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10 filhos: a medida do desafio é a medida da felicidade

“A vida é desafiante, mas animada e alegre”. Eliz e Roque são missionários da Comunidade Católica Shalom.

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Foto: Metrópoles

Quando a família Roque chega, é difícil não chamar atenção. Afinal de contas, além de Sílvio, 40 anos, e Elizângela (a Eliz), 45, chegam também João Pedro, 22, Gabriel, 19, Marcos, 16, Matheus, 12, Miguel, 12, Ester, 10, Miryam, 8, Bento, 5, Bernardo, 3, e Benjamim, 7 meses. Em tempos de famílias cada vez menores, com poucos filhos, os Roque se destacam pelo estilo de vida completamente diferente: são 10 crianças e dois adultos.

Sílvio e Eliz já eram pais quando se conheceram. Gabriel, o filho do bancário, morava (e ainda mora) com a mãe, no Rio de Janeiro. A psicóloga já tinha João Pedro, fruto de outro relacionamento. Os dois se encontraram em um acampamento da Igreja Católica em São Paulo e namoraram quatro anos antes de juntar definitivamente as escovas de dentes e as famílias. “Queríamos ter filhos, mas não pensamos em números”, conta Sílvio.

João Pedro viveu como filho único até os 9 anos de idade, quando a mãe deu à luz Miguel. Logo após, vieram as duas meninas, Ester e Miryam. “Quando eu engravidei da última, conhecemos o Matheus, que era da mesma sala do Miguel. Ele tinha 7 anos, e o irmão, 9. Decidimos adotar. Durante o processo de adoção, eu já estava grávida do Bento. Chegaram os três de uma vez”, lembra a psicóloga.

Em 2014, veio Bernardo e, logo em seguida, Estevão. Eliz acabou perdendo o bebê aos três meses de gestação, mas acredita que o pequeno está no céu e segue contando como membro da família. Este ano, nasceu o caçulinha, Benjamim. “Agora ainda cabe mais um”, afirma, aos risos, o pai da família.

A rotina
Uma família tão numerosa precisa de muita organização para funcionar bem. Eliz e Sílvio optaram por diminuir o padrão de vida para estar sempre perto dos filhos. Ela, que trabalhava de manhã em um consultório de psicologia, à tarde no serviço público, e à noite dando aulas, acabou deixando de lado a renda extra e se concentrando apenas no cargo estatal. Já ele, recebeu uma proposta para trabalhar meio período e prontamente aceitou, mesmo ganhando menos. “Meu negócio são meus filhos”, explica.

No período matutino, então, a mãe fica responsável pelas crianças que estudam à tarde. Fazem juntas o dever de casa, ela busca os estudantes matutinos e todos almoçam juntos. Os Roque estão matriculados em uma escola pública perto de casa, para facilitar o transporte. Eliz e Sílvio trocam de turno à tarde. “Coloco todo mundo pra fora, para brincarem juntos na rua”, conta o pai.

Nas quartas-feiras à noite, se reúnem para o “dia da família”. A casa de dois andares só tem uma televisão e, como uma boa democracia, votam para escolher um filme ou um jogo. Nada de wi-fi no segundo andar — a ideia é evitar que os filhos se isolem com seus celulares dentro dos quartos.

Aos domingos, vão caminhando para a Igreja, localizada perto de casa. Uma vez por semana, é o dia do casal. Eliz e Sílvio saem de casa juntos para um momento a sós. “Dizemos que vamos namorar. Nossa união mantém todos juntos. Eles são o fruto desse amor. Temos que cuidar da gente”, diz o bancário.

O casal tem muita ajuda e explica que ela vem das fontes mais inesperadas. As famílias dos dois moram em Brasília e estão à disposição a qualquer momento. Na igreja, há um troca-troca de experiências, informações, roupas para as crianças e até casas de praia. Todo fim de ano, a família Roque tem um encontro marcado com o mar. Oito deles vão de carro com o pai, enquanto a mãe leva os pequenos de avião.

No fim das contas, as crianças são independentes e cuidam umas das outras. “Quando avisamos que precisávamos nos arrumar para tirar as fotos da reportagem, os maiores já foram entrando no banho e os menores dizem que já sabem o que fazer. Eles se ajudam. Quando vi, estavam todos vestidos e prontos”, conta a mãe. As meninas trocam as fraldas dos irmãos pequenos, os mais velhos ficam sempre de olho nos mais novos.

Os desafios
Eliz e Roque revelam: um dos maiores desafios de criar tantos filhos é prestar atenção em cada um. Não ser pai de 10, mas de um. É fácil se perder no turbilhão de crianças. “Precisamos parar para escutar. Procuramos ter momentos sozinhos. Chamo para comer um cachorro-quente e conversar, saio com um só para ouvir. O Gabriel, que mora no Rio, vem de dois em dois meses porque preciso olhar no olho, cheirar, saber como ele anda. Só por telefone não resolve”, diz Sílvio.

Outra dificuldade constante é a busca por uma vida mais desapegada. Com uma família tão numerosa, os luxos, as viagens, os telefones caros e os videogames ficam em segundo plano. Além de abrir mão de bens materiais, o casal ainda precisa lidar com as vontades e as expectativas dos filhos, pois cobram e pedem o que os amigos têm. “Mas eles logo esquecem. Não dá para ter aquele tanto de presente. Quando um ganha, todos ficam felizes. Normalmente, é um jogo, algo que vá servir para todos. Eles festejam com a alegria do outro, são muito parceiros”, explica Eliz.

Mas com toda a confusão, correria e barulho, a psicóloga avalia que, no fim das contas, a vida ficou mais simples. Todos os problemas se tornaram menores, nada mais estressa. O carro quebrou? Vão de ônibus, a pé, pedem um carro por aplicativo. Sem sofrimento. Claro, perdem a paciência às vezes, discutem, mas o amor compartilhado é maior que qualquer problema. E a cumplicidade da família é visível: os maiores vão olhando os menores enquanto os pais conversam com a reportagem. Meninos e meninas brincam juntos. “A vida é desafiante, mas animada e alegre. A medida do desafio é a medida da felicidade”, afirma Sílvio.


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