Desde o nascimento trazemos o anseio pelo que virá, a necessidade do que se segue. Não somos completos em nós mesmos, e isto faz toda a diferença. Condicionamos-nos a receber o que necessitamos, e somos seres necessitados. Ainda mais, ansiamos pelo que receberemos. Há valor na espera.
Diz o ditado popular: “Quem espera sempre alcança”. É esta expectativa humana bem ilustrada nos grandes eventos do calendário mundial. Na virada do ano, se espera glamourosamente o novo, e isto se faz com tanta festa em um misto de alegria, ansiedade, e até um pouco de nostalgia expressa na retrospectiva do que se tornou velho e ficou para trás.
Então, como diz uma antiga música popular: “mas chegou o carnaval e ela não me ligou…”, a expectativa do que virá veste máscara ou fantasia, toma a imaginação, e sai na avenida da vida do homem, desfilando o anseio de realizar-se, na liberação de si e sua consciência, de permitir-se um extravagante tudo. E vivendo dias sem limite, encontrar-se na realização de si. Entretanto, na frustração da ressaca, física, moral, ou da alma vazia, o homem segue pelo ano afora, esperando…
Chega, trazida nas delicadas patinhas do coelhinho, a páscoa, que com doces e deliciosas promessas, enche o coração do homem. Mas, frequentemente, deixa cheio apenas seu ventre, de peixe, bacalhau, vinho e chocolate, e a vida continua mais vazia do que nunca, transformando, de doce em amargo e amargura, o gosto do ordinário na boca do homem.
Para o mundo ocidental, a vinda do “bom velhinho”, o Papai Noel, trazendo às costas a imensa sacola vermelha, de onde retirará os objetos de satisfação dos desejos. Aquele que foi esperado o ano inteiro, vem furtivamente e deixa, na chaminé, seu presente pendurado na meia. Isto se você tiver sido um(a) bom(a) menino(a).
Como consequência das tantas frustrações o coração do homem é tomado de angústia e medo, e busca no imponderável a satisfação da sua sede de encontro. O encontro que relativizará tudo à sua volta, e lhe preencherá a existência de alegria e sentido.
É para o homem moderno, o Natal, uma tão forte intuição, a vinda do Filho de Deus, que qualquer que seja sua crença, cultura ou religião, se deixa alcançar e sensibilizar pelo clima de bondade, caridade, congraçamento e confraternização.
É assim que este se confronta com o acontecimento que mudou o rumo da humanidade.
Para quem caminhava, no vazio de uma vida vã, em direção a sombra da morte, surge uma luz.
“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. …porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz”. (Isaías 9,1.5)
Neste tempo, como povo, celebramos a espera das duas vindas do Filho de Deus: a do passado, e a do futuro.
No passado, pelo cumprimento da promessa aos nossos pais. Aqueles que creram e esperaram, puderam tocar, como os reis magos. Na expectativa do que de grandioso estava por vir, deixaram suas terras de origem, e vieram em busca de um encontro. Procurando em um palácio, o Rei a quem encontrariam no constrangedor despojamento de um estábulo, foram guiados por um sinal, uma estrela, que os alegrava com seu imenso brilho. Adoraram-No e entregaram-Lhe seus mais preciosos tesouros.
Em outra via, como Zaqueu, que na sua indignidade, acreditou e se colocou na atitude de quem espera, por desejar ardentemente conhecer Aquele que o atrai, e ao ser anunciada a visita a sua desonrada casa, coloca-se a caminho e tudo providencia para receber A salvação que obtém por expressão da misericórdia.
Há valor na espera. Se há uma atitude de acolher na fé, na esperança e caridade o que virá. Se, como as virgens prudentes, não cochilarmos ou cruzarmos os braços, mas, neste período de espera, mantivermos cheias as lâmpadas que nos permitirão seguir o noivo, quando de sua chegada. Prepararmo-nos, reunindo nossos melhores presentes. Que se manifestam nas vivências de cada dia, nos pequenos e grandes sacrifícios, ofertados por amor.
Viver este tempo de espera, cantando, como a querida Suely Façanha, que já tinha entendido tudo desde o princípio:
É tempo de abrir as portas,
De quebrar as resistências
É tempo de voltar
É tempo de abraçar o novo,
De abrir o coração
É tempo de voltar
De recomeçar e não olhar pra trás
Sem medo abandonar-se
De recomeçar e não olhar pra trás
Na certeza do amor de Deus(2x)
É tempo de conversão
Tempo de viver o amor
É tempo de recomeçar
Erguei os vossos olhos
E vede O Senhor…
Deus nos Abençoa com Sua vinda neste Natal e a cada novo dia…
Feliz Advento !
Feliz Natal !
Delber Lopes Marcolino