Podemos dizer que os santos se preparavam para a Quaresma através do jejum, da penitência, da esmola, da reflexão da ida de Jesus para o deserto, lá onde Ele sentiu fome, sede, calor, cansaço e foi tentado pelo demônio que se aproveita do contexto que aparentemente fragiliza um homem para forjar Jesus, induzindo-o a aparente confiança no poder, prazer e possuir no lugar da absoluta união com a vontade do Pai.
Jesus vence o poder pela humildade de “não tentar o Senhor teu Deus”.O possuir pela fidelidade ao Deus único, “adorarás somente o Senhor teu Deus e a nenhum outro”. O prazer pelo sóbrio equilíbrio da Palavra de Deus. Podemos nos lembrar aqui de Santa Teresa d’Ávila que na semana santa vê Jesus Crucificado e é fortemente tocada e transformada interiormente.
Sabemos que o fruto da Quaresma é a ressurreição, então a preparação da Páscoa é justamente a boa vivência da Quaresma… as penitências, desafios, provações, purificações desse tempo geram em nós um novo coração, uma nova postura diante das realidades que nos cercam e às vezes nos confundem, nos tentam… Não entramos no deserto porque somos masoquistas. Não! Entramos no deserto porque cremos que ao atravessá-lo imediatamente tomaremos posse da Terra Prometida, da Ressurreição, da Páscoa, da vida eterna que já começa aqui na terra. É no deserto junto com Jesus que vamos aprender a lutar não com nossas forças físicas ou psíquicas, mas com essas potências submetidas ao seu Criador: Deus.
O pecado nos gera insegurança e nos leva a querer prevalecer muitas vezes com a nossa própria justiça, com a justiça do poder, do prazer, do possuir que é centrada no imediatismo, que nos rouba a capacidade de reflexão da verdade, da verdadeira justiça que é contemplada pela fé, esperança e caridade. A purificação da Quaresma reaviva as nossas consciências, reordena as nossas paixões e assim somos introduzidos numa maior intimidade com Deus e isso é ressurreição, Páscoa!
Então, como os santos se preparavam para as festas litúrgicas? Todos os tempos litúrgicos são propostos pela Igreja para nos unirmos a cada ano litúrgico, cada vez mais íntimos de Deus. E um caminho excelente para isso, além claro da observância própria de cada tempo, é entrarmos na terna escola de Maria. Os santos habitavam e habitam na santa casada Mãe Igreja, harmonizada pela sagrada Liturgia, uma hierarquia riquíssima de valores que nos falam e revelam os mistérios de Deus.
Essa mesma Igreja hierárquica que nos convida a trilharmos um previsível caminho litúrgico é enriquecida pela sua face carismática, cujo modelo é Maria. A Igreja nos confia a Maria Ela que gerou em seu ventre pela ação do espírito a fonte da Liturgia, Cristo. Unidos a ela, Santa por excelência, “conservando cada acontecimento em nossos corações” e “fazendo tudo o que Ele nos disser”, não só estaremos nos preparando bem como os santos para os Tempos Litúrgicos, mas, mais que isso, estaremos sendo divinamente preparados por Aquele que tanto nos ama e que é o princípio e o fim de toda Liturgia.
Erika Leite