado em único dia e desde então esse dia se repetia, se repetia… nada de novo eu me deixava acontecer. E a maioria dos âmbitos da minha vida permaneciam como frutas estragadas que em um dia eu já conseguira saborear; família, amigos, namorado… eram sempre os mesmos fatos, as mesmas coisas, o mesmo mundo que eu não deixava entrar. Mas a podridão e o desgosto desses âmbitos, dessas frutas, não estavam propriamente nelas, mas na forma que eu as enxergava, que meus olhos enxergavam o mundo.

Vivendo dessa maneira, houve um dia em que me decidi ir embora (por apenas uns dias), e comecei a procurar na internet algum lugar para onde pudesse viajar, no fundo, nem eu mesma acreditava que acharia, mas só o ato de ir em busca, procurar, já me aliviaria. Abri o computador e logo depois de entrar no Facebook, encontrei a propagando do Acamps compartilhada por uma amiga antiga minha, dos tempos do fundamental. Fui logo conversando com ela no chat e perguntando se poderia ir mesmo sendo ateia pois na minha cabeça só haveria diversão, brincadeiras, etc. Ao que ela logo me respondeu dizendo que não haveria problema algum pois outros ateus também iriam. Só faltavam dois dias pro acampamento, se não um e eu já estava arrumando minha mala… Hoje eu vejo que talvez não fora coincidência ter a quantia de dinheiro exata que precisava pagar guardada nas minhas economias. Eu já estava decidida a ir, finalmente passar uns dias longe…

Engraçado que foi justamente nesse ato de fugir de tudo e de mim mesma que eu me encontrei, entrando em contato com um eu que pra mim não existia mais pois eu já havia esquecido. Fui perceber, muito tempo depois, que Deus já cuidava de mim ali, com toda a sua primazia, pois bem grande foram as preocupações da minha mãe, ao saber que iria para esse acampamento, sem conhecer praticamente ninguém, mas grande era o ímpeto que Deus colocava em meu coração, antes mesmo de entrar no ônibus lembro que ela me perguntou pela enésima vez se eu queria mesmo fazer aquilo, e eu estava determinada… Porém, quando embarcamos no ônibus e me percebi ali, sentada sem ter ninguém com quem conversar, me veio a primeira onda de pensamento fria: será que eu devia estar fazendo mesmo aquilo? Será que não era melhor ter ficado em casa? Afinal… o que eu estava fazendo? Então ainda perdida nesses pensamentos, vi se aproximar uma menina, que tinha mais ou menos a minha idade, ela mal me apresentou seu nome e já estávamos conversando, e fomos conversando até chegar no local, descobrindo o tanto que tínhamos de comum. Dani. Vi aí a primeira pessoa que o Senhor me quis colocar, na tentativa de não me fazer desistir, de não me deixar ir embora. E tudo ocorreu muito bem, até o dia seguinte.

Tamanha era minha estranheza diante daquelas atividades! Diante daquela alegria, todo mundo pulando, sorrindo, dançando, que coisa mais esquisita, eu pensava… Tivemos várias atividades de manhã as quais eu não saberia denominar, eu desconhecia essas coisas, essa alegria de agir, de louvar. Eu não entendia… Pra quê? Que Deus não existia… Logo comecei a me sentir como um peixe fora d’água e minha primeira vontade foi querer ir embora. Tudo era muito absurdo e diferente de mim. Peguei logo o telefone e liguei para minha mãe, avisando que se ela pudesse me pegar naquela hora mesmo eu iria, até que conversando com ela, percebi não saber o endereço do local e fui perguntar a primeira pessoa que vi a minha frente: o Kleber, que estava animando o evento. Ele me disse que para ir embora precisaria avisar antes a coordenadora dos meus dormitórios, a Manu. E lá foi eu, com minha mãe esperando na ligação…

Agora percebo como todas as obras do Senhor são grandiosas, como Ele se faz presente em todos os detalhes, em cada pessoa que me colocava perto… Como sussurravas Teu nome pra mim e eu, plenamente surda, não Te ouvia!

Manu logo me perguntou porque tamanho era meu desejo de ir embora, e fomos conversando… Até que nem reparei ter desligado o telefone e ela me propôs um desafio: ficar ali mais um dia, que qualquer coisa que me incomodasse eu poderia falar com ela, que me deixaria mais livre… E se ainda quisesse ir no outro dia, eu iria. Eu aceitei, e até nisso Meu Amado acertou… Pois sabia que minha alma não seria capaz de recusar um único desafio.

Vocês já devem imaginar o que me aconteceu no outro dia…tive minha primeira experiência com Deus depois de muitos anos longe da Igreja Católica. Através dela, Deus se apresentou a mim, em minha plena pequenez e fragilidade humanas, retomou o laço que tínhamos quando eu ainda era uma criança e ia pra Igreja… Ele me conhecia! E eu também O conhecia, mas já havia esquecido de sua infinita presença e existência tão dócil! Pelo meu grande e tolo ateísmo. Através dela, Deus não só se fez presente mas teve a caridade de me explicar meus principais motivos ateístas, os quais eu mesma desconhecia. Ele me explicou a minha própria história e naquele instante já me fez ser mais livre… Porém meu medo de algo sobrenatural assim era tão grande e o baque na minha inquebrantável base ateísta foi tão grande… que eu logo duvidei, só que não era capaz de explicar o que tinha me ocorrido… E eu continuei lá, durante os últimos dias, participando meio bamba das atividades e sem conseguir acreditar com o que acabara de me acontecer… Mas não foi só isso, houve mais.

“Eu quero sair das minhas prisões”, já dizia o Padre Tarso numa das missas em que eu me recusava a ir; acho que não por coincidência, essa foi a única frase que me penetrou os ouvidos distantes, sentados e aborrecidos nas últimas cadeiras das celebrações eucarísticas. Só essa frase podia resumir tudo que minha alma de mais alto clamava ao mundo que me destruía. Eu queria sair das minhas prisões, já não aguentava mais andar com meus próprios pés sobre as calçadas da minha própria dor e ser incapaz de amar, inclusive a mim mesma. Já não aguentava mais. Queria ser livre, ardentemente livre.

Me senti penetrada não só nesse momento em que o padre dizia essa frase, (parecia que pra mim), mas em tantos outros, Meu Deus! Em que me fizestes sentir que era ali que estava, tudo que eu mais procurava. A efemeridade estava acabada, eu presenciava que aquelas pessoas, assim como eu, buscavam algo a mais, buscavam o eterno, não só se satisfaziam em se findarem na superficialidade das relações, nem acabavam em si mesmas, elas se estendiam e terminavam no outro, no seu ser com o outro, e quando percebi isso, meus olhos já estavam cheios de lágrimas…

Como tão tarde eu te amei! Parafraseando meu amigo Santo Agostinho. Tu que se fazia presente e me sussurravas Teu nome na minha mais infinita imperfeição. Me deixas constrangida por agora saber o quão perto estavas de mim enquanto eu Te negava! Enquanto eu gritava para o mundo e para as profundezas do meu coração a falsa certeza da tua completa inexistência… não percebia que me olhavas, que já me amavas, Senhor.

Lembro de querer ficar quietinha durante o Acamps, para que ninguém descobrisse a minha falta de religião, pois sabia, sabia que iam querer me “evangelizar”, (mal sabia eu que todos os passos ali já me evangelizavam…) Mas Deus não precisa de recursos, Ele se faz sozinho. E até mesmo as pessoas que souberam de mim, tiveram a capacidade de me cuidar e de me amar, como talvez eu nunca tivesse sido antes. Era o Teu Amor Senhor! Que eu já sentia sem saber denominar! O que me impactou bastante pois tinha a certeza de que pessoas religiosas eram intolerantes e que sofreria bastante aversão por me dizer ateia. O que nada aconteceu, só pelo contrário…

Como tantas coisas no mundo me prometeram e nunca cumpriram, Deus foi a única pessoa que me fez livre, destruiu todas as minhas máscaras da forma mais bela e singela possível, e me deu o autoconhecimento para saber quem sou: sua filha.

E meus dias foram se passando, enquanto eu ia frequentando e descobrindo mais o que era a Comunidade Católica Shalom.

Hoje, fico imaginando… Como foi que eu encontrei esse lugar? Como a minha história de salvação é linda, não porque eu a construí, mas porque deixei que Deus a construísse em mim. Encontrei, aqui no Shalom, um povo que busca amar a Deus na espiritualidade da vida humana. Como pode Senhor, teres feito um carisma tão belo? Parece que foi feito pra mim! Para abarcar consigo a minha imperfeita humanidade. Aqui, não me sinto unida só pelos valores parecidos, mas por cada um, buscar profundamente a sua essência mais íntima, o seu ser com Deus. Sinto que juntos, temos muito a crescer. Obrigada, Senhor! Por haveres escolhido minha pequenez.

Demorei tanto tempo para descobrir o nome da minha vocação; a vida inteira me percorreu esse desejo sem nome de me doar, de dar a minha vida para salvar da morte os outros, meus irmãos. Minha essência sem Tu a andar no mundo virou despercebida de significado, de valor. Como eu era tonta sem Tu! Como o mundo e eu mesma feri minha própria vocação ao estar longe de Ti! Como demorei pra descobrir esse novo nome, mas que acredito sempre ter sido meu: Shalom.

 

Maria Clara Caetano, 19 anos.


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.

  1. Que liiiindo o testemunho dela, eu também já me perguntei como foi que eu encontrei o Renascer, para sempre Shalom. Deus é infinito.