Análise das Obras

A genialidade de J. R. R. Tolkien revela-se facilmente em suas obras literárias, mas nelas há muito mais que criatividade.

Além da diversão para os leitores e para o publico do cinema, o Hobbit e O Senhor dos Anéis escondem tesouros por trás de simbolismos, metáforas e arquétipos.

A análise das obras revela a vida e a fé de um dos autores mais lidos do século XX a até o momento. Neste especial, reunimos um pouco do que você encontra no livro Os Mistérios da Terra Média.

Por onde começar?

O primeiro livro lançado cujo enredo se passa na Terra Média foi o Hobbit. Esse livro é a melhor introdução ao mundo subcriado de Tolkien, pois apresenta uma leitura leve e divertida, além de ter tudo aquilo que, posteriormente, seria expandido nas outras obras.

Ele é excelente para ambientar o leitor no vasto mundo de Arda. Em seguida, como leitura consequente, deve-se partir para a fantástica jornada de O Senhor dos Anéis. Essa leitura fica excitante a cada ligação que o leitor faz entre as obras. 

Plano de fundo da trilogia

Apesar de conter as histórias dos tempos antigos e explicações valiosas, a leitura de O Silmarillion é mais apropriada neste nível, pois além de a leitura ser mais densa, lê-lo antes de O Senhor dos Anéis, tira um pouco do encanto, pois como no livro (Silmarillion) estão contidas todas as lendas antigas, é como receber spoilers do misterioso plano de fundo da trilogia.

A partir daqui, o próximo passo é a leitura dos Contos inacabados. Como o título diz, trata-se de histórias que não foram terminadas, mas que ajudam a completar aquelas dos livros anteriores.

Depois, o leitor ainda terá um vasto leque de leituras com opções como: Beren e Lúthien, As aventuras de Tom Bombadil, Mestre Gil de Ham, Árvore e folha, Os filhos de Húrin

Ler o livro ou ver o filme?

No entanto, para aqueles que não tiveram nenhum contato com a obra, não creio ser mais adequado começar pelos filmes, pois mesmo sendo obras magníficas e muito premiadas, não são capazes de contemplar toda a magnitude relatada nos livros, o que pode gerar certo desânimo, por não vislumbrarem cenas ou mesmo alguns personagens marcantes da história.

Apesar de ter uma leitura bem acessível, o livro Os Mistérios da Terra Média será mais bem apreciado pelos leitores que conhecerem ao menos O Hobbit e O Senhor dos Anéis. Agora que você já está com essas orientações em mãos, resta deixar a toca e se aventurar.

Maria Delci de Oliveira Xavier

Exult da Terra Média

Exultem os hobbits e os elfos triunfantes

Anões e homens desçam cantando

Gandalf faça soar seus fogos fulgurantes 

A vitória do bem anunciando 

Alegre-se também a Terra-média 

Uma grande Eucatástrofe acontece 

E vendo dissipar-se o anel antigo 

No alto da montanha, lançado no lago de fogo, desaparece

Hoje a Paz retorna ao Condado

Foi destruída a ambição do anel

Por dois hobbits pelo destino esperados 

Com valentia fizeram seu papel

Eucatástrofe, tu trazes sentido novo

Para todo aquele que não tinha mais esperança 

De forma extraordinária acontece

Aquilo que ficará para sempre na lembrança

Pablo Barbosa Bueno

Tolkien, um católico fiel à Igreja

Sempre que lermos uma obra, seja qual for sua natureza, devemos levar em conta o autor, e, ao menos em linhas gerais, sua visão de mundo, contexto social, época, além de outros fatores que nos ajudem a ter uma real contextualização do que se passava durante a produção do livro.

Ao ler Tolkien, devemos, sem dúvida, lembrar que ele viveu como um católico fiel à Igreja e que a teologia, a tradição oral e bíblica lhe povoavam o imaginário e a memória.

Reli A sociedade do Anel, na semana litúrgica em que, providentemente, se lia sobre Abraão, e mais especificamente sobre a oferta que ele fez de Isaac, no monte Moriá. Moria! Apenas um acento, não pode ser coincidência. Claro que não é!

Ora, lá se ofereceu Gandalf, o único que de fato conhecia os problemas das minas, mas a decisão foi tomada pelo que carregava o Anel. Ele decidiu qual caminho percorrer para adentrar a mina. Então, toda a companhia do Anel, impedida pela neve, precisou ir por baixo, onde antes fora um palácio dos anões, cheio de glória e de riquezas.

Gimli fala tão empolgado dos salões de lá, de seus tesouros, pois “onde está teu tesouro, ali estará o teu coração” (Mt 6,21), que poderíamos, então, chamar as minas de Moria de Coração? Ao tomar essa analogia para essa reflexão, podemos encontrar algumas pistas que ajudem a aceitá-la.

Gandalf, representação de Cristo Messias

Amigo: a palavra que abre o coração. “Mas tu, Israel, meu servo. Jacó que escolhi, raça de Abraão, meu amigo” (Is 41,8). Mais uma vez podemos relacionar a estória com Abraão, reforçando a comparação. Tão logo o Mago abre a porta, uma terrível criatura trata de impedir que ele e seus companheiros entrem na mina.

Gandalf é uma representação de Cristo Messias, como podemos ler no livro Os Mistérios da Terra Média, assim como, na parábola do semeador (Mc 4,1-20; Mt 13,1-23 e Lc 8,4-15), apenas a Palavra encontra um coração, já lhe aparecem aves para comer as sementes e impedirem-nas de germinar.

Ao entrar no lugar que deveria ser acolhedor para o Senhor, encontra-se um espaço vazio, o coração vazio do homem que não vive de amor. Ao entrar em muitos corações, Jesus os encontra “vazios”, mas infelizmente não estão tão solitários assim. Estão, na verdade, cheios das riquezas do mundo.

A parábola fala também de terra rasa, como os anões derrotados pelos orcs e trolls, como também os menores pecados veniais, que vão matando nossa capacidade de amar. Até encontrar o Balrog, o pecado mortal, de quem os menores têm medo.

Combate contra o pecado mortal

A luta contra os veniais até consegue se dar com recursos que eles têm, ou melhor, as capacidades naturais daqueles que enfrentam tais perigos não são totalmente inúteis contra eles, mas o auxílio da graça, em Gandalf, Frodo e Aragorn, é essencial, bem representado na camisa de Mithril do Hobbit e no conhecimento do Maia.

Quando vamos ao combate contra o pecado mortal, não há Mithril que supere seus ataques. Podemos encontrar inúmeros santos na Tradição da Igreja, como São Pio de Pietrelcina e São Felipe Neri, explicando que só há um jeito de vencer o pecado mortal: fugindo dele, para que o próprio Jesus o vença. É tudo que a Sociedade do Anel pode fazer, exceto um, Gandalf.

O combate de forças tão poderosas é terrível, leva à morte. Assim como no mistério Pascal de Cristo, para vencer o domínio do pecado sobre nós, Ele o combateu, até a morte de ambos. Mas Jesus Ressuscitou, tal qual Gandalf, assim como um anjo apareceu para poupar Isaac, providenciando um sacrifício.

O coração do homem

Ainda insisto um pouco mais na metáfora, ao falar dos chifres do Balrog, característica ressaltada do carneiro que Abraão encontrou. Ele foi sacrificado no cume de Moria, não o mestre.

Logo, Jesus entra em nosso coração como um amigo, pois Ele é convidado a entrar. Porém, muito do que há fora e dentro dos corações tenta impedi-Lo, mas Ele é mais forte que tudo isso, se permitimos que Ele prossiga até nossa maior profundeza e fizermos o possível para colaborar com Sua obra.

Assim, percebemos que, quando Tolkien cria Moriá, ele quer falar do coração do homem, no qual se vive o sacrifício da oferta, como também os laços da amizade, em que se encontra o tesouro.

Não entendeu as referências? Seguem algumas leituras para embasar: Gênesis 22, Marcos 4,1-20 e os capítulos “Uma jornada no escuro” e “A ponte de Khazâd-dûm” em “A sociedade do Anel”, primeiro volume de O Senhor dos Anéis. E, claro, o livro Os mistérios da Terra-média para muitas outras reflexões como esta.

Elton Moura

Os Mistérios da Terra Média

Para desvendar o significado dos mistérios escondidos na obra de J. R. R. Tolkien, a JP2 lança Os Mistérios da Terra-Média. A genialidade de Tolkien revela-se em suas obras literárias, mas nelas há muito mais que criatividade.

Além da diversão, O Hobbit e O Senhor dos Anéis escondem tesouros por trás de simbolismos, metáforas e arquétipos. A análise das obras revela a vida e a fé de um dos autores mais lidos do século XX e até o momento.

Os Mistérios da Terra-Média tem por base a produção do jornalista italiano e escritor, Andrea Monda, L’Anello e la Croce, o trabalho do biógrafo de Tolkien, Humphrey Carpenter, e de outros estudiosos, como Colin Duriez e Diego Klautau.

Também foi fruto de diversas contribuições nos Cafés Filosóficos sobre Tolkien nos anos de 2014 e 2015 em Natal (RN), além dos cursos e workshops ministrados em diversas partes do Brasil nestes quatro últimos anos. Organizado por Cassiano Rocha Azevedo, o livro reúne contribuições dos trabalhos desenvolvidos por todos.

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Edição: Jonas Viana | Textos: Maria Delci de Oliveira Xavier, Pablo Barbosa Bueno e Elton Moura | Design: Edições Shalom | Layout de Página: Jonas Viana.