Sobre os jovens na África
A África é um continente jovem, tem uma vida jovem, se a compararmos com a Europa, e vou repetir o que disse em Estrasburgo: a mãe Europa quase se tornou “avó Europa”. Envelheceu, estamos vivendo um inverno demográfico muito grave na Europa. Li – não me recordo de que país, mas trata-se de uma estatística oficial do governo – que em 2050 naquele país haverá mais aposentados do que pessoas que trabalham, e isso é trágico. Qual é a origem deste envelhecimento da Europa? Eu, é uma opinião pessoal, penso que o bem-estar está na raiz. Agarrar-se ao bem-estar – “Mas, nós estamos bem, eu não tenho filhos porque tenho de comprar uma casa, tenho que fazer turismo, estou bem assim, um filho é um risco, nunca se sabe…”.
A gratuidade do sistema educativo: é importante porque existem centros educativos de alto nível, mas a pagamento.
Bem-estar e tranquilidade, mas é um estar bem que o leva a envelhecer. Em vez disso, a África está cheia de vida. Encontrei na África um gesto que tinha encontrado nas Filipinas e em Cartagena, Colômbia. As pessoas que levantavam as crianças como se dissessem “este é o meu tesouro, esta é a minha vitória, o meu orgulho”. É o tesouro dos pobres, a criança. Mas é também o tesouro de uma pátria, de um país. Eu vi o mesmo gesto na Europa Oriental, em Iasci, especialmente aquela avó que mostrava a criança: este é o meu triunfo…
Vocês têm o desafio de educar esses jovens e fazer leis para esses jovens, a educação neste momento é uma prioridade no seu país. É uma prioridade que se cresça tendo leis sobre a educação. O primeiro-ministro de Maurício falou comigo a este respeito. Ele disse que tinha em mente o desafio de fazer crescer o sistema de educação gratuito para todos. A gratuidade do sistema educativo: é importante porque existem centros educativos de alto nível, mas a pagamento. Existem centros educativos em todos os países, mas é preciso multiplicá-los para que a educação chegue a todos. As leis sobre a instrução e a saúde neste momento são a prioridade ali.
Responsabilidade de educar os filhos
A família certamente tem a responsabilidade da educação dos filhos. Foi emocionante como os jovens de Madagascar se expressaram, vimos isso também em Maurício e também com os jovens de Moçambique do encontro inter-religioso pela paz. Dar valores aos jovens, fazê-los crescer. Em Madagascar, o problema da família está ligado ao problema da pobreza, à falta de trabalho e muitas vezes também à exploração do trabalho.
Para uma família ter um filho é um tesouro. E vocês têm essa consciência, têm a consciência do tesouro. Mas agora é necessário que toda a sociedade tenha consciência de fazer crescer este tesouro
Por exemplo, na pedreira de granito os trabalhadores ganham um dólar e meio por dia… São fundamentais as leis que protegem o trabalho e a família. E também os valores familiares, que existem, mas são muitas vezes destruídos pela pobreza: não os valores, mas a capacidade de transmiti-los e de continuar a educação dos jovens. Vimos em Madagascar a obra de Akamasoa, o trabalho que se faz com os pequenos para que possam crescer em uma família que não é a natural, sim, mas é a única possibilidade.
Ontem em Maurício, depois da Missa, encontrei monsenhor Rueda com um policial, alto, grande, segurando uma criança pela mão, tinha mais ou menos dois anos. Ela se perdeu e chorava porque não se conseguia encontrar os pais. Tinham sido dado o anúncio e enquanto isso o policial a acariciava e ali eu vi (entendi) o drama de tantas crianças e jovens que por acaso perdem seus laços familiares apesar de viverem em uma família – neste caso foi apenas um acidente. É também o papel do Estado protegê-las e levá-las adiante.
O Estado deve cuidar da família, dos jovens. E é dever do Estado de levá-los adiante. Então, repito, para uma família ter um filho é um tesouro. E vocês têm essa consciência, têm a consciência do tesouro. Mas agora é necessário que toda a sociedade tenha consciência de fazer crescer este tesouro, de fazer crescer o país, de fazer crescer a pátria, de fazer crescer os valores que darão soberania à pátria. Uma coisa sobre as crianças que me impressionou nos três países é que as pessoas me saudavam. Havia também crianças pequenas que também saudavam, estavam muito alegres.