Nunca me canso de agradecer a Deus e de admirar a sabedoria dos primeiros apóstolos reunidos no primeiro Concílio Ecumênico da história em Jerusalém afim de ver e examinar o que deviam fazer, para que o Evangelho não fosse pesado para ninguém. Jesus não veio para aumentar o peso pesado das leis sobre os frágeis ombros humanos, já machucados pela escravidão do pecado e do mal. Mas veio para dizer a todos nós, em voz alta: “meu jugo é suave e meu peso é leve.” (Mt 11,30).
Eu reconheço que sempre tive, e aumentou com a idade, uma “aversão santa” a todas as leis. Paulo apóstolo me deu a chave da liberdade quando disse: “vós fostes chamados à liberdade, e a única lei é o amor.” Vivemos num mundo de leis, em que não nos é possível conhecer todas, muito menos colocá-las em prática. Mesmo João da Cruz tinha este parecer quando escreveu em cima do Monte Carmelo, símbolo da santidade e da perfeição: “aqui não tem lei, mas só honra e glória de Deus.” É belo poder chegar a esta liberdade de Espírito.
A primeira Comunidade Cristã
Estamos no Tempo Pascal, e é justo que os nossos olhos estejam fixos sobre o crescer e o desenvolver da primeira comunidade cristã, e Lucas é um guia perfeito, não esconde nada, nos mostra tudo e nos anima a continuar, na esperança, o nosso caminho de anunciadores do Evangelho da alegria e do amor.
A primeira comunidade tinha problemas? Sim e muitos. Um dos problemas era o encontro de dois grupos, o grupo de cabeça fechada dominado pela lei, que não queria mudar nada, e que continuava dizendo: “sempre fizemos assim, continuaremos assim.” Este grupo sempre existiu e sempre existirá, e não está totalmente errado. Precisa construir sobre o passado, a tradição, a vida de ontem. E o outro grupo diz: “vamos mudar tudo.” Este também não está totalmente errado, mas precisa de calma e tranquilidade. Por isso que, nesses casos, em todos os tempos, necessitam de reuniões, encontro e diálogo para chegar a um consentimento de união e de comunhão.
A nós é dado viver o tempo mais belo do novo Pentecostes da Igreja, no qual sentimos a necessidade não de lançar excomunhão e condenar-nos uns aos outros, mas de sentarmos, rezarmos juntos, dialogarmos e depois chegarmos a tomar decisões que ajudem a viver a alegria do Evangelho, a construir a nova sociedade e a Igreja do amor e da paz. Eis a harmonia da comunidade e a sabedoria que transmitem as decisões.
O que é indispensável para seguir Jesus?
Nós pensamos que para seguir Jesus são necessárias muitas coisas, muita penitência, muitas leis grandes e pequenas. Na verdade não é assim. Para seguir Jesus o que é necessário é amá-Lo com todo o coração, fazer Dele o centro de nossa vida. Ele nos ensina, no segredo do coração, o que devemos fazer.
Quem ama sabe escolher todos os meios para que o amor seja autêntico e verdadeiro; antes de tudo, amar a Deus significa estar numa atitude de disponibilidade para deixar tudo o que não é de Deus, deixar de lado todo sentimento de ganância e de desejo de ser maior que os outros e ir, por aí, servindo no amor e na alegria a todos os que necessitam de ajuda.
É triste ver que até hoje existem na Igreja pessoas que continuam a dizer que, para se salvar, é necessário fazer grande penitência. Santa Teresinha vivia numa angústia interior muito grande. Ela sentia no seu coração o desejo de ser santa, mas via que era frágil, doente e débil e que não tinha capacidade para fazer grandes penitências, e, então, ela disse: “serei uma grande santa percorrendo o caminho das pequenas coisas, do amor e do abandono e da confiança.”
Deus não vai medir a nossa santidade pelo número de dias que temos feito jejum, mas pelo amor com que o temos feito. Tudo é grande quando é feito por amor.
Vem, Senhor Jesus
A nossa oração constante deve ser a de invocar continuamente o nome de Jesus. Sabemos que o nosso coração é feito para amar e ser amado, como o coração de Deus. Quem encontra Jesus na sua vida tem o grande desejo de unir-se a Ele e de chamá-Lo, para que Ele venha ao seu coração e aos corações de todos os homens da terra. Jesus é o princípio, como diz o mesmo livro do Apocalipse, o alfa e ômega, que são a primeira e a última letra do alfabeto grego; tudo nasce de Deus e tudo termina em Deus e passa através da pessoa de Jesus.
Muitos, ainda hoje, nunca tiveram a alegria de escutar o nome de Jesus. Se ninguém prega, como O podem conhecer? Se ninguém O manifesta através da própria vida, como poderiam vê-Lo? Nunca foi tão forte o convite da Igreja a assumir o mandato missionário. Há uma primeira evangelização e uma segunda evangelização.
Devemos ser nós mesmos (re) evangelizados para podermos evangelizar os outros. Só quando Jesus vier, nós chegaremos a uma unidade perfeita e a uma paz duradoura no mundo. Vem, Senhor Jesus.
Espírito Santo, o único Mestre
Multiplicam-se universidades e escolas de teologia, de espiritualidade, e isto é ótimo, quanto mais tivermos é melhor, mas também devemos ter presente que Universidade, cultura sem atitude cristã, não gera vida nem santos.
Podemos ter muitos letrados e ser uma comunidade e uma Igreja sem santos nem profetas. A Palavra do Evangelho de hoje nos recorda uma verdade que eu esqueço com muita facilidade: o Espírito Santo é o único Mestre. Devemos nos colocar na Sua escola. Deus mora dentro de nós, e o Espírito Santo nos vai recordar todas as coisas que Jesus tem dito, Ele é a nossa memória. Só assim a nossa pregação será autêntica e verdadeira, e produzirá frutos, e frutos que são cheios de sabedoria divina.
Reze comigo: vinde, Senhor Jesus, dai-nos o Espírito Santo e a paz.