Igreja

Papa: cristãos sem alegria são prisioneiros das formalidades

“A Igreja não irá em frente, o Evangelho não irá em frente com evangelizadores enfadonhos, amargurados”, ressaltou o Papa hoje, em sua homilia.

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Foto: Unsplash

O Papa Francisco celebrou esta manhã (28/01), a missa na capela da Casa Santa Marta. No centro da sua homilia, esteve a alegria de ser cristão.

O Pontífice inspirou-se na Primeira Leitura, extraída do Segundo Livro de Samuel, que narra a festa de Davi e de todo o povo de Israel pelo regresso da Arca da Aliança ao seu lugar, isto é, a Jerusalém.

O povo faz festa porque Deus está próximo

No contexto, a arca tinha sido levada embora, recordou o Papa, e o seu retorno foi “uma grande alegria para o povo”, já que ele sente que Deus lhe está próximo, e exulta.

O rei Davi está com eles, coloca-se à frente da procissão, faz o sacrifício de um boi e de um carneiro a cada seis passos. Com o povo, exulta, canta e dança “com todas as forças”.

“Havia uma festa: a alegria do povo de Deus porque Deus estava com eles. E Davi? Dança. Dança diante do povo, expressa a sua alegria sem sentir vergonha; é a alegria espiritual do encontro com o Senhor: Deus voltou entre nós. E isto nos dá tanta alegria. Davi não pensa que é o rei e que o rei deve ficar distante do povo, a sua majestade – não? -, com a distância… Davi ama o Senhor, está feliz com este evento de conduzir a arca do Senhor. Expressa esta felicidade, esta alegria dançando, e certamente também cantava como todo o povo”, ressalta o Papa.

Francisco afirmou que acontece o mesmo com a gente, de sentir alegria “quando estamos com o Senhor” e às vezes, na paróquia, as pessoas fazem festa. E citou outro episódio da história de Israel, quando foi reencontrado o livro da lei no tempo de Neemias e também ali “o povo chorava de alegria”, continuando a festejar inclusive em casa.  

O desprezo pela espontaneidade da alegria

O texto do profeta Samuel continua descrevendo a volta de Davi para sua casa, onde encontra uma das mulheres, Micol, a filha de Saul. Ela o acolhe com desprezo. Vendo o rei dançar, sentiu vergonha dele e o repreendeu dizendo: “Mas não sente vergonha dançando como um vulgar, como alguém do povo?”.

É o desprezo da religiosidade requintada pela espontaneidade da alegria com o Senhor. E Davi explica para ela: “Mas veja, isso foi motivo de alegria. Alegria no Senhor, porque trouxemos a arca para casa!”. Mesmo assim, a mulher despreza. E diz a Bíblia que essa senhora – que se chamava Micol – não teve filhos por isso. O Senhor a puniu. “Quando falta a alegria em um cristão, esse cristão não é fecundo; quando falta a alegria em nosso coração, não há fecundidade”, lembra Francisco.

A necessidade de evangelizadores alegres

O Papa Francisco observa então que a festa não se expressa apenas espiritualmente, mas se torna partilha. Davi, naquele dia, após a bênção, havia distribuído um pão de forno para cada um, uma porção de carne assada e torta de uvas, para que cada pessoa festejasse em sua própria casa.

“A Palavra de Deus não se envergonha da festa”, afirma Francisco. E recorda então que São Paulo VI em sua Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, fala desse aspecto e exorta à alegria. 

Festejar sem se envergonhar

O Papa concluiu a sua homilia com o seguinte pensamento:

“A Igreja não irá em frente, o Evangelho não irá em frente com evangelizadores enfadonhos, amargurados. Não. Somente irá em frente com evangelizadores alegres e cheios de vida. A alegria no receber a Palavra de Deus, a alegria de sermos cristãos, a alegria de seguir em frente, a capacidade de festejar sem se envergonhar e de não ser como esta senhora, Micol, cristãos formais, cristãos prisioneiros das formalidades.”


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