A entrevista concedida pelo Papa Francisco a Domenico Agasso, especialista em assuntos do Vaticano, do jornal diário “La Stampa” e coordenador do “Vatican Insider”, trata de temas como imigração, mudança climática e o próximo Sínodo sobre a Amazônia.
Migrantes: o direito à vida em primeiro lugar
Receber, acompanhar, promover e integrar são, ao invés, os critérios a serem seguidos quando se fala de imigração e de acolhimento. Em primeiro lugar, reitera o Papa, está o direito à vida, “o mais importante de todos”. Ademais, é preciso recordar as condições de guerra e de fome da qual as pessoas que fogem são provenientes. Igualmente, “os governos devem pensar e agir com prudência”, porque “quem administra é chamado a ponderar sobre quantos migrantes podem ser acolhidos”. Também podem ser adotadas soluções criativas, pensando, por exemplo, quantos Estados têm carência de mão de obra no setor agrícola: “Contaram-me que num país europeu há cidades quase vazias devido à queda demográfica. Algumas comunidades de migrantes poderiam ser transferidas para estas cidades, as quais seriam capazes de reaquecer a economia local”.
Ajudar os países pobres para interromper fluxos migratórios
Francisco acrescenta outra reflexão: “Sobre a guerra, devemos esforçar-nos e lutar pela paz. A fome diz respeito principalmente à África. O continente africano é vítima de uma maldição cruel: no imaginário coletivo parece que tem que ser explorado. Ao invés, uma parte da solução é investir nele para ajudar a resolver seus problemas e interromper assim os fluxos migratórios”.
Amazônia, um “Sínodo urgente”
No mês de outubro próximo vai se realizar no Vaticano o Sínodo sobre a Amazônia, filho da Laudato Si’, ressalta o Papa, acrescentando que quem não a leu jamais entenderá o Sínodo sobre a Amazônia.
Francisco reitera sobre a Laudato Si’: não é uma encíclica verde, mas uma encíclica social baseada no cuidado da Criação. Ao mesmo tempo é um “Sínodo urgente”. Efetivamente, Francisco se diz chocado que em 29 de julho o homem já tenha consumado todos os recursos regeneráveis para o ano em andamento. Isso, junto ao derretimento das geleiras, ao risco de aumento do nível dos oceanos, do incremento do lixo plástico no mar, do desmatamento e de outras situações críticas, faz de modo que o planeta viva numa “situação de emergência mundial”.
Um trabalho de comunhão conduzido pelo Espírito Santo
O Sínodo, todavia, adverte o Papa, “não é uma reunião de cientistas ou de políticos. Não é um parlamento: é outra coisa. Nasce da Igreja e terá missão e dimensão evangelizadora. Será um trabalho de comunhão conduzido pelo Espírito Santo”. Os temas importantes são os que dizem respeito aos “ministérios da evangelização e aos vários modos de evangelizar”, explica Francisco, enquanto a questão dos “viri probati”, a possibilidade de ordenar anciãos e casados onde faltam sacerdotes, não será um dos temas principais do Sínodo, mas é “simplesmente um número do Instrumentum Laboris” (Instrumento de trabalho, ndr).
A Amazônia é decisiva para o futuro do planeta
O Papa explica a escolha de fazer um Sínodo para a Amazônia, uma região que envolve nove Estados: é “um lugar representativo e decisivo… contribui de modo determinante para a sobrevivência do planeta. Grande parte do oxigênio que respiramos é proveniente dali. Eis o motivo porque o desmatamento significa matar a humanidade. Além disso, efetivamente, a Amazônia envolve nove Estados, portanto, não diz respeito a uma única nação. Penso na riqueza da biodiversidade amazônica, vegetal e animal: é maravilhosa”. Francisco diz temer “o desaparecimento da biodiversidade. Novas doenças letais. Uma deriva e uma devastação da natureza que poderiam levar à morte da humanidade”.
A política elimine conivências e corrupções
“A ameaça da vida das populações e do território – ressalta ainda referindo-se à salvaguarda da Amazônia – deriva de interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade.” A política deve “eliminar suas conivências e corrupções. Deve assumir suas responsabilidades concretas, por exemplo, sobre o tema das minas a céu aberto, que envenenam a água provocando muitas doenças”.
Confiança nos jovens
A confiança numa nova atitude em relação à Criação vem dos movimentos juvenis – afirma por fim o Santo Padre –, como o que foi criado por Greta Thunberg: “Vi um cartaz deles que me impressionou: ‘O futuro somos nós!’”. Significa promover uma atenção às pequenas coisas diárias que “incidem” na cultura “porque se trata de ações concretas”.