Ouvia falar muito da Comunidade Católica Shalom em minha casa, por causa da minha irmã, Edna Borges, que também é da Comunidade de Aliança (assim como o meu cunhado, e ambos com promessas definitivas no carisma). Achava minha irmã ausente, porque vivia “enfurnada” nessa tal Comunidade. Às vezes, a chamava para ir aos lugares, mas ela só me dizia não, e adivinhem o por quê?
A minha rejeição pela Comunidade surgiu por essa razão, e ainda dizia para ela que quando morresse alguém ou algum parente, que ela não poderia ir, porque estaria no Shalom. Eu a chamava de beata, carola, fanática (e ainda assim, ela permaneceu intercedendo por mim), que jamais queria ser como ela… Estava preparada para contestar tudo o que ela viesse me dizer…
Eu tinha uma mentalidade extremamente relativista, mas no meu interior, sentia uma angústia imensa, por não achar a verdade absoluta, e me questionava… Meu Deus, é isso mesmo? Não existe verdade? A verdade é relativa, conforme o entendimento de cada um?
Me afastei da Igreja e estava no mundo
Mesmo tendo sido criada na fé por minha avó, que foi a minha primeira catequista, e tendo em dia os sacramentos (exceto o do matrimônio), por conta da minha mentalidade, me afastei da Igreja e estava imersa no mundo.
Engravidei aos 19 anos, tive a minha primeira filha (Rafaela), fruto de um relacionamento de 10 anos, dele também foi gerado o Gabriel, meu filho mais novo, que hoje está com 14 anos.
Durante todo esse período, fiquei afastada da Eucaristia. Era muito cobrada pela minha avó e meus pais para ir à Igreja, porém, a minha consciência dizia que eu deveria ir, mas eu não sentia vontade, e falava isso para Deus… Sempre as mesmas músicas, eu não sentia vida na missa, mesmo sabendo da importância da eucaristia, e achava que devia ir movida pelo coração e não por imposição.
E isso gerava dentro de mim uma grande inquietação, até mesmo porque eu morava em uma casa atrás da paróquia e ouvia as minhas irmãs cantando na missa, sabia que toda a minha família estava lá, mas não queria ir.
Sentia também no meu coração um desejo de cantar na Igreja, e nunca partilhei isso com ninguém, nem mesmo, pedi a Deus. Até mesmo por ser um contratestemunho, porque na época eu não tinha o sacramento do matrimônio (hoje providencialmente, sou responsável pelos casamentos na missão.)
O início do caminho de conversão
Minha conversão iniciou com a minha separação, período em que eu sofri muito… Época que voltei para a casa dos meus pais com meus dois filhos. E a minha irmã aproveitou essa “deixa” de Nosso Senhor e me levou para a Comunidade em um jantar e rezaram por mim (Carolina Lopes).
Na oração fiquei desconfiada, quando as moções eram proclamadas, eu abria um olho e pensava (a Edna contou pra ela). Até a pessoa proclamar algo que era muito pessoal, que ninguém sabia…
Ingresso no Ministério
Então a minha irmã disse que eu cantava e o corajoso (porque não tinha me ouvido cantar e acreditou…) coordenador do ministério e do Projeto Artes na Época (Erlisson Galvão), me convidou para participar do Ministério de Música.
Daí a minha vida mudou! Passei a ter uma experiência com o absoluto, conheci a verdade e ganhei um novo sentido de vida. Comecei a ir nas missas na Comunidade aos domingos, e via a beleza nos cantos e a alegria na celebração, tudo me encantava, exceto a oração em línguas que eu estranhava e ainda dizia para a minha irmã “parece igreja evangélica, pentecostal, né?!”
Entrei para um grupo de oração e ingressando no ministério eu tinha que estar na missa todo domingo e ia com muita alegria. Eu tinha um grupo de oração para beber, tinha um ministério, onde a cada missão eu vivia uma experiência, fiz o Seminário de Vida no Espírito Santo, estava feliz na obra…
Pensei que eu tinha sido feita para ela e que por lá eu permaneceria… Eu pensava “Pra que fazer votos, me comprometer?” Eu achava que a obra era o meu lugar… Quando dei por mim, depois de 04 anos na obra, ingressei na Comunidade… Seduzida pelo Senhor.
No início, a experiência que eu tive foi tão forte, que eu queria me doar e me doava incansavelmente em tudo, no próprio ministério de música, no ministério de dança, nos musicais. As artes na Comunidade me atraiam muito, pela questão da profissionalização e a profundidade.
Resgate da dignidade perdida
Senti que o Senhor atendia os anseios mais profundos do meu coração e ao mesmo tempo, me curava, no cantar e também no dançar. Vivi e (ainda vivo) experiências maravilhosas pelas quais o Senhor no seu amor, resgatava a minha dignidade perdida, por mim mesma, diante das escolhas que fiz e do mau uso da minha liberdade. Acho que uma das maiores lições foi aprender a desejar o melhor para Deus, mesmo que o melhor não seja eu, a contemplar a beleza da diversidade de dons, cada voz, cada canto, cada tocar.
Contemplo também a fidelidade de Deus que muitas vezes me surpreendeu com coisas que jamais pensei que fosse fazer experiências e que jamais pensei que fosse viver. A graça também de permanecer, mesmo em meio aos desafios, como o de ser muito comparada com a minha irmã, que por graça de Deus canta muito bem! Por Deus que me fez entender que tenho uma missão que é do desejo Dele, movida por Ele e para Ele.
Muitas vezes durante a Santa Missa, eu olho para o altar (ficamos posicionados próximo do presbitério) e me recordo que eu, por minha vontade estive longe, mas que o Senhor sempre me quis ali, bem perto Dele.
Nesse ministério o Senhor me forma, consola, exorta, dá sentido à minha vida, me faz instrumento. Não sei por mais quanto tempo nele permanecerei, mas sei que ele foi e ainda permanece sendo essa via de conversão na minha vida.
Entrei para o Ministério de Música em 2006, ano em que me aproximei da Comunidade que eu tanto odiava (risos) e estou até os dias de hoje, e ainda estou como núcleo.
Denise Borges, 41 anos, Consagrada da Comunidade de Aliança no Shalom Santo Amaro