Quem imaginaria que muitos de nós viveríamos a Quaresma deste ano de 2020 desta forma, em nossas casas, sem podermos ir às missas, abraçarmos aqueles que amamos, visitarmos os vizinhos, irmos ao local de trabalho, viajarmos, em virtude de algo invisível que assola a humanidade neste tempo. Assim o Senhor permitiu!
Um convite a peregrinação estamos vivendo neste tempo. Como assim? Sair de casa, com tantos pedidos opostos pelos governantes? Uma peregrinação! Isto mesmo!
Calma! Desta vez, faremos uma viagem diferente, para dentro de nós mesmos, sem duas túnicas, apenas, meu coração, unido ao coração do Senhor. Mas, com qual finalidade mesmo?
Espera aí! Não tem sido fácil ficar em casa neste tempo, né? Uns sozinhos, outros não.
Jesus também ficou sozinho durante quarenta dias, lembra? Ele permaneceu no deserto, em oração, unido ao Pai, em silêncio.
E o que o silêncio quer nos ensinar? O que este permanecer em casa durante a Quaresma quer nos revelar? E esta aventura da peregrinação interior? Penso que esta obra é mais profunda do que imaginamos!
Observar o “detalhe” do coronavírus
Comecemos por observar o “detalhe” do coronavírus. Ele é um ser vivo, invisível, que a depender de quem o contrai, torna-se fatal! Não terá outra chance para sobreviver. A pessoa o transmite a outras pessoas. E daí, diante desta realidade, quais têm sido as orientações com relação aos cuidados para sua contenção? Lave as mãos; não toque nos seus olhos, nariz, boca; coloque o cotovelo sobre a boca quando vai tossir; e, fique isolado.
Dando uns passos nesta viagem ao nosso coração, podemos fazer um paralelo com a nossa vida de santidade e o combate espiritual, que “não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do Mal, que povoam as regiões celestiais.” (Ef. 6,12)
O bem e o mal, a vida e a morte!
Pouco tem se falado sobre pecado, e, falar do demônio, Deus me livre! Ele nem é mais lembrado por muitos líderes religiosos, e está aí, como o coronavírus, roubando, matando e destruindo os filhos de Deus, inclusive nos fazendo utilizar dos membros do nosso corpo para a infecção com as suas obras, também as do mundo, por meio de brechas que vamos abrindo através de permissões a atitudes contrárias ao Evangelho.
Sério isso, Maria Isabel? Seríssimo! Lembra-se de quando a serpente apareceu à Eva e lhe sugeriu que comesse do fruto envenenado? Então! Por aquela passagem bíblica podemos perceber que naquele episódio, os seus olhos viram o fruto, o demônio, que gerou no seu interior o desejo de comê-lo; ela se utilizou da sua boca e língua para conversar com quem não deveria; e, ouviu o que não precisava, ou seja, deu mole para o cão!
Não somos diferentes dela! Hoje em dia, temos ao nosso alcance o bem e o mal, a vida e a morte!
Mais do que nunca, os meios de comunicação têm sido utilizados para nos aproximar do Reino de Deus, a exemplo, a transmissão da Santa Missa, do Santo Terço, as orações, as pregações, as adorações, enfim, nunca estivemos tão munidos de armas espirituais para lutarmos neste tempo de desafios, provações, mesmo em casa.
Daí, a pergunta que não quer calar. Quais são nossas opções diante dos manjares oferecidos pelo mundo, pelo demônio? Estou escutando assuntos indevidos? Estou falando o que não devo? Estou tocando em algo que me levará ao pecado? Estou usando minhas mãos para praticar a corrupção? Estou usando os meus olhos para ver materiais impuros que ferirão o coração de Deus? Estou usando os membros do meu corpo como instrumentos da morte, abrindo brechas para me afastar de Deus, assim como Adão e Eva fizeram?
Então! Os membros do nosso corpo, já dizia São Paulo em Romanos 6,19, devem ser entregues a serviço da justiça para a santificação. Portanto, este tempo é favorável para refletirmos sobre o que temos feito, se agrada ou desagrada o coração de Deus, se nos leva a ser quem Deus pensou e criou, se estamos sendo um veículo transmissor da paz, ou da guerra.
Nossos membros para a santidade
Aqui quero dar um rápido testemunho sobre utilizar nossos membros para a santidade ou não. Quem me conhece de perto sabe que eu sou uma pessoa falante, e fui percebendo com o tempo, que quando algumas pessoas conversavam comigo, elas afirmavam: “porque conversei com fulano, que gosta de conversar muito, igual a você, Isabel”. Não foi uma, nem duas pessoas, que disseram isso.
Daí, comecei a me observar mais, e senti o desejo de silenciar, falar menos, fugir de situações que me levariam a pecar por meio das palavras, e, decidi, durante o ano de 2019, falar menos. Confesso que foi algo extraordinário! Como fruto desta postura, pude enxergar sob a luz do Espírito, muitos pecados que antes não via, por causa do barulho externo provocado por mim, e pedir a Deus a graça de lutar contra eles, e de me relacionar com o Senhor com mais profundidade, sem medo.
E você? Teria algo que pudesse fazer nesta Quaresma para se aproximar mais do Senhor? Nossa! Mas já estamos quase na Páscoa? Ainda dá tempo de começar esta jornada! Basta você querer e agir, contando mais do que nunca com o auxílio do Espírito Santo.
Sei que a atitude de olhar para dentro de si requer coragem, renúncia e disposição.
Coragem, porque temos uma visão limitada de nós mesmos, e se nos dispusermos a fazer isso, precisaremos nos encontrar com as nossas limitações, e às vezes, não queremos isso.
A renúncia se dará à medida que eu me deixar podar pelo Senhor, renunciando aquilo que é velho, aquilo que pode até ser bom, mas que não dá fruto.
Vixe! Ser podado?
Vai doer, mas será para a minha santificação porque “antes, como é santo aquele que vos chamou, tomai-vos também vós santos em todo o vosso comportamento, porque está escrito: Sede santos, porque eu sou santo. E se chamais Pai aquele que com imparcialidade julga a cada um de acordo com as suas obras, portai-vos com temor durante o tempo do vosso exílio. Pois sabeis que não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro sem defeitos e sem mácula, conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado, no fim dos tempos, por causa de vós. Por ele, vós crestes em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, de modo que a vossa fé e a vossa esperança estivessem postas em Deus”, nos moldes do que me diz 1Pd, 15-16. Aqui entra a disposição de se abaixar, se humilhar diante do Senhor, e a cada dia, contar com a graça do Espírito para ser quem Deus me criou para ser.
Por fim, diante destas reflexões e do paralelo que fizemos acima, não poderia deixar de falar em um elemento que não poderemos jamais deixar de levar nesta peregrinação interior, o álcool em gel, 70%. O que? Sim, não é ele que limpa e mata tudo?
Para nós, cristãos, o álcool em gel é a fé. Fé que não estamos sozinhos neste percurso, que Deus é nosso Pai, que Ele nos dará as forças necessárias para vencermos o vírus da indiferença ao seu Amor, que ele se dará a nós neste tempo e nos fará sermos ainda mais santos, porque será com o escudo da fé que poderemos extinguir os apagados os dardos inflamados do maligno. (Ef. 6, 17)
Por fim, pós o término desta provação, temos a certeza que Ele completará a obra nova iniciada em nossas vidas, afinal, “Não olhamos para as coisas que se vêem, mas para as que não se vêem; pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno.” (2 Cor. 3,18)
Não tenhamos medo desta libertadora e santificadora viagem! Vamos juntos!
Por Maria Isabel Rodrigues