Eu me chamo Raimundo Batista Bezerra e moro em Fortaleza (CE). Em 2007 eu já era dependente de bebida alcoólica. Tinha uma micro empresa que nos garantia uma equilibrada situação financeira. Estava bem financeiramente, porém, tinha uma vida de trabalho sobrecarregada cujo alívio direcionei para a bebida através da vida noturna. Quando percebi já estava bebendo quase todos os dias e a cerveja não mais me saciava. O whisky passou a ser minha bebida predileta e foi a que me tirou inicialmente do controle de minha vida. Não lembro como conheci a cocaína mas, com certeza, estava altamente embriagado e fora de mim. De repente, estava rodeado de pessoas que usavam a droga e o whisky já não era suficiente para me satisfazer.
Por fim, conheci o crack. Desse eu me lembro muito bem. A convite de um “amigo”, que se dizia desesperado por não conseguir largar essa droga, fui ao seu encontro na tentativa inicial de ajudá-lo. Porém, como já era dependente de duas drogas (álcool e cocaína), não tinha condições de ajudar ninguém. Na verdade, eu é que precisava de ajuda. Somado a isso, por me achar auto-suficiente, experimentei o crack dizendo ao “amigo” que nenhuma droga me viciaria. Na hora que eu quisesse largar, eu o faria. Foi a maior bobagem que cometi. Daí em diante, não consegui mais largar e fiquei cada vez mais compulsivo.
Nada me interessava, nem mesmo minha esposa e filhos a quem eu tinha profundo amor. Em um ano perdi nossa empresa que faliu por minha ausência; perdi automóvel, moto, apartamento os quais fui vendendo na tentativa de quitar compromissos atrasados e tentar recomeçar. Porém, a dependência pela droga aumentava cada vez mais e, assim, passava noites e noites gastando dinheiro de todas as formas. Bati o carro e acumulei muitas dívidas bancárias que, aos poucos, ficaram insustentáveis até o ponto de não poder mais quitá-las por não ter de onde tirar recursos. Não conseguia parar de usar a droga.
Era inexplicável como me acabava a cada dia e não tinha forças para deixar de usar. Lembro que muitas vezes caminhava chorando em busca de comprá-la, mas não conseguia mudar de direção. Cheguei a ser internado por 15 dias numa casa de recuperação. Ao sair, permaneci mais ou menos 30 dias sóbrio, porém, ao me deparar com as dificuldades, sobretudo as financeiras, entrei em desespero e recaí de vez. Perdi a esperança de sair dessa dependência pois sabia o quanto me dominava. Lembro que fiquei uns 15 dias sem dormir nem comer direito usando diuturnamente.
Foi então que, por fim, minha esposa e meus três filhos, não aguentando mais o sofrimento e atendendo ao pedido de seus irmãos, resolveram sair de casa e morar com eles. Ela havia tentado várias vezes me levar ao Volta Israel e às missas de cura celebradas pelo padre Antônio Furtado às quintas-feiras, mas eu me negava porque não conseguia pensar em outra coisa. Foi então que afundei ainda mais. Fiquei dentro do apartamento onde morávamos de aluguel sem nenhum móvel durante os dias que me restavam para a entrega do imóvel, pois minha esposa e filhos já havíam saído. Vivi dias e noites terríveis onde não me alimentava e bebia água da torneira. Tinha visões de monstros se arrastando. Nesse período, por ter ainda alguns objetos de nossa loja, passei a vendê-los para manter o vício. Até um dia que não tinha mais de onde tirar dinheiro e minhas irmãs vieram me resgatar para morar com elas. Fui muito bem tratado e acolhido com amor e passei a morar com minha irmã Neide. Nos primeiros dias estava indo bem, mas não aguentei novamente e recaí. E nesse dia, vi a grande tristeza que causei a minha irmã.
No dia 30/7/2008, passei a noite numa favela terminando de usar a droga que pude comprar através da venda de um celular que minha irmã havia me dado. Não tinha como voltar pra casa pois era de madrugada e não tinha recursos. Cheguei em casa por volta das 6h do dia 31/7, sentindo uma profunda depressão. Por volta das 9h, brotou em meu coração a vontade de procurar ajuda na Casa Santa Maria Madalena, da Promoção Humana do Shalom. Me dirigi até lá sozinho, e fui recebido por Érica, missionária da Comunidade de Aliança, que me ouviu durante bastante tempo, rezou em mim e me disse palavras que o Senhor havia colocado em seu coração. Palavras essas que me fizeram perceber que eu não era esse monstro que o inimigo tentava pintar. Que eu era um filho muito amado e que Deus queria me libertar e que para Ele não há nada impossível. Após passar a manhã toda lá e ganhar um terço de Érica, voltei para casa um pouco aliviado.
No dia seguinte (01/08/2008), estava sozinho na casa de minha irmã e comecei a rezar esse terço. Senti a vontade de, nos intervalos da oração do Pai Nosso, rezar espontaneamente pedindo a ajuda de Jesus. Foi então que brotou em meu coração uma oração de súplica muito forte em que me entregava por inteiro nas mãos de Deus, admitindo que não tinha mais forças. De repente comecei a sentir um calor muito forte no meu abdômen. Ao mesmo tempo, tinha uma visualização de momentos da vida do meu filho, Vinícius, como o de um dia que saí no carro pra comprar droga e o levei junto. Estacionei na favela e o deixei dentro do carro enquanto ia comprar. Lembro que ele estava com bastante medo e que guardou minha carteira e fechou as portas do carro. Em meu coração, havia um profundo arrependimento por causar tamanha tristeza ao meu filho. Durante a oração do terço, sentindo esse calor forte, havia em mim um misto de alegria e tristeza, eu chorava e sorria ao mesmo tempo. Foi tão forte essa experiência que apesar da alegria que eu sentia, pois os pensamentos maus que até aquele momento tomavam conta de minha mente eram substituídos por pensamentos de esperança, fiquei com medo de que algo acontecesse ao meu filho. Na verdade, meses depois, Deus me revelou ser a ação do Espírito Santo que me libertava dos pensamentos maus os quais me escravizavam. Deus Pai, através do Espírito, demonstrava o quanto me amava.
Com relação à visualização da vida do meu filho, Deus revelava que estava me libertando no dia 1º de agosto propositalmente pois havia exatamente dois anos que o Vinícius, estando sozinho em casa, sofrera um grave acidente. Ele havia subido em uma cadeira e colocado a cabeça entre as cordas de nylon de uma rede de dormir que estava na sala. A cadeira caiu e ele ficou preso pelo pescoço, enforcando-se. Ele foi solto dos punhos da rede por minha esposa que chegava em casa juntamente com nossa filha menor. Ele já estava sem respirar. Ao me deparar com ele desacordado em seus braços, levei-o imediatamente ao hospital. Após ter sido atendido, recuperou a respiração, mas entrou em coma com sinais de sequelas graves e foi para a UTI. Aproximadamente 12h depois, justamente no dia 1º de agosto, Deus o libertava do coma e abria seus olhos. Aos poucos, ele foi reconhecendo a todos e, graças a Deus, não teve nenhuma sequela como era previsto. Deus me libertava no mesmo dia em que libertara meu filho para que esse dia jamais fosse esquecido por mim. Para que eu jamais esquecesse que Ele é o Senhor do tempo, que Deus é real e que não podemos viver como se Ele não existisse. Não somos os donos de nossa vida. A vida pertence a Deus e a Ele devemos adorar e tê-Lo no centro de nossas decisões porque Ele é a nossa fortaleza e Nele está nossa verdadeira felicidade e o sentido real de nossa existência.
Após essa experiência maravilhosa com o amor de Deus através do terço, tive duas ou três recaídas, mas algo forte em mim estava plantado que não me deixava escravizar mais pelo pecado. Algo em mim não queria mais magoar o coração de Jesus. Deus me fez enxergar que eu poderia ser uma pessoa melhor porque Ele havia me criado para a santidade e que não era de sua vontade que me deixasse consumir pelas drogas.
Aceitei o tratamento ambulatorial no Volta Israel onde dia-a-dia fui sendo direcionado através dos acompanhamentos com a Érica e também com a doutora Dionéa, que foi me esclarecendo dúvidas a respeito da dependência química e suas situações de risco. Através das orientações da doutora Dionéa, fui sendo convencido a largar a bebida alcoólica, o cigarro, locais, hábitos que significavam risco para minha sobriedade e, então, fui trilhando uma nova vida de vigília e oração. Através também do grupo de 12 passos, que fiz durante três estágios e que eram tão bem conduzidos pelas irmãs da Madalena, dentre elas, Dona Tereza, fui aprendendo à luz do Evangelho, a levar uma vida santa. Em seguida, através da Érica, o Projeto Família presenteou a mim e minha esposa com um Seminário de Vida no Espírito Santo e de lá passamos a fazer parte do Grupo Cristo Rei. Em seguida, acolhemos o serviço no Ministério da Promoção Humana onde atualmente coordenamos o grupo dos 12 passos da Pastoral da Sobriedade no Projeto Família. Neste ano, para nossa maior alegria, fomos aceitos para trilharmos o caminho de consagração através da Comunidade de Aliança Shalom.
Louvo a Deus por todos os anjos que foram colocados no caminho de minha família, os quais nos momentos mais difíceis de minha vida, quando não havia mais nenhum amigo que pudesse contar, estenderam-nos as mãos e nos conduziram para Deus. Louvo ao Senhor por toda minha família, que não me abandonou apesar de todas as dores.
Hoje tento, apesar de minhas fraquezas, ser mais um braço a serviço de Deus em ajuda aos irmãos que ainda estão escravos desse mal. No dia 01/08/2013, na graça de Deus, completei cinco anos de sobriedade. Não espero cura para minha dependência, pois já sou grato por minha liberdade. Oro e vigio todos os dias alimentando meu espírito para não cair em tentação. Louvo a Deus por Seu amor incondicional que não levou em conta os meus pecados e jamais me abandonou, Seu Amor particular por mim que não é maior que Seu amor por você que lê esse testemunho. Graças ao sacrifício de Jesus na Cruz, hoje vivo, apesar das dificuldades, os melhores momentos de minha vida junto com minha esposa, filhos e familiares os quais Deus me fez enxergar que devo estar próximo e não ausente como era antes.
Termino com as palavras do Apóstolo Paulo, que foram marcadas em meu coração:
“Na verdade julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo!” (Fil 3,8)
Raimundo Batista Bezerra
Batista você é um vencedor porque eu sei que Deus é quem cura mas alguém tem que querer e você
aceitou essa cura Parabéns Deus continue te Iluminando.
Hb 8,12
Porque eu vou perdoar as faltas deles e não me lembrarei mais dos seus pecados.