Shalom

Ir ao presídio? Jamais!

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Deus na sua infinita misericórdia me fez experimentar e tocar em uma lepra do mundo, assim como São Francisco, ver o que é amargo se transformar em doce.

No dia 10 de dezembro de 2016, o projeto artes de Guarulhos, foi convidado a evangelizar através do teatro em um presídio da cidade. Quando estávamos a caminho do presídio, eu estava com muito medo, tensa e com muitos pensamentos ruins. Já haviam nos contado que é o pior presídio em questão de gravidade dos crimes.

Chegando lá, surgiram 3 grandes impactos:

– Primeiro impacto: O portão. Eu estou entrando em uma penitenciária;

– Segundo impacto: A revista. Passar por um detector de metal, aquele infeliz apita por nada, se você pensar em metal ele dispara. Escolhi passar por último, porque as pessoas que estavam comigo, sofreram por já estar com o figurino e a maquiagem, então tivemos que tirar tudo para que o detector não acusasse.

Passamos pela parte crítica, então meu coração disparou porque de fato eu entrei e agora era só percorrer o caminho até a capela ecumênica. Não sei não, mas parecia que essa Capela era distante, ou a minha rejeição por estar lá a tornava muito mais distante de mim. Ficava imaginando como seria ver os presos? Como eles eram? Como é estar com eles? O que eu faço? Sorrio e balanço a cabeça?

Cada corredor que eu passava havia um agente penitenciário abrindo e fechando cada portão. A sensação que tive era de estar abrindo a minha alma e fechando o meu egoísmo, o meu preconceito, as minhas idealizações em cada portão que passávamos até chegar ao centro, até chegar ao coração, até chegar aquela humilde capela.

Ao chegar na capela já havia alguns deles sentados esperando por nós e pasme, o terceiro grande impacto foi que eles mesmos nos acolheram como se fôssemos da família, com muita alegria. Já haviam preparado os cantos da celebração, já haviam distribuído os pequenos livretos para acompanharmos todos juntos cada música. Alguns em cima do pequeno palco que havia naquela capela, como se fossem linha de produção ajudando a recolher o que não precisaria naquele momento e um senhor presidiário com os cabelos loiros quase desbotado, pelo tempo e pela idade, a nos apertar a mão, nos saudando feliz e desejando boas-vindas.

Nunca imaginei participar de uma missa somente com presidiários e ao rezar a confissão dos meus pecados: “Confesso a Deus todo poderoso e a vós irmãos […]e peço a Virgem Maria, aos santos e anjos e a vós irmãos […] que rogueis por mim” naquela hora caiu a ficha, o que me diferencia deles? Sendo que eu também tenho pecados e são esses pecados que me levam também a pedir a intercessão deles, a pedir também a oração deles. Não importava mais ali o que os levou a estarem naquele lugar, só restava em meu coração que o questionamento do por que não chegamos antes com o amor de Deus? Que eles estão ali buscando a conversão do coração, assim como estamos buscando aqui fora. Nada me faz melhor do que eles.

Terminou a missa, fomos apresentar o pocket do Filho de Deus e era impressionante como aqueles olhares fixos na apresentação se emocionavam conosco, com aquela simples peça de teatro. Como era emocionante vê-los com os olhos marejados não acreditando que Deus não esqueceu deles. Como era incrível ver que Deus fechou o ano da misericórdia mas abriu uma grande porta em nossos corações.

No final eles vieram nos cumprimentar com grande alegria e emoção, eram 90 homens que estavam lá para assistir, choravam e agradeciam. Comentário de alguns deles que se aproximaram com um olhar de ressurreição e esperança:

“Obrigado por trazer a alegria”

“Obrigado por virem, estou a 35 anos aqui e eu tenho a esperança de que um dia Deus irá me tirar daqui”

“Obrigado por se sacrificarem por nós vindo até aqui”

“Obrigado por trazer o Natal”

Aqueles olhares nunca mais sairão do meu coração. Aqueles rostos desfigurados pelo nosso orgulho e preconceito estão registrados em minha memória. Que belo presente de Natal o Senhor nos deu. A compaixão pelos filhos de Deus esquecidos por nós em cada cárcere.

Carol Nascimento, Discípula da Comunidade de Aliança.


Comentários

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  1. É um dos locais onde mais sentimos a falta de amor.Que possamos sair de nosso
    egoísmo e comodismo e poder conhecer esses lugares levando para lá Deus.