Entrevista exclusiva com Pablo d’Ors, Fundador de Amigos do Deserto
(Texto de Miriam Diez Bosch)
Pablo d’Ors medita. Escritor e sacerdote, membro do Conselho Pontifício de Laicos do Vaticano. Convida a meditar e a entender que amar significa dar… E receber.
Eu acredito que há enfermidades da alma, feridas que temos por dentro, sombras, que somente se podem curar com silêncio, pelo espírito.
Por exemplo, quando se perde um filho, algo muito extremo, se analisarmos, não conseguimos solucionar essa ferida, essa ferida somente se dissolve, não resolve, por meio da contemplação e da paixão.
Amar é dar e receber
Sou um homem da palavra, e do silêncio, e acredito que a palavra e o silêncio têm me acompanhado sempre, mas, à medida que o tempo vai passando, a palavra vai deixando de ser a protagonista em minha vida e o silêncio vai se tornando o maior protagonista.
Amar é a capacidade de dar e receber, não somente de dar, em uma cultura como a nossa, cristã, se tem sublinhado muito que o importante é dar, o importante é ajudar aos outros, e temos nos esquecido de nós mesmos.
Temos que aprender a receber, na meditação o que aprendemos é respirar conscientemente, a respiração é um movimento duplo de inspirar e espirar e este movimento biológico reproduz o ritmo espiritual por excelência que é precisamente a receptividade e a oblatividade.
Trabalhei dez anos como capelão em um hospital e uma das coisas que mais me impressionou foi ver que o mais difícil para um doente, muito mais que a dor física, é ser ajudado, é depender dos outros.
A profecia hoje no cristianismo é a mística, isto é, que o verdadeiro assunto pendente é o silêncio, e que no silêncio nós vamos encontrar todos.
Silêncio, por favor
Palavra e silêncio são as duas caras da mesma moeda. Para que uma palavra, neste caso a palavra cristã, a semente do verbo, chegue ao seu destinatário, ele tem que ser precedida por um silêncio.
O que a igreja católica mais necessita neste momento é contemplação.
Papa Francisco
O Papa é um homem de oração e de silêncios, caso contrário não conseguiria explicar sua capacidade de irradiação.
A única pessoa que conheci e senti a necessidade de inclinar-me, inclusive ajoelhar-me, foi o Papa Francisco.
Não foram apresentados, vamos dizer assim, o lado terapêutico do cristianismo.
A meu ver a palavra chave do cristianismo, se eu tivesse que escolher uma só palavra, seria Redenção. (…) Significa mudar uma experiência negativa e convertê-la em positiva. (…); que onde há ódio coloca amor; onde há guerra coloca paz, onde há dúvida, claridade…
Depressão, ansiedade…
Estamos constantemente em ebulição e se um carro fica constantemente em ebulição ele ferve. Nós entramos em depressão, estresse, ansiedade, agitação…, porque estamos constantemente acesos.
O mundo necessita de caridade e silêncio
O que o mundo necessita é espiritualidade, e a espiritualidade não é nada mais que o silêncio. E como dizia São João da Cruz: Deus é o silêncio onde ressoam todas as cosas.
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Fonte: http://pt.aleteia.org/