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Desde a minha infância, o Senhor me conduziu a Ele

Hoje, na feliz expectativa de um dia realizar meus votos perpétuos, sou plenamente feliz e apaixonado por Deus, pela Comunidade, pelos jovens e por todos os outros estado de vida, pois assim me sinto completo e realizado como celibatário.

comshalom

Meu nome é Ramon Guedes, tenho 31 anos, sou natural de Salvador (BA),  consagrado e missionário da Comunidade de Vida na Comunidade Católica Shalom, atualmente na missão de Natal (RN). Gostaria de testemunhar um pouco da minha experiência em relação ao meu chamado como celibatário.

Um amor compassivo

Começo contando um pouco a minha trajetória desde criança, pois desde a minha infância o Senhor me conduziu a Ele. Já neste período fui atraído, seduzido pela cruz e pela compaixão, quando ia com minha família às procissões da Semana Santa e me deparava com a imagem do Senhor morto. Sentia compaixão por aquele Homem que havia sofrido e morrido por todos nós, assim, fui ensinado por minha família.

Fui crescendo e também foi crescendo em mim essa compaixão ao olhar os pobres nas ruas ao ver a dor daqueles homens e mulheres que sofriam sem o Amor, que sofriam sem Cristo. O meu amor por Jesus crescia sempre mais,  e  ainda sem entender tudo, eu via o rosto de Cristo na pessoa do pobre e do sofredor.

Uma experiência concreta

Me recordo de um fato na ocasião da celebração dos 30 anos da Comunidade ocorrido em uma sorveteria na orla de Fortaleza (CE). Logo na entrada da sorveteria, me deparei com uma criança que estava com a sua mãe e seu irmão.

A criança estava coberta por feridas. Sem pensar muito, fui ao encontro daquela criança e a carreguei no colo, tentava segurar da melhor maneira para não machucar as feridas do seu corpo, afinal eram muitas.

Ao carregar aquela criança, tive a experiência de sentir aquela dor e o seu sofrimento em minha própria carne. Logo  depois, quando fui tomar um sorvete, fiquei extremamente questionado com aquela situação que acabara de ocorrer e Deus continuava me atraindo por meio daquilo.

Sensibilidade a Cristo que sofre no outro

Ainda nas ocasiões do dia-a-dia, muitas foram as vezes que entreguei aos pobres a marmita de comida que minha mãe havia preparado para que eu levasse para o trabalho. Ao recordar desse fato, lembro-me de quantas vezes minha mãe me disse: “Ramon, quantas vasilhas ainda irei perder?” e eu então respondia: “Enquanto Deus colocar os pobres em meu caminho!”. 

Nestas situações, sentia o quanto Deus ia me fazendo sensível a dor da humanidade.

Lembro-me de outra vez, quando estava com alguns amigos do Shalom no bairro do Rio Vermelho, e vi uma mulher se jogar na frente dos carros. Eu saí correndo em seguida, fui ao seu encontro e ali, com todo aquele barulho de buzinas, faróis altos, eu não me importava com o que estava acontecendo ao meu redor: naquele momento toda a minha atenção se voltou para ela.

O discernimento do Estado de Vida

Na medida em que eu ia crescendo, ia vivendo novas experiências que contribuíram para o discernimento do meu estado de vida. Na minha adolescência e na fase adulta, namorei algumas vezes, e em todos os relacionamentos, fui feliz, mas meu coração se inquietava, pois me sentia invadido e sem privacidade, percebia que era algo que não me fazia COMPLETO e PLENAMENTE FELIZ.

Minha mãe, que acompanhava os meus relacionamentos de perto, dizia algumas vezes: “Acho que Deus não te fez para casar e ter uma família, sinto que Ele quer algo diferente para você!”.

Eu e Deus: um só

Aqui entra uma nova etapa da minha vida que eu a chamo de INTEGRAÇÃO DAS OFERTAS. Neste tempo, Deus foi me tirando muitas coisas e muitas falsas seguranças. Em um período de 1 ano e 2 meses, perdi 5 pessoas da minha família.

Com tudo isso, Deus ia me fazendo amadurecer na dor e no amor. Ele me fez colocar o meu olhar no eterno, no céu, me fez entender que tudo passa, que as pessoas passam e que em meio a dor e ao sofrimento, só Ele permanece.

Fui aprendendo a depender mais de Deus e ficando mais unido a Ele. Tive a experiência de viver na minha carne a dor e a falta de sentido do mundo, pois tudo foi perdendo o seu brilho, tudo era tristeza, sofrimento e solidão.

A divina providência que tudo prepara

Em meio a este tempo difícil, houve uma intervenção divina em minha vida: em 2011, por ocasião do Congresso de Jovens Shalom de Fortaleza (CE), que tinha como tema “Enraizados e edificados por Cristo, firmes na fé”, eu tive a oportunidade de voltar o meu olhar novamente para Deus por meio da Comunidade, já que havia feito o meu primeiro Seminário de Vida no Espírito Santo em 2002 na cidade de Salvador (BA).

O Senhor teve paciência, afinal Ele me esperou por 9 anos, como o filho que retorna à casa do Pai, então a partir dali, eu sabia que havia de fato encontrado o sentido para as minhas dores e sofrimentos. Eu me encontrei comigo mesmo.

Homem velho x Homem novo

No ano seguinte ao Congresso, decidi dar uma chance a Deus e com os meus pastores, discerni o meu ingresso no vocacional de 2012. Trilhei este caminho com fidelidade até o aprofundamento, porém prestes a ir para o retiro final, decidi abandonar tudo, porque Deus me chamava à Comunidade de Vida.

Assim como o jovem rico tinha medo de deixar tudo e ser triste, decidi também ir embora, já que ainda não amava o Senhor acima de tudo em minha vida.

Uma nova chance

Entretanto, o Senhor em Sua insistência, mais uma vez foi ao meu encontro, e assim eu decidi ir ao retiro de Semana Santa no ano seguinte. Lá eu pude perceber que não havia felicidade fora da vontade de Deus. Motivado por isso, fiz um novo ano vocacional, e dessa vez tive a coragem de ir até o fim. 

Neste outro ano vocacional, fiz grandes descobertas na beleza que é o Carisma e a vontade de Deus. Ao longo do tempo, ela foi se tornando cada vez mais clara.

Ao concluir aquele ano, mandei carta manifestando o meu desejo de ingressar na Comunidade. Sendo aceito o meu pedido, ingressei na Comunidade de Vida Shalom no ano de 2014 e fui enviado como Postulante para a missão de Florianópolis (SC).

Já no final do meu discipulado, em Pacajus, tive a certeza de que Deus me chamava ao Celibato pelo Reino dos Céus. E mesmo não sendo o tempo de começar a discernir o estado de vida, Deus me dava grandes sinais, pois Ele me conhecia, e em cada detalhe ia se tornando mais clara a Sua pressa para que eu abraçasse o estado de vida celibatário.

Um chamado: ser pai de muitos

Ainda no discipulado, no Acampamento de Jovens Shalom, tive uma fortíssima experiência com a paternidade espiritual. Eu estava servindo como ‘pai de barraca’, e durante aqueles dias, pude acompanhar a vida de cada um daqueles jovens. Ali eu pude tocar nas suas diversas feridas e dores.

No final do evento, vários desses jovens me entregaram drogas que haviam levado para consumir no Acampamento.  Pude perceber ali, uma mudança radical na vida de cada um deles. Havia um jovem que iria fazer a primeira comunhão no acampamento, e no dia da missa ele me disse: o meu pai não está aqui comigo, você poderia fazer esse papel entrando comigo na missa?

Entusiasmado e cheio de alegria eu disse sim! E foi ali uma das mais fortes experiências de paternidade que eu tive.

Uma firme decisão

No meu segundo ano de discipulado em Natal (RN), na terra dos mártires, vivendo com toda intensidade as obras e lutas próprias deste tempo, decidi com minhas autoridades participar do retiro de candidatos ao Celibato. Durante o retiro, eu pude, de fato, compreender que Deus realmente me chamava a este estado de vida, pois a cruz continuava com o mesmo brilho de antes.

Os sinais divinos

Aqui vale lembrar um detalhe engraçado: na missa de apresentação dos discípulos, em um domingo, no Shalom do bairro de Petrópolis em Natal (RN), uma criança filha de um casal de irmãos da Comunidade de Vida, estava sentada atrás de mim. Em um determinado momento, ela me perguntou: “tio Ramon, cadê o seu anel?” E eu logo respondi: “Que anel, Silvinha?”, e ela me disse: “aquele anel que tem Jesus Cricificado!”.

Aquilo entrou em meu coração como uma espada, pois se tratando de vir da boca de uma criança tão pura e inocente, entendi aquilo como um grande sinal de Deus. Então pensei, de fato, que só poderia ser mesmo a voz de Deus para mim.

Tribulações que purificam

Tendo encontrado o meu lugar e a minha vocação, por misericórdia de Deus, realizei minhas primeiras promessas como Comunidade de Vida no ano de 2017. A voz de Deus seguia de forma latente e clara, que me chamava a dar novos passos em direção a sua vontade em relação ao celibato.

Comecei então a fazer os retiros mensais em um caminho preparatório para a realização dos primeiros votos de Pobreza, Obediência e Castidade no Celibato pelo Reino. Após alguns meses nesse caminho, me deparei com uma nova realidade. Aqui começou a PROVA DE FOGO, OU PROVA DE AMOR: eu estava apaixonado!

E então começou um tempo de grandes conflitos: comecei a achar que estava tudo ao contrário, pois dali em diante achava que Deus me chamava ao matrimônio. Passei a chamar isso de vontade de Deus, e cada vez mais apaixonado, me vi confuso, por isso resolvi interromper o caminho para os primeiros votos no celibato. Mas, graças a Deus, que em tudo me fez voltar o meu olhar para Ele, e com ajuda das minhas autoridades, pude ir trilhando um caminho de verdade, em meio àquela luta que vivia.

Uma decisão encarnada

Depois de alguns meses rezando muito, fui percebendo que era realmente uma grande prova que Deus havia me inserido, para que eu pudesse dar uma resposta mais concreta e autêntica. Aquela decisão precisava passar pela minha carne e isso fez toda a diferença no meu discernimento.

Então retomei o caminho dos retiros preparatórios para os primeiros votos e fui vivenciando uma experiência nesse tempo baseada não no amor afetivo, mais no amor efetivo, com base na voz que sempre permanecia, e que eu havia escutado. Entendi que Ele havia me chamado a esse estado de vida, então fiz o retiro e escrevi a carta fazendo oficialmente o meu pedido para a Comunidade.

Tendo finalmente enviado a carta, foi iniciado um tempo de espera e purificação, tempo difícil de incompreensões, medos e dúvidas Em meio a tudo isso, passaram-se nove meses (uma gestação!), mas esse período foi muito importante, pois compreendi que Deus precisava me amadurecer na espera e sobretudo, me fazer um homem de Fé.

Um sim definitivo

Tendo chegado a tão esperada resposta, o meu sim e a minha vocação foram autenticados por Deus e pela Comunidade. No dia 18 de Julho de 2018, junto com outros 3 irmãos da Comunidade de Vida, fiz os meus votos de Pobreza, Obediência e Castidade pelo Celibato do Reino dos Céus.

O desejo do para sempre

Hoje, na feliz expectativa de um dia realizar os meus votos perpétuos, sou plenamente feliz e apaixonado por Deus, pela Comunidade, pelos jovens e por todos os outros estado de vida, pois assim me sinto completo e realizado como celibatário.


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