Esperava o ônibus na volta para casa, quando, de repente, apareceu uma senhora pedindo informação sobre o ônibus que poderia levá-la ao bairro Sagrada Família. Percebi que ela estava perdida, fazendo uma peregrinação de ponto em ponto sem o encontrar. Não soubemos dar a informação, e apressadamente ela se foi. Ver aquela senhora já idosa e perdida no centro da cidade me inquietou profundamente e, num impulso, saí correndo atrás dela, a alcancei e perguntei aonde queria ir e ela me respondeu que precisava pegar um resultado de exame no PAM da Sagrada Família. Quando falei que ia pegar um táxi e levá-la, no primeiro momento ela se assustou e me disse: “Mas, eu não tenho dinheiro para pagar!” Dei o sinal, o táxi parou e entramos no carro. Algumas pessoas observavam a cena, acredito eu, sem entender nada. O percurso até o bairro foi bastante curto, mas deu para ela descortinar a sua vida em poucos minutos: “Meu nome é Jacira, não sei ler nem escrever. Tenho setenta e quatro anos, sete filhos. Meu esposo faleceu há nove anos, moro no bairro Cidade Industrial, em Contagem. Meu filho mais novo, o que mora comigo, é a minha preocupação. Rone bebe, toma Gardenal e usa drogas. No dia que ele se descontrola, quebra tudo dentro de casa e eu tenho que sair, porque fico com medo dele.” Quando o táxi parou em frente ao PAM, descemos e nos despedimos com um abraço. Muito agradecida ela me disse: “Você é uma filha de Deus, reza para o meu filho. Eu agradeço a Deus todos os dias, porque eu sei que tem pessoas com problemas piores e maiores que o meu.” Não havia mais nada a dizer, ela tinha dito tudo.
E, como afirma nosso Papa Francisco: “O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros…” (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium).
Márcia Andrea Barreto
Consagrada da Comunidade de Aliança
