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Conheça a síndrome de Burnout, transtorno relacionado ao trabalho

Você se sente exausto a todo momento? Está emocionalmente esgotado, sempre no limite das emoções e sem ânimo para trabalhar?

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Burnout é um tipo de stress negativo, ligado ao trabalho. É uma expressão americana que significa queimar-se. É a exaustão devido ao excesso de trabalho, de compromissos e atividades. O Burnout causa no indivíduo exaurimento emocional, uma espécie de despersonalização de si mesmo, e uma redução no âmbito da realização profissional.

Seria, digamos, quando chegamos à reta final. Sentimo-nos totalmente desmotivados, sem prazer e sem sentido no que fazemos, queremos fugir de tudo, ou nos tornamos insuportáveis no nosso ambiente de trabalho.

É interessante que tenhamos em mente que esse tipo de stress, o burnout, é aquele tipo de cansaço tão grande, que após 15-20 dias de repouso, nada muda, continuamos com os mesmos sintomas de cansaço extremo.

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O trabalho se torna de tal maneira insuportável que, repetidamente, dizemos frases como “eu não consigo mais!”, trazemos uma espécie de contínuo mau humor e irritação, sensação de vazio, de não ter mais o que dar, desilusão e impotência ou, então, reações de fuga e evasão, como já citamos.

Repito, o burnout é o tipo de stress ligado ao trabalho (sua causa originária é no trabalho e também é no trabalho que esse tipo de stress pode ser desenvolvido). A grosso modo, podemos dizer que é uma maneira errada de se doar.

Podemos atribuir a ele alguns fatores de ordem pessoal: a extrema dedicação, perfeccionismo, idealismo, expectativas irreais, vida pessoal não satisfatória, motivações não adequadas, excessivo controle, ansiedade, dentre outros.

Dentre os fatores de ordem ambiental, podemos citar: sobrecarga de trabalho, ambiguidade de funções, incompatibilidade entre o que se pede e o que se tem como capacidade para oferecer, rigidez, excessiva burocracia, exclusão nos processos de decisões, limitada autonomia pessoal, pobre qualidade de colaboração no trabalho, comprometimento no relacionamento com o superior, não gratificação…

Consequências do burnout

Os danos, as consequência do burnout, não são poucas, vejamos alguns: Falta de entusiasmo, rigidez e inflexibilidade nas opiniões, modo impessoal na comunicação, falta de confiança nos outros, impotência, frieza e cinismo no ambiente de trabalho, dentre outros.

Do trabalho, o stress vai passando para as outras dimensões da vida, ou seja, causa problemas no âmbito relacional e social, e para nós, que temos vida consagrada (religiosos, missionários, sacerdotes), pode gerar menor participação nos encontros comunitários, um esfriamento na vida fraterna e uma incoerência nos valores vocacionais e de fé. É um tipo de stress muito sério.

O burnout é, no entanto, um desses males que começam a “entrar na moda”, a tornar-se conhecido pelo senso comum, por isso, precisamos estar atentos para não nos autodiagnosticarmos. Para um bom diagnóstico, além de checarmos os sintomas de exaustão (autoconhecimento), existem, ainda, alguns outros testes necessários para a comprovação da doença, que devem ser feitos com um profissional da área da saúde que deve indicar o melhor tratamento, no caso, um psiquiatra.

Por isso, antes de pensar em burnout, é necessário averiguar bem algumas questões: Qual é a origem do esgotamento que estou vivendo? É, de fato, algo ligado ao trabalho? É algo ligado a dinâmica relacional? Aconteceu algo na esfera familiar e afetiva (luto, crise, desilusão afetiva), que amplificam esse esgotamento?

Muitos psicólogos confirmam que o fenômeno existe, de fato, na vida religiosa, mas o percentual dos testes afirma que nem sempre é burnout, ou seja, algo ligado ao trabalho, mas são outros fatores que vão se relacionando. No entanto, esse discernimento é importante, porque, dessa maneira, podemos tocar na raiz (causa) de tal “esgotamento” e, dessa forma, cuidar de forma adequada.

3 dicas de prevenção

Segundo o Padre Pascal Ide (2014), a melhor prevenção ou tratamento a se fazer com as pessoas que vivem o desafio do desgaste e da exaustão está na vivência de três dinâmicas muito simples, às quais ele nomina: aprender a receber, aprender a apropriar-se, aprender a dar. Elas contribuirão de maneira assertiva ao sim constante e portador de frutos no nosso trabalho e no nosso apostolado. 

1 – A capacidade de aprender a receber

A capacidade de aprender a receber implica dois aspectos: conhecer e aceitar os nossos limites e cuidar de si mesmo. Conhecer a si mesmo e aceitar que somos limitados é, realmente, o primeiro passo, pois é partindo de tal constatação, que nós veremos que precisamos de ajuda, que somos frágeis e, por isso, precisamos receber, precisamos cuidar do dom que é cada um de nós. Cuidar de si mesmo significa, simplesmente, estar atentos às quatro necessidades fundamentais: sono, repouso, alimentação e atividade física.

Parece bobagem, mas descuidamos muito dessas necessidades e, quando nos damos conta, já estamos estafados, com alterações de peso, sedentários, estressados. Então é importante avaliar essa dimensão e recuperar o que foi danificado.

Vez por outra, precisamos parar para repousar e recuperar o sono sacrificado. Se vivemos o desafio do stress, é muito comum uma alimentação não equilibrada, que por sua vez, altera nosso metabolismo e diminui a nossa capacidade de defesa. Praticar uma atividade física nos permite entrar em contato com o nosso corpo, com a sua fisiologia, e pode nos libertar de pensamentos negativos e obsessivos.

A atividade física também melhora a qualidade do sono, utiliza a energia acumulada da alimentação, diminui o risco do desenvolvimento de doenças ligadas ao stress crônico (como hipertensão e problemas cardiovasculares) e melhora o nosso estado psíquico para que possamos suportar melhor o stress e as contrariedades.

Como seria importante se, nas nossas casas, levássemos realmente, a sério o momento do esporte. Temos tantos jovens que poderiam lidar melhor com o stress, simplesmente aderindo a tais práticas, evitando medicamentos para dormir ou coisas do tipo.

2 – A capacidade de aprender a apropriar-se (tomar posse)

Essa é a capacidade de interiorizar o que recebemos. Recebemos, a nível de saúde, quando cuidamos das nossas necessidades fundamentais, como falamos acima, mas também em outros momentos, como, por exemplo: ao terminarmos uma tarefa de trabalho e ver que tudo andou bem, ou seja, o aspecto de gratificação; após um bom momento de oração (tantas vezes ali somos renovados…).

Recebemos quando somos elogiados por algo, quando vivemos um bom momento de partilha, no qual somos enriquecidos…

Enfim, são tantos os momentos em que recebemos. Porém, vivemos em um ritmo muito acelerado, parecendo que, a todo o momento, temos que dar algo, muitas vezes, sem usufruirmos o que recebemos, sem deixarmos aquilo ser solidificado.

O stress causa, justamente, uma sensação de vazio, de não ter mais nada. Recuperar-se do stress exigirá de nós esse momento para a interiorização, ou seja, de nos tornarmos conscientes de que recebemos algo novo e, por isso, podemos, também, voltar a dar.

Torno-me consciente do que tenho e, por isso, dou. Fazer memoria e reconhecer o bem que recebemos gera gratidão e, por consequência, generosidade na nossa doação de vida. Essa passagem do fazer memória à gratidão, nos permite conservar o dom que recebemos e que somos. Alguns estudos (Emmons e McCullough, 2003), nos fazem ver que o sentimento de gratidão apresenta muitos efeitos positivos sobre a saúde.

Digamos que as pessoas gratas são mais ricas: a nível de decisão, mais entusiastas, com maior disposição no agir, são mais determinadas; no plano afetivo, mais felizes e relaxadas, dão mais rapidamente sentido ao sofrimento; no plano relacional, são mais dotadas e sensíveis a ajudar os outros; a nível físico, têm uma saúde melhor; no plano cognitivo, são mais estimuladas e possuem maior criatividade.

Em suma, são pessoas que gozam de uma sadia autoestima, capazes de integrar frustrações e, por consequência, estão mais dispostas a viver um caminho vocacional com de doação de si.

 3 – A capacidade de aprender a se dar

É interessante que o aprender a se dar vem justamente como o cume da vivencia de outros dois processos anteriores, o receber e o apropriar-se.  Quando lemos no evangelho de João, “minha vida ninguém toma, eu a dou livremente”, parece que ouvimos, nas entrelinhas da frase, toda a força do dom de si de Jesus.

Como é belo quando nos doamos com sentido, com responsabilidade e com consciência. É diferente da azáfama, de quando vivo num automatismo de um dar-me estéril. É diferente também da doação que, por trás, está cheia de interesses pessoais.

Ao longo da nossa caminhada, a nossa doação de si, tantas vezes, vai sendo purificada. Identificar e trabalhar os traços de azáfama e de pura autossatisfação permite que a nossa oferta vá se tornando livre e fecunda.

Seguramente, a autêntica caridade nos impedirá de entrar em um burnout e vai garantir sabedoria, discernimento e confiança no cumprimento do nosso trabalho.

Rômulo Oliveira

BIBLIOGRAFIA

CREA G. (1994). Stress e burnout negli operatori pastorali. Una ricerca tra i missionari. Bologna: EMI.

EMMONS R. – MCCULLOUGH M. (2003). Counting blessing versus burdens: an experimental investigation of gratitude and subjective well-being in daily life. In Journal of Personality and Social Psychology 84, 377-389.

IDE P. (2015). Le burn-out, une maladie du don. Paris: Quasar.

SCILLIGO P. (2002). La narrazione come fonte di informazione affidabile sul sé. In Psicologia, Psicoterapia e Salute, 8 (2), 81-110.


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