Sim, as novas tecnologias são desconcertantes, mas se não deixarmos que elas “baguncem” o nosso apostolado, vamos ficar de fora das conversas!
Vivemos numa época de inovações tremendamente desconcertantes. Os avanços na tecnologia digital estão virando setores inteiros de cabeça para baixo. A indústria da música, o jornalismo impresso, as publicações, o cinema e a televisão, o ensino superior… Todos eles são só alguns dos segmentos forçados a se reinventar por causa dos emocionantes e estarrecedores saltos da tecnologia digital na escala da inovação.
Mas os principais atributos da tecnologia digital -democratização, personalização e distribuição fácil- não estão apenas deixando para trás os jeitos convencionais de fazer publicidade e distribuir produtos. Bem mais importante do que isso: eles estão mudando o jeito dos seres humanos se comunicarem! Cada vez mais, nós estamos interagindo através de mídias digitais, um fenômeno que, mesmo envolvendo perigos evidentes, também facilita a intimidade entre povos separados por oceanos e continentes.
Visitar o Vale do Silício, na Califórnia, como eu visitei na semana passada para representar a Aleteia no Fórum Tecnológico de Líderes Cristãos, com o patrocínio generoso da Fundação Maclellan e da Crowell Trust, é uma experiência que enche qualquer um de espanto diante da criatividade humana. Existe alguma coisa naquele ambiente iluminado pelo sol da Califórnia que é contagiante! É verdade que podemos questionar uma série de coisas naquele mundo de empresas embrulhadas em prédios de vidro, cheias de estações de trabalho e abarrotadas de capital de risco, mas também temos muita coisa para admirar nessa cultura que abre tanto espaço para o intelecto humano trabalhar.
O Fórum Tecnológico de Líderes Cristãos é uma oportunidade extraordinária de reflexão para os líderes de uma grande variedade de apostolados cristãos: como aproveitar as novas tecnologias nas nossas missões?
Durante dois dias, palestrantes estelares como o ex-engenheiro da Apple que inventou o iPad, um “evangelista” do Google e um diretor de tecnologia da Universidade de Stanford discutiram as atuais conquistas e as perspectivas futuras dos apostolados cristãos que querem comunicar a Palavra de Deus através dos meios digitais.
A nova evangelização é mais uma força desconcertante na nossa cultura, alimentada não pela tecnologia digital, mas pelo poder do Espírito Santo. Ao se referir à nova cultura digital, o papa Bento XVI fez uma analogia com o mar: um “mar digital”. O papa Francisco fala da questão como a “ágora do século 21”. Na nova evangelização, católicos e todos os cristãos têm que se atrever a explorar as profundezas desse mar e lançar nele as redes para a pesca. Temos que entrar com alegria e com entusiasmo na ágora digital do nosso tempo, ansiosos para interagir com as pessoas e para anunciar a elas o Evangelho num clima de amizade.
Quais são as dicas que você e o seu apostolado podem aproveitar do Fórum Tecnológico de Líderes Cristãos?
Confira aqui o meu top 10:
1. Mobilidade. Existem 4 bilhões de usuários de dispositivos móveis no mundo. Há mais pessoas no planeta com dispositivos móveis do que com escovas de dentes (sério!). A inovação digital é arrasadoramente propensa à mobilidade: smartphones, tablets e até mesmo dispositivos físicos. Se você quer impactar usando a mídia digital, seria muito sábio se perguntar como é que você está usando o seu celular. No mínimo, o seu site tem que estar 100% pronto para ser acessado de maneira específica por dispositivos mobile. Mas, além desse quesito básico, você também está desenvolvendo algum aplicativo para os dispositivos móveis? Se não está, deveria estar.
2. Conexão emocional. A nossa economia é pós-industrial. Seth Godin afirma que vivemos hoje numa “economia de conexão”: a ênfase não está mais nos produtos e na publicidade, mas em criar conexão emocional com uma base de “fãs”. A tecnologia tornou facílimo criar um site, um curso on-line, um livro digital. O verdadeiro desafio é mostrar empatia, ligação, criar uma conexão humana. Não é só uma técnica de marketing. Não estamos falando apenas de personalizar e-mails para avançar do “Prezado cliente” ao “Olá, querido Miguel”. Estamos falando de ser mais humanos e de incentivar a experiência de comunidade.
3. Personalização. Você cria uma conexão humana quando torna o encontro com a sua empresa o mais pessoal possível. Se a Netflix fosse um país, ela teria a 35ª maior população do mundo. Ela tem mais “habitantes” que o Canadá. A Netflix conseguiu isso porque permite personalizar no detalhe a experiência do usuário com a plataforma. E você, como é que está criando uma conexão emocional e pessoal com a sua tribo?
4. Diferencial notável. Seth Godin destaca: o que quer que você esteja fazendo, ou o mercado está de olho em você ou então não está nem aí (ainda). E mais publicidade não vai necessariamente virar a maré a seu favor. A única maneira de se destacar é sendo… notável. Romper esquemas. Você pode ser “notável” tipo subcelebridade, com 15 minutos de fama, ou pode ser notável mesmo, gerando um verdadeiro diferencial para os seus irmãos, os seres humanos. O diferencial verdadeiro é o serviço. Quer um bom exemplo? Dê uma pesquisada no projeto de caridade de Scott Harrison: “Charity: Water” (Caridade: Água). Fazer caridade já é um diferencial notável, mas o projeto dele também quebra paradigmas. A sua missão também tem um diferencial notável? Como é que você está comunicando a sua mensagem para que as pessoas queiram compartilhá-la imediatamente com mais alguém?
5. Geração Y. Os jovens nativos digitais são o alvo de muitos dos nossos apostolados. Mas você quer saber de uma coisa? Esses jovens, os chamados millennials ou Geração Y, não acham que o dinheiro é tudo. Eles estão interessados em dar sentido à vida. Eles estão ansiosos para contribuir com alguma coisa maior do que eles mesmos. Esta é uma ótima notícia para os apostolados cristãos, porque nós temos um acesso muito bom ao Supremo Sentido de tudo! O trabalho duro é demonstrar para a geração do milênio que este Sentido é relevante, e o desafio é aprender a falar de um jeito que eles entendam. Como você está abordando a geração do milênio? Você está falando em analogiquês enquanto eles falam em digitalês?
6. Humor. Quais são os comerciais do intervalo do jogo que você e os seus amigos vão comentar no dia seguinte? Fim de papo: o humor é uma das melhores maneiras de criar conexão humana. No seu trabalho, no seu site, nas redes sociais, você está transmitindo risos que reforçam a amizade e a confiança? Ou está só tentando nos vender na marra?
7. Conteúdo. No século 21, todo o marketing, toda a comunicação gira em torno de conteúdo. No mundo digital, as pessoas querem algo de valor (e grátis) em troca da confiança delas. E é com a confiança que você constrói comunidades. E aí, qual é o conteúdo valioso que você está oferecendo para a sua tribo? Como é o seu conteúdo? Uma boa estratégia para criar conteúdo atraente é contar histórias sobre as pessoas que fazem parte da linha de frente do seu apostolado, ou sobre os membros da comunidade que você está tentando ajudar.
8. Histórias. Quase tudo no mar digital tem formato de história. É que os seres humanos são feitos para se identificar com histórias, e a tecnologia tornou muito mais fácil contar histórias. Nós queremos saber dos heróis e das heroínas que enfrentam obstáculos e que trabalham duro para superá-los, mesmo que nem sempre consigam. Ninguém quer palestra e sermão (pelo menos não agora). Mas todo mundo quer saber de uma boa história. Se você quiser dar uma palestrinha depois, tudo bem, mas, antes, cative as pessoas com uma boa história. E então, que histórias você tem para contar? (Dica de um jeito rápido e fácil para criar histórias: pesquise e conheça o Storify).
9. Transparência radical. Esta é outra lição do projeto “Charity: Water”, aquela organização que usa 100% dos donativos angariados para oferecer água potável a países em desenvolvimento (ou seja, nenhuma parcela dos donativos é destinada a manter a infraestrutura da organização). E cada centavo doado pode ser rastreado via site para garantir que a doação foi realmente usada no fornecimento de água potável. A “Charity: Water” convida a sua comunidade a ver como é que as coisas funcionam lá dentro: e elas funcionam muito bem, obrigado. E você: a sua comunidade, o seu conselho, os seus doadores, os beneficiários do seu apostolado, estão por dentro da sua operação? Como é que você mostra as coisas que está fazendo para que eles vejam o quanto o seu trabalho é relevante?
10. Nuvem. Torne tudo mais simples, acessível e seguro. Não existem mais desculpas do tipo “meu disco rígido pifou”, “perdi todo o meu trabalho”. Você é daqueles que ainda mandam anexos por e-mail? Você ainda carrega a tiracolo um punhado de pendrives? Esqueça isso! Guarde todo o seu conteúdo digital em servidores “na nuvem” e torne o seu fluxo de trabalho mais eficiente.
Bônus superespecial:
11. Influenciadores sociais. Você não tem dinheiro? Tudo bem. Identifique os principais influenciadores sociais do seu entorno e convide-os para ajudar você a espalhar a sua mensagem. Eles não precisam ser celebridades da TV. Podem ser blogueiros influentes, por exemplo. Mas essa estratégia vai funcionar melhor se você oferecer a eles algum valor em troca: afinal, você quer parceria, e não esmola. Quem são os formadores de opinião que podem espalhar a sua missão como um vírus por aí? O que você tem para oferecer em troca? Como você pode contatá-los?
Eu posso ter me esquecido de alguma coisa nesta lista. Que outras estratégias digitais você acrescentaria? Comente!
Daniel McInerny
Fonte: Aleteia