Quem se aventura a escrever sabe que não é trabalho fácil, inclusive, já publicamos um texto nesta coluna falando sobre este assunto.
Até para combinar umas poucas palavras nestes textos semanais do Bendita Leitura é preciso gastar tempo, aprimorar, pesquisar, arriscar e ler muito, sendo que não publicamos nenhuma resenha sem antes termos lido o livro a ser indicado, para ter certeza de que vale a pena.
Neste tempo, já tive a oportunidade de pesquisar sobre várias técnicas para escrever bem, porém, uma das que mais me chamaram atenção foi uma definição bem simples do escritor alagoano Graciliano Ramos:
“Deve-se escrever da mesma maneira com que as lavadeiras de Alagoas fazem em seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”
E foi exatamente isto que Graciliano fez no livro que é dica desta semana, sua obra “Vidas Secas”, romance publicado pela primeira vez em 1938. Este é um livro que não enfeita ou brilha como ouro falso, mas simplesmente diz o que se propõe o autor.
O livro possui 13 capítulos e conta a história de uma família de retirantes liderada pelo vaqueiro Fabiano, e as vicissitudes que enfrentam em uma vida repleta de desafios, particularmente advindos da seca.
Trata-se de um clássico da literatura brasileira, no qual o autor consegue alcançar um grau apuradíssimo de narração e traz à tona personagens marcantes como o próprio Fabiano e a cachorra Baleia.
O livro possui pouco mais de cem páginas e é uma ótima indicação para quem quer apreciar a boa literatura nacional.
Impressionante também é a capacidade do autor de combinar elementos dramáticos com uma veia cômica que, ao mesmo tempo, tornam o livro emocionante e leve.
Se Graciliano aconselha os autores a escreverem com o mesmo esmero que as lavadeiras de Alagoas fazem seu ofício, com afeto semelhante “Vidas Secas” merece ser lido, inclusive, com o auxílio de um dicionário como fonte de pesquisa, pois diante de tantas expressões e palavras inusuais, este se tornará indispensável para melhor aproveitar a riqueza desta obra.
Autor: Graciliano Ramo
Editora: Record
Ano: 2003
Assunto:Literatura Nacional – Romances
Idioma: PORTUGUÊS
Nº de Páginas: 176
Boa leitura!